Folha de S.Paulo

Copom reduz juros para 4,25% e não prevê novos cortes

Banco Central mostra preocupaçã­o com inflação em 2021, quando a Selic pode voltar a subir novamente

- Eduardo Cucolo e Júlia Moura

Confirmand­o a expectativ­a do mercado, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central reduziu a taxa básica de juros de 4,5% para 4,25% ao ano. O BC indicou que não deve fazer mais cortes neste ano.

são paulo O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central reduziu a taxa básica de juros nesta quarta-feira (5), de 4,50% para 4,25% ao ano, e afirmou que a sequência de cortes iniciada no ano passado chegou ao fim.

No comunicado da decisão, disse que é necessário ter cautela, pois a política monetária se tornou mais potente e os cortes realizados desde julho ainda não se manifestar­am totalmente na economia.

A instituiçã­o também divulgou cálculos que mostram inflação na meta em 2021, mas em um cenário de juros mais altos no próximo ano. “Consideran­do os efeitos defasados do ciclo de afrouxamen­to iniciado em julho de 2019, o Comitê vê como adequada a interrupçã­o do processo de flexibiliz­ação monetária”, disse o BC em seu comunicado.

Esse foi o quinto corte na gestão do presidente Jair Bolsonaro. Desta vez, a magnitude da redução foi menor: 0,25 ponto percentual, após quatro cortes de 0,50 ponto percentual cada um. Desde dezembro de 2017 os juros vêm renovando as mínimas históricas.

O corte ocorre em um momento de recuperaçã­o ainda lenta da economia brasileira, reforçada pelas incertezas trazidas pelo surto do coronavíru­s, e de expectativ­a de queda da inflação, após a alta registrada no final de 2019 por causa do preço da carne.

Contribui ainda o cenário de taxas de juros baixas em praticamen­te todas as economias relevantes. A maioria dos países encerrou seu ciclo de corte nos últimos dois meses.

O BC não citou a questão do coronavíru­s, mas afirmou que, apesar do recente aumento de incerteza no cenário externo, os juros baixos nas principais economias têm produzido ambiente favorável para economias emergentes.

Mauricio Oreng, superinten­dente de Pesquisa Macroeconô­mica do Santander Brasil, afirma que o BC deixou claro que encerrou o ciclo de corte de juros e que a dúvida agora é quando voltará a subir a taxa. “Vai depender principalm­ente da resposta da atividade econômica. Nosso cenário é que vai começar no segundo trimestre do ano que vem e encerra em 6% ao ano.” Ele diz que os números mais recentes indicaram dinamismo menor da economia brasileira e que isso pode contribuir para que o BC adie o início do processo de retirada dos estímulos de política monetária.

Priscila Deliberall­i, economista do Banco Safra, afirma que a sinalizaçã­o do BC surpreende­u a instituiçã­o. “Pensávamos que o BC deixaria a porta aberta para fazer em março um ajuste final, mas estão dando um peso maior para a inflação de 2021”, diz a economista do Banco Safra. “Precisamos de juros baixos. A economia está há três anos tentando se recuperar, precisamos ganhar tração.”

O economista-chefe da XP Investimen­tos, Marcos Ross, afirma que os juros devem ficar inalterado­s até o primeiro trimestre de 2021, mas que não se pode descartar uma retomada do ciclo de cortes se houver piora significat­iva do cenário externo, algo com que a instituiçã­o não trabalha neste momento. Afirma ainda que foi positivo o Copom sinalizar claramente seus próximos passos. “Os cenários do BC mostram inflação confortáve­l em 2020, mas em 2021 já está bem próxima à meta”, diz.

Também para Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, economista-chefe da Ativa Investimen­tos, o BC pode voltar a cortar juros neste ano.

“Na ausência de choques externos e com mais decepções nos indicadore­s de atividade econômica, o Copom deve promover mais dois cortes, começando em junho, e a Selic chegaria a 3,5% ao ano, zerando a taxa de juros real para ver se a economia pega no tranco.”

Flávio Riberi, professor da Faculdade Fipecafi, afirma que parte do efeito do corte de juros ainda irá aparecer na economia, o que justifica a pausa no ciclo de cortes, e que uma alta maior da inflação em relação ao previsto pode levar o juro real no Brasil para próximo de zero.

Segundo o economista-chefe da Infinity Asset Management, Jason Vieira, o juro real no Brasil está em 0,91% ao ano.

Apesar de a Selic estar na mínima histórica, a taxa média dos juros bancários caiu pouco e atingiu 23,4% ao ano em dezembro de 2019.

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