Segurança faz brasileiro continuar na renda fixa, dizem analistas
são paulo O corte da taxa básica de juros para 4,25% ao ano não deve gerar grandes mudanças na estratégia de investimento dos brasileiros. Segundo economistas, ela pode apenas acelerar marginalmente a fuga da renda fixa.
Em 2019, com queda de dois pontos percentuais da Selic, investidores tomaram mais risco para aumentar a rentabilidade. Enquanto o mercado de renda variável cresceu, o Tesouro Direto e fundos de investimento em renda fixa tiveram captação líquida negativa, ou seja, saiu mais dinheiro do que entrou.
A poupança seguiu com captação positiva, mas menos expressiva. Desde novembro, o rendimento real é negativo (perde para a inflação). Isso porque ela rende TR, hoje zerada, mais 70% da Selic. Com o corte desta quarta (5), o rendimento cai para 2,975% ao ano.
“O custo de deixar dinheiro na poupança é baixo porque não há incidência de Imposto de Renda. Fora que ela representa uma segurança para o brasileiro que tem medo de perder o emprego”, afirma Carlos Menezes, sócio da Gauss Capital.
Segundo ele, Tesouro e fundos já apresentam captação negativa por serem modalidades utilizadas por quem tem mais conhecimento do mercado. “Esse investidor é o primeiro a sair da renda fixa”, diz.
“Além de mudança nos juros, precisamos mudar a educação financeira no país. Por desconhecimento, comodismo e receio, o brasileiro fica preso na poupança”, diz Joelson Sampaio, coordenador do curso de economia da FGV.
Para o professor, o recente corte na Selic tende a acelerar a saída da renda fixa, porque reduz a rentabilidade desse rendimento. “A migração para a renda vaiável, no entanto, não deve ser muito maior.”
As projeções de captação nos produtos de investimento do Itaú, por exemplo, são as mesmas para o cenário de a Selic ter sido mantida a 4,5% ao ano.
“A queda da Selic foi muito grande no ano passado, e a maior parte da ida para investimentos de renda variável já aconteceu”, diz Martin Iglesias, especialista em investimentos do Itaú Unibanco.
Iglesias afirma que o brasileiro não saiu da renda fixa por completo, apenas alocou uma parte de recursos em fundos multimercado e ações. “O brasileiro vai continuar a investir em fundos pós-fixados e na poupança pela necessidade de resgatar no curto prazo”, diz.