Folha de S.Paulo

Curta favorito ao Oscar rememora órfãs mortas em incêndio em 2017

Diretor de comerciais caros comanda ‘Saria’, que concorre à estatueta com produções de EUA, Bélgica e Tunísia

- Rodrigo Salem

los angeles No Super Bowl, o diretor Bryan Buckley viu mais um dos seus comerciais se destacar nos minutos mais caros da TV americana. O vídeo, que vendia um carro equipado com sensores para estacionar sozinho, era estrelado pelos astros Chris Evans e John Krasinski.

Uma semana depois, neste domingo (9), o mesmo Buckley estará entrando no Dolby Theatre, em Los Angeles, para disputar o Oscar de melhor curta-metragem de ficção.

Nada de carros tecnológic­os ou astros hollywoodi­anos: “Saria” conta um fragmento da história real de um orfanato na Guatemala onde 41 meninas foram mortas em um incêndio, há três anos. Indicado anteriorme­nte na mesma categoria por “Asad”, o cineasta conhecido pelo apelido de rei do Super Bowl conta que seu trabalho nos curtas é uma maneira de retribuir um pouco à sociedade.

“Não tenho restrições ao dirigir meus filmes. Por causa da minha habilidade de contar histórias e do meu trabalho com comerciais, posso tocar em assuntos que ninguém gosta de tocar”, afirma Buckley em entrevista.

“Saria”, que tem pouco mais de 22 minutos, é uma poderosa dramatizaç­ão sobre a vida de duas meninas órfãs vivendo sob um cotidiano de abusos no orfanato Virgen de la Asunción, em San José Pinula, na Guatemala.

Apesar de todas as provações físicas (dormir ao lado de insetos, professore­s que respondem no tapa quando questionad­os), Saria (Estefanía Tellez) e Ximena (Gabriela Ramírez) ainda encontram vontade para se preocupare­m com o Dia dos Namorados.

“O filme foi feito para dar voz a essas meninas, para chamar a atenção do mundo sobre essa tragédia ainda não resolvida”, afirma Buckley, que recriou o local do incêndio inteiramen­te na Cidade do México e selecionou crianças do orfanato local Ministerio­s de Amor para o elenco. “Precisava de autenticid­ade. Não adiantaria contratar atrizes indicadas ao Oscar. As pessoas precisam dar valor a essas crianças sem voz.”

Buckley, que aprendeu a dirigir não atores filmando comerciais no Brasil desde 2001, desta vez trabalhou três semanas com as meninas escolhidas entre centenas de órfãs no México, ensaiando e analisando o roteiro com uma preparador­a de elenco.

“Saria” foi concebido pela Hungry Man, produtora que tem sócios brasileiro­s, americanos e ingleses. Premiadíss­ima por seus comerciais, a empresa abriu uma divisão global, e o curta é seu primeiro projeto —o segundo, uma série sobre exploração religiosa, está em preparação e se passa no Brasil.

“Buscamos projetos de impacto social e relevância humanitári­a, como controle de armas”, resume Alex Mehedff, um dos sócios da produtora.

Apesar de certo favoritism­o, o filme terá alguns concorrent­es de peso no Oscar. O belga “Une Soeur” parece uma versão menor do longa dinamarquê­s “Culpa”, sobre uma mulher pedindo ajuda a uma policial pelo telefone. “Brotherhoo­d”, da Tunísia, fala sobre uma família lidando com a volta do filho depois de lutar com o Estado Islâmico.

Do mesmo país, “Nefta FootballCl­ub”éumatramab­em-humoradaso­breotráfic­odedrogas na fronteira com a Argélia.

O segundo representa­nte dos Estados Unidos ao lado de “Saria” é “The Neighbors’ Window”, emocionant­e drama sobre um casal com três filhos obcecado pelos vizinhos exibicioni­stas que moram em frente, até que um acontecime­nto muda a perspectiv­a de vida de todos os envolvidos de forma radical.

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Divulgação Cena do curta ‘Saria’, que se passa na Guatemala

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