Folha de S.Paulo

Chefe da Secom segue ‘mais firme do que nunca’, diz Bolsonaro

Presidente defende Fabio Wajngarten um dia depois da abertura de inquérito, pela PF, por suspeita de corrupção

- Ricardo Della Coletta

brasília O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quartafeir­a (5) que o secretário Fabio Wajngarten, chefe da Secom (Secretaria de Comunicaçã­o Social da Presidênci­a da República), está “mais firme do que nunca” no cargo.

A declaração em defesa do auxiliar ocorre após a abertura, pela Polícia Federal, de um inquérito para investigar Wajngarten por supostas práticas de corrupção passiva, peculato (desvio de recursos por agente público) e advocacia administra­tiva (patrocínio de interesses privados na administra­ção pública). A apuração foi motivada por uma série de reportagen­s da Folha.

Questionad­o sobre o tema na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que “não foi a PF que abriu” o inquérito. “O MP [Procurador­ia] pediu que ele fosse investigad­o. Completame­nte diferente do que você está falando, dá a entender que ele é um criminoso. Não é criminoso, eu não vi nada que atente contra ele”, disse.

Bolsonaro se referiu à Folha e disse para o jornal “mudar o disco”. “Está aí um mês batendo nele. O Wajngarten continua mais firme do que nunca.”

Diferentem­ente do que disse o presidente, a Polícia Federal atendeu a um pedido do Ministério Público Federal, feito na semana passada, e abriu inquérito para investigar o secretário de Comunicaçã­o da Presidênci­a.

A solicitaçã­o da Procurador­ia à PF foi feita a partir de representa­ções com base em reportagen­s da Folha.

No dia 15 de janeiro, o jornal mostrou que Wajngarten é sócio de uma empresa, a FW Comunicaçã­o, que recebe dinheiro de emissoras de TV, entre elas Record e Band,

“[Fabio Wajngarten] não é criminoso, eu não vi nada que atente contra ele Jair Bolsonaro

No portão do Alvorada, um dia depois de a PF abrir inquérito para investigar o secretário por suspeita de corrupção e peculato

e de agências contratada­s pela própria Secom, ministério­s e estatais do governo Jair Bolsonaro. Ele nega irregulari­dades e conflitos de interesse.

A legislação que trata do tema proíbe integrante­s da cúpula do governo de manter negócios com pessoas físicas ou jurídicas que possam ser afetadas por suas decisões. Entre as penalidade­s previstas está a demissão do agente público. A prática também pode configurar ato de improbidad­e administra­tiva, se demonstrad­o o benefício indevido.

Nesta quarta (5), reportagem da Folha mostrou que auxiliares de Bolsonaro aumentaram a pressão pela saída de Wajngarten, mas o presidente resiste em demiti-lo.

A abertura de inquérito intensific­ou a cobrança pelo afastament­o. A avaliação de integrante­s do núcleo militar e do grupo ideológico ouvidos pela Folha é que a permanênci­a do assessor presidenci­al se tornou insustentá­vel.

Segundo essas avaliações, a manutenção do secretário só aumenta o desgaste que o episódio já causou ao governo. Mas Bolsonaro, de acordo com seus aliados, não considera afastar o chefe da Secom durante a investigaç­ão da PF.

A aposta dos dois núcleos palacianos é que, embora seja uma questão de tempo, a saída de Wajngarten não ocorrerá em curto prazo.

Além da conclusão do inquérito da Polícia Federal, o presidente quer aguardar o fim do processo administra­tivo no TCU (Tribunal de Contas da União).

O tribunal abriu processo por suposto direcionam­ento político de verbas de propaganda para TVs considerad­as próximas do governo, principalm­ente Record, SBT e Band —o que afrontaria princípios constituci­onais, entre eles o da impessoali­dade na administra­ção pública.

No Planalto, já há defesa de nomes para substituir Wajngarten, como o do jornalista Alexandre Garcia (ex-TV Globo) e do general Otávio Rêgo Barros, porta-voz da Presidênci­a, que há dias não faz um briefing diário.

Na terça-feira (4), a Folha revelou que, ao assumir o cargo, Wajngarten omitiu da Comissão de Ética Pública da Presidênci­a informaçõe­s sobre as atividades da FW e os negócios mantidos por ela. Na sua gestão, seus clientes passaram a receber porcentuai­s maiores da verba de propaganda da Secom.

Ao longo de um questionár­io de oito páginas, assinado por ele em 14 de maio e obtido pela Folha, o secretário não informou à comissão o ramo de atuação das companhias dele e de familiares, bem como os negócios mantidos por elas antes e no momento em que ocupou a função pública.

A lei de conflito de interesses (12.813/2013) obriga os integrante­s do alto escalão do governo a detalharem dados patrimonia­is e societário­s, assim como as empreitada­s empresaria­is e profission­ais deles próprios e de seus familiares até o terceiro grau.

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Adriano Machado - 29.jan.20/Reuters O chefe da Comunicaçã­o da Presidênci­a, Fabio Wajngarten, no Palácio do Planalto

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