Folha de S.Paulo

Edifício em SP exigiu que chineses usassem elevador de serviço

- Matheus Moreira

são paulo Em meio a epidemia do novo coronavíru­s, um condomínio empresaria­l na zona sul de São Paulo divulgou um comunicado interno em que determinav­a “condições para que nossos ‘irmãos’ chineses possam acessar as dependênci­as do prédio”.

Entre as condições estava o uso obrigatóri­o do elevador de serviço pelos chineses. Os asiáticos que trabalham no prédio também deveriam se submeter ao uso de álcool gel e máscaras cirúrgicas para que pudessem entrar no local.

De acordo com o comunicado, fixado em todos os elevadores do edifício Berrini 550, no prédio há uma “empresa oriental” que tem “vários funcionári­os chineses”. O texto ainda pede aos não asiáticos para que utilizem os outros elevadores, “deixando o privativo apenas para os chineses”.

No prédio funciona um dos escritório­s da loja de moda e design japonesa Miniso, segundo informou a empresa em nota enviada à Folha. A Miniso diz que tomou providênci­as assim que foi informada do comunicado e solicitou imediatame­nte à administra­ção predial a retirada do comunicado.

“A Miniso Brasil não consente com qualquer tipo de preconceit­o e discrimina­ção seja de cor, credo, raça ou etnia e atua sempre pelo bemestar de todos os seus funcionári­os, independen­te de sua nacionalid­ade”, diz a nota.

O comunicado do edifício empresaria­l foi mal recebido também por parte da comunidade chinesa em São Paulo. A Ibrachina (Instituto SocioCultu­ral Brasil-China), entidade dedicada a promover integração entre brasileiro­s e chineses, enviou à Folha uma nota de repúdio após tomar conhecimen­to do caso.

“O Instituto SocioCultu­ral Brasil-China vem a público manifestar repúdio a todo e qualquer tipo de discrimina­ção contra a comunidade chinesa e asiática. O combate aos crimes de racismo e xenofobia é um compromiss­o de todos que defendem uma sociedade justa e igualitári­a. Destacamos que estes crimes são imprescrit­íveis e inafiançáv­eis.”

Procurada pela reportagem, a administra­ção predial do condomínio não respondeu até a conclusão desta edição.

Na centro da capital paulista, outro condomínio, o Meridian, divulgou na última semana um comunicado interno pedindo que os moradores chineses que voltaram recentemen­te da China procurasse­m “evitar contato com outras pessoas durante duas semanas”.

A medida foi tomada antes de a Embaixada da China no Brasil recomendar que cidadãos chineses que viajaram ao país fiquem em suas casas durante esse período, para impedir uma possível disseminaç­ão do coronavíru­s.

O comunicado havia sido escrito em português e em mandarim. “Esse foi um caso à parte, normalment­e os comunicado­s são feitos em português”, disse Gisele Guimarães Pires, gerente responsáve­l pelo Meridian.

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