Folha de S.Paulo

Peso de tributos federais na gasolina mais que dobra em cinco anos

Cresciment­o reflete aumento nos governos Dilma e Temer; parcela dos tributos estaduais avança menos desde 2014

- Nicola Pamplona e Diego Garcia

ri ode janeiro Nos últimos cinco anos, afatiados impostos foi a que mais cresceu entre os diversos componente­s que compõem os preços da gasolina e do diesel vendidos no país. Sozinha, aparcelado­s tributos federais na gasolina mais do dobrou no período.

Segundo o mais recente Boletim de Acompanham­ento do Mercado de Combustíve­is publicado pelo MME (Ministério de Minas e Energia), os impostos federais representa­vam em novembro 15,5% do preço final da gasolina. Em novembro de 2014, essa fatia equivalia a 6%.

O cresciment­o reflete dois aumentos de impostos promovidos nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer para enfrentar crises de arrecadaçã­o. Entre 2014 e 2019, o valor dos tributos federais subiu de R$ 0,26 (já corrigido pela inflação) para R$ 0,68 por litro, alta de 164,3%.

O governo federal cobra dois impostos sobre os combustíve­is: PIS/Cofins e Cide (Contribuiç­ão sobre intervençã­o no domínio econômico). Em 2018, durante a greve dos caminhonei­ros, zerou a alíquota deste último para o diesel, uma das medidas para desmobiliz­ar o movimento que parou o Brasil por duas semanas.

Assim, a alta no valor cobrado pelo governo federal sobre as vendas de diesel foi menor, de 82,8%, já descontada a inflação. Em novembro de 2019, os tributos federais representa­vam 9% do preço final do produto, ante 6% seis anos antes.

Embora seja maior, aparcela de tributos estaduais cresceu menos no período. Na gasolina, a alta do valor médio arrecadado por estados subiu 19,23% acimada inflação, passando de R $1,04( corrigido pelo IPCA) aR $1,24 por litro. O ICMS representa­va em novembro 28% do preço final do combustíve­l.

No diesel, a alta do ICMS foi de 9,59%. O imposto perdeu peso no preço final do produto: em novembro de 2019, representa­va 14,2% do valor pago por litro, ante 15% em 2014.

Os impostos são, de longe, a maior parcela do valor pago pelo consumidor por um litro de gasolina. Em novembro, segundo os dados do M ME, estados e municípios ficavam com 43,5% do preço final do combustíve­l, e a gasolina propriamen­te dita equivalia a 30,2%.

“Essa discussão aberta por Bolsonaro é importante para mostrar que o problema do preços dos combustíve­is no Brasil não é o posto, é o imposto”, diz o consultor Adriano Pires, do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestru­tura).

Na crise financeira, União e estados olharam para combustíve­is e energia como uma alternativ­a para reduzir a perda de arrecadaçã­o. Em 2019, o item petróleo e combustíve­is represento­u 17,57% da arrecadaçã­o total de ICMS no país, que somou R$ 496,7 bilhões, e 15% da arrecadaçã­o total dos estados (584 bilhões).

“Cada estado vive uma realidade distinta, mas a maioria está em crise fiscal e a situação tende a se agravar sem uma boa reforma tributária” diz o presidente da Afresp (associação que reúne os agentes fiscais de São Paulo, Rodrigo Spada. Em alguns casos, como Maranhão e Tocantins, a dependênci­a dos combustíve­is supera 30% da arrecadaçã­o.

A proposta de alterar o modelo de cobrança, feita por Bolsonaro no início da semana, tem apoio do setor de combustíve­is, para quem o modelo gera espiral inflacioná­ria, já que o ICMS é cobrado com base no preço de bomba dos combustíve­is.

Assim, quando o preço nos postos sobe, o imposto também é elevado, gerando nova pressão para que o preço final seja reajustado. O ICMS é calculado com base em um valor de referência definido pelos estados a cada 15 dias após pesquisas os postos.

No início de fevereiro, após dois cortes nos preços de refinarias, apenas Roraima reduziu o valor de referência. Outros 15 estados, pelo contrário, reajustara­m para cima.

“Quando a Petrobras mantinha o preço por muito tempo, não fazia muita diferença. Agora [que os reajustes são mais frequentes], faz”, diz Décio Oddone. diretor-geral da ANP.

A proposta defendida por Bolsonaro prevê estabelece­r valores fixos, em reais por litro, como são cobrados os impostos federais. Assim, os reajustes nas refinarias incidiriam apenas sobre a parcela referente à gasolina ou ao diesel.

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