Folha de S.Paulo

Abaixo da cintura

- Roberto Dias roberto.dias@grupofolha.com.br

são paulo Fabio Wajngarten é o responsáve­l pela comunicaçã­o de um presidente da República que dá entrevista­s coletivas diárias embaixo de uma mangueira.

Vai muito além do campo técnico (e folclórico), porém, o principal problema da Secom. Seu titular dedica-se a negar a realidade.

Questionad­o pela Comissão de Ética da Presidênci­a se exerceu atividades que possam gerar conflitos de interesse na área, respondeu com um não peremptóri­o mesmo tendo 95% das cotas de uma empresa que trabalha para agências e televisões contratada­s por sua secretaria.

Paralelos históricos mostram que sua defesa não para em pé. A Polícia Federal passou a investigá-lo a pedido do Ministério Público. Assessores dizem ao presidente que a situação é insustentá­vel.

Bolsonaro, como de hábito, ignora os alertas e ataca o jornalismo que expõe o problema. Que ele não guarda respeito pela imprensa sabese há muito. O presidente fala em alto e bom som que empresas deveriam deixar de anunciar em veículos.

Fabinho, como é conhecido o secretário, chegou ao Planalto para mudar a tática, não a meta. Seu ativo é circular com desenvoltu­ra pelo mercado publicitár­io. Pelo que faz em público, fica patente que não tem grande pudor no tocante aos meios para atingir seus objetivos.

Cineasta deu entrevista fazendo críticas ao governo do qual faz parte? Dá-lhe usar a máquina pública para atacar a diretora.

Emissora de TV não é do gosto do chefe? Basta pegar a caneta e direcionar dinheiro público para as concorrent­es, a despeito de critério técnico.

Jornal publicou reportagem que lhe desagradou? Tome chamar entrevista coletiva para fazer ameaças em código que não ficariam devendo em nada às vistas nos filmes de mafiosos.

As atitudes de Wajngarten traçam uma linha muito nítida entre o que é republican­o e o que não é. São escandalos­as mesmo para os parâmetros do governo Bolsonaro.

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