No Congresso, Trump exalta economia e rivaliza com Pelosi
Em discurso do Estado da União, presidente da Câmara chama a atenção
SÃO PAULO Donald Trump chegou para seu terceiro pronunciamento do Estado da União como uma estrela de show de rock, com a habitual entrada triunfal no Congresso.
O presidente americano foi recebido na noite de terça (4) com longos aplausos dos congressistas, aos quais agradecia com apertos de mão.
As palmas continuaram enquanto ele subia ao púlpito e se preparava para começar a discorrer sobre o “grande retorno americano”, como afirmou no começo de sua fala.
Antes de seu pronunciamento, entregou uma cópia do discurso para o vice-presidente, Mike Pence, e para a democrata Nancy Pelosi, sentados atrás dele. A presidente da Câmara estendeu a mão para cumprimentar o republicano, mas ele não respondeu. Ela então tirou a mão rapidamente, com expressão constrangida, e deu de ombros.
Pelosi economizou nas palavras laudatórias. Em vez do tradicional “Tenho o grande privilégio e a distinta honra de apresentar a vocês o presidente dos EUA”, disse apenas “Membros do Congresso, o presidente dos EUA”.
Os parlamentares gritavam “Mais quatro anos! Mais quatro anos!”, como um coro de um comício de campanha.
Na visão sobre a América apresentada pelo republicano, “os anos de declínio ter
minaram”. A economia do país está melhor do que nunca, o Exército está reconstruído, as fronteiras, seguras, e o orgulho nacional, restaurado.
Há mais emprego, mais renda e a pobreza e o crime estão diminuindo. “O estado da nossa União é mais forte do que jamais foi”, sentenciou, em uma das muitas frases de efeito que usaria.
Trump passou cerca de 20 minutos enumerando dados
econômicos, como os 7 milhões de novos empregos gerados desde que assumiu o poder, em janeiro de 2017, e a taxa de desemprego mais baixa em meio século.
Incluiu as minorias em sua fala, referindo-se a afro-americanos, hispânicos, asiáticos e pessoas com deficiência.
O presidente interino autodeclarado da Venezuela, Juan Guaidó, estava na plateia. Ele foi saudado por Trump, que afirmou que os EUA estão do lado da Venezuela e que “o socialismo destrói as nações, mas nos lembra que a liberdade unifica a alma” —cutucão no ditador Nicolás Maduro.
Guaidó foi aplaudido de pé tanto por republicanos quanto por democratas.
Atrás de Trump, Pence levantou dezenas de vezes para aplaudir o discurso. Enquanto isso, Pelosi passou a maior parte do tempo lendo a cópia do pronunciamento ou meneando a cabeça em sinal de reprovação sobre o que era dito.
O evento foi marcado por uma série de atos de grande apelo emocional, como se fosse um programa de auditório.
Trump ofereceu uma bolsa de estudos a uma menina negra e anunciou o retorno inesperado de um militar do Afeganistão, que apareceu e se juntou à família na plateia.
Ele ainda pediu à primeiradama, Melania, que entregasse a Medalha da Liberdade, a mais alta honraria civil dos EUA, ao radialista conservador Rush Limbaugh, que tem câncer em estágio avançado.
Na análise do jornal The New York Times, o discurso foi uma espécie de retorno de Trump às suas origens — ele era apresentador do programa “O Aprendiz”, e muitos de seus apoiadores o conheceram nesta ocasião.
Como esperado, o presidente também falou longamente sobre imigração ilegal. “Se você vier ilegalmente, será prontamente removido do nosso país”, disse, antes de criticar as cidades-santuário —territórios que se recusam a cumprir a linha-dura contra imigrantes—, como Nova York.
Ele enumerou crimes que teriam sido cometidos por tais estrangeiros e saudou um homem cujo irmão foi assassinado por um imigrante em situação irregular. Em seguida, afirmou que iria apresentar um projeto para permitir que cidades-santuário sejam processadas em casos assim.
Também prometeu que o muro na fronteira com o México ficará pronto, mas não ofereceu um prazo, e afirmou que, após um acordo assinado recentemente com nações da América Central, o número de tentativas de travessia da fronteira sul dos EUA caiu 75%.
A certa altura, parte dos democratas começou a deixar a Casa. O deputado Tim Ryan escreveu: “Já tive o bastante. É como assistir a uma luta profissional. É tudo falso”.
Trump também atacou a universalização do sistema de saúde. Disse que o plano democrata de expandir o seguro de saúde financiado pelo governo representava uma “aquisição socialista” que levaria o país à falência.
Pré-candidatos democratas à Presidência —como Elizabeth Warren e Bernie Sanders— e muitos legisladores propuseram planos de saúde que seriam administrados pelo governo, em oposição ao atual sistema privado, no qual milhões de americanos recebem seguro médico de seus empregadores.
Quando tocou em temas de política externa, Trump alegou que o califado do Estado Islâmico foi destruído e comemorou a morte de seu líder, Abu Bakar al-Baghdadi —momento no qual Pelosi aplaudiu.
Entre ações deste ano, Trump lembrou do assassinato do general iraniano Qassim Suleimani e ressaltou o plano de paz entre Israel e Palestina, apresentado há dias.
Pouco antes do fim do discurso, defendeu o direito constitucional de todas as religiões rezarem nas escolas. Em seguida, agradeceu a Deus.
Muitas democratas, Pelosi incluída, vestiram-se de branco
“Membros do Congresso, o presidente dos EUA Nancy Pelosi presidente da Câmara, ao apresentar, de forma lacônica, Donald Trump
“O estado da nossa União é mais forte do que jamais foi Donald Trump durante o discurso
“Já tive o bastante. É como assistir a uma luta profissional. É tudo falso Tim Ryan deputado democrata, ao deixar o plenário
pelo segundo ano consecutivo, uma homenagem ao movimento sufragista, que conquistou o direito de voto para as mulheres há cem anos.
O discurso do Estado da União, que serve oficialmente para o presidente apresentar ao Legislativo suas prioridades para o ano, é considerado uma das principais tradições políticas dos EUA, previsto inclusive na Constituição.
Em 2019, o republicano usou o discurso para pressionar democratas a liberarem verba para a construção do muro na fronteira com o México e criticou a investigação sobre uma possível interferência russa na eleição de 2016.
Desta vez, o discurso acontece em um momento tumultuado da política americana, em meio ao início das primárias que decidirão quem será o candidato democrata que vai enfrentar Trump na eleição. Em sua fala, ele não fez nenhuma menção ao processo.