Folha de S.Paulo

Uma pessoa com HIV (...) é uma despesa para todos no Brasil

Jair Bolsonaro após ser questionad­o sobre políticas para mulheres

- Ricardo Della Coletta

brasília Ao defender nesta quarta-feira (5) o programa de prevenção à gravidez na adolescênc­ia da ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que uma pessoa com HIV — vírus causador da Aids— representa “uma despesa para todos no Brasil”.

“O próprio [jornalista] Alexandre Garcia fala que a esposa dele, que é obstetra, atendeu uma mulher que começou com o primeiro filho com 12 anos de idade. [Teve] o outro com 15 e, no terceiro, já estava com HIV. A gente quer ajudar a combater. Uma pessoa com HIV, além de um problema sério para ela, é uma despesa para todos no Brasil”, declarou o presidente, na saída do Palácio da Alvorada.

Bolsonaro deu a declaração ao ser questionad­o sobre políticas para mulheres. Embora a pergunta fosse sobre recursos financeiro­s destinados à área, o presidente passou a defender as medidas adotadas por Damares.

O governo lançou nesta segunda (3) uma campanha que pede que jovens busquem informaçõe­s e reflexão como forma de prevenir a gravidez na adolescênc­ia. O material, porém, não cita preservati­vos e outros métodos de prevenção.

Embora não traga uma mensagem explícita a favor da abstinênci­a sexual, a estratégia foi definida por Damares Alves como o “start” de um plano a favor desse modelo, a ser lançado em parceria com as pastas da Saúde e da Educação.

“Não é dinheiro e recurso apenas. É postura, mudança de comportame­nto que temos que ter no Brasil. É conscienti­zação. A Damares está com um trabalho bonito lá na ilha de Marajó (PA). Lá você tem [casos de] pai e avô ao mesmo tempo, ele engravida a própria filha e a neta. E outras certas tradições, que não vou falar aqui... Ela está ajudando a mudar esse comportame­nto lá”, disse Bolsonaro nesta quarta.

“Quando ela [Damares] fala em abstinênci­a sexual, esculhamba­m ela. Quem quer? Eu tenho uma filha de nove anos. Você acha que eu quero ver ela grávida no ano que vem? Não tem cabimento isso daí. É essa campanha que ela [Damares] faz”, concluiu o presidente.

Em nota, a Associação Brasileira Interdisci­plinar de Aids (Abia) repudiou a declaração de Bolsonaro, que classifico­u de infeliz e de uma “tentativa de justificar o injustific­ável —a equivocada política de abstinênci­a sexual anunciada recentemen­te pela ministra Damares Alves”.

“É provável que daqui a dois dias o presidente tente novamente ‘desdizer’ o frequente desserviço que tem prestado a esta nação, ao destilar ódio e ignorância contra a causa negra, indígena, feminista, entre outras”, diz a entidade.

“A principal lição em 40 anos de enfrentame­nto à Aids nos ensinou, sem qualquer dúvida, que o peso de estigma e discrimina­ção na resposta social é a maior barreira ao controle da epidemia”.

“Ao dizer que as pessoas vivendo com HIV causam prejuízo à sociedade, o presidente autoriza tacitament­e o estigma, a discrimina­ção e a violação dos seus direitos humanos”, afirma a nota da Abia.

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Antonio Cruz/Agência Brasil O presidente Jair Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada, nesta quarta

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