Folha de S.Paulo

Em Bariloche, opções de passeio aumentam quando a neve vai embora

Esqui dá lugar à prática de esportes náuticos, cavalgada e tirolesa em lagos e bosques

- Ana Luiza Tieghi

bariloche Se no inverno é a paisagem branca que chama

a atenção em Bariloche, quando a neve derrete sobressaem os tons de azul e verde, dos lagos e bosques da região.

A cidade fica cheia de turistas da própria Argentina, da Europa e da América do Norte. Ainda há poucos brasileiro­s, mas esse número pode crescer nos próximos verões.

Desde setembro de 2019, é possível visitar Bariloche em voos diretos em qualquer época. A Azul, que já tinha três partidas semanais entre Viracopos (Campinas) e Bariloche durante o inverno, estendeu sua operação para o resto do ano, com um voo aos sábados.

Quem vai à cidade nos meses mais quentes troca os esportes de gelo por modalidade­s náuticas, além de ciclismo, corrida e cavalgada. No verão, a temperatur­a fica entre 7ºC e 24ºC, mas pode passar dos 30ºC no auge da estação.

Os passeios a cavalo permitem explorar um lado pouco conhecido de Bariloche. Longe dos lagos, a paisagem muda para uma vegetação rasteira, em solo pedregoso e seco.

A estância La Fragua, a cerca de 30 km da cidade, oferece cavalgadas para turistas.

No dia da visita da repórter, o céu estava nublado, e a temperatur­a, próxima a zero, com muito vento —era outubro e havia nevado pela manhã. Nada que assustasse os cavalos e o gaúcho —como é chamado quem trabalha com a terra e os animais— que lidera o passeio, Jesus Gonzalez, 43, há seis anos na fazenda.

O trajeto, de cerca de uma hora e meia, passa por um vale, corta um riacho e segue morro acima, até uma rocha com vista para os pampas.

Mesmo para quem não tem o costume de andar a cavalo a experiênci­a é tranquila. O animal segue Gonzalez e precisa de poucos comandos.

Na volta à estância, os visitantes são recebidos com um churrasco, ou “asado”, como se diz lá. O passeio custa 3.900 pesos (R$ 273), com café da manhã e almoço.

Já para conhecer lagos de Bariloche, vale a pena fazer o circuito Chico, passeio de carro vendido por agências que dura metade do dia.

Os visitantes são levados até alguns mirantes para ver os lagos Moreno Leste e Oeste, o pequeno Escondido e o gigante Nahuel Huapi, que chega a 450 metros de profundida­de e tem 550 km² de área —Buenos Aires tem 203 km².

Também dá para matar a sede pelo caminho. As ruas da Colônia Suíça, comunidade de descendent­es do país europeu fundada em 1895, à margem da estrada do circuito, abrigam a cervejaria Berlina, uma das primeiras a produzir a bebida de forma artesanal em Bariloche. São 60 tipos de cerveja, incluindo alguns com cardamomo e café.

Além da cervejaria, Colônia tem lojas de artesanato e restaurant­es especializ­ados em trutas. Há diversos defumadore­s por ali, que produzem uma das formas mais populares de se consumir o peixe em Bariloche. Cervo e javali defumados também são muito apreciados na região.

Ainda no circuito Chico, vale a pena subir de teleférico ao Cerro Campanário, que fica a 1.049 metros de altitude. É o lugar ideal para ter uma visão completa dos lagos que cercam a cidade. O passeio custa 500 pesos (R$ 35) —crianças de 5 a 12 anos pagam metade.

As paradas do circuito revelam pequenas praias, protegidas pela mata. A água dos lagos é gelada e transparen­te.

Nos dias mais quentes, os balneários são um bom local para fazer piquenique, praticar stand-up paddle e andar de caiaque. Os mais corajosos também podem nadar.

Outra opção para os aventureir­os é a tirolesa nas montanhas. Por 1.900 pesos (R$ 133), com a empresa Canopy, o visitante entra em carro 4x4 e sobe por uma estrada de terra íngreme e esburacada até a base das atividades. Depois, desce escorregan­do em cabos de aço sobre as árvores.

Outra forma de conhecer a região é pela água. Há algumas opções de atividade no lago Nahuel Huapi, o maior de todos. Uma delas é o passeio até Puerto Blest, que correspond­e ao primeiro terço do Cruce Andino, rota de barco da Argentina ao Chile.

O passeio entra no Parque Nacional Nahuel Huapi, o primeiro da Argentina, criado em 1934. Por isso, além de 2.650 pesos (R$ 185) para a embarcação, é preciso pagar uma taxa ambiental de 400 pesos (R$ 28) para entrar no lugar.

O barco parte às 10h e só volta às 17h30. Na embarcação, há café e lanches, pagos à parte, além de água quente para fazer mate.

O trajeto até Puerto Blest dura cerca de uma hora. No local, há apenas um hotel de mesmo nome, isolado, que serve de base para os passeios pelo parque nacional. Só é possível chegar ali de barco.

É o lugar mais chuvoso de toda a Argentina, com precipitaç­ões em 270 dias do ano.

O hotel tem cafeteria e restaurant­e, com sanduíches, saladas e pratos que custam entre R$ 26 e R$ 43. Também há uma área com mesas livres, para quem preferir levar o seu próprio lanche.

Depois da parada para o almoço, é possível fazer outro passeio, pago à parte (1.080 pesos, ou R$ 75,50), até o lago Frías, que tem água de cor verde-esmeralda, diferente do azul do Nahuel Huapi. A coloração é resultado de sedimentos de rocha que se soltam com a fricção entre a geleira e o Cerro Tronador, maior montanha de Bariloche.

Enquanto se navega pelo lago Frías, uma gravação explica que na região há muitos condores. O pássaro é orgulho local e pode chegar a 3,3 metros de envergadur­a e 1,42 metro de altura, além de pesar 15 quilos. A ave vive no alto das montanhas e faz ninhos em buracos nas rochas.

O barco navega por cerca de 15 minutos até Puerto Frías, onde quem vai para o Chile passa pelo serviço de imigração e segue viagem separadame­nte. Quem vai voltar para Puerto Blest tem alguns minutos para ver a paisagem. Dali parte a trilha Paso de las Nubes, de alta dificuldad­e (no inverno, o grau passa para muito alto), até o Cerro Tronador.

Há uma réplica da moto La Poderosa, que Che Guevara usou em sua viagem pela América Latina. Foi por ali que ele e seu amigo Alberto Granado cruzaram a fronteira com o Chile, durante a viagem de sete meses que fizeram entre a Argentina e a Venezuela, em 1952.

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Divulgação Cavalgada guiada na estância La Fragua, a cerca de 30 quilômetro­s de Bariloche
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Divulgação Turista em passeio de barco pelo lago Nahuel Huapi
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Ana Luiza Tieghi/Folhapress Cristo Luz, no parque Via Christi, em Junín de Los Andes
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