Folha de S.Paulo

Músicos revivem a Banda Zil, ícone do jazz da década de 1980

- Luiz Fernando Vianna

são paulo A Banda Zil nasceu em 1986, lançou um disco em 1987 e suspendeu as atividades em 1988, após se apresentar no Free Jazz Festival, em São Paulo. A vida efêmera do conjunto de jazz frustrou os fãs e transformo­u em cult o até então único álbum, distribuíd­o aqui pela gravadora Continenta­l e no restante do mundo (Estados Unidos, Europa e Japão) pela Verve.

Em 2015, os sete músicos começaram a organizar o reencontro e fizeram um show no Rio, na extinta casa Miranda. Em 2019, saiu “Zil ao Vivo”, registro feito em Juiz de Fora, em 2016. É o repertório desse CD/DVD que será tocado nesta quinta (6) e na sexta (7) no Sesc Pompeia, às 21h.

O sucesso que a banda atingiu há pouco mais de 30 anos se explica, é claro, pelo time de músicos: Zé Nogueira (sopros), Marcos Ariel (piano), Ricardo Silveira (guitarra), João Batista (baixo), Jurim Moreira (bateria), Zé Renato (voz e violão) e Claudio Nucci (voz).

“Esses músicos eram a elite do que se tocava no Rio nos anos 1980. Era o que se ouvia na Globo FM”, afirma Zé Nogueira, citando a emissora que se dedicou ao jazz contemporâ­neo naquele momento. “Não quisemos mudar o nosso jeito de tocar, porque a novidade para o público de hoje é ouvir a Zil daquela época.”

É um som que não se assemelha à tradição do jazz americano —do bebop e de outras linhas desenvolvi­das por músicos, em sua maioria, negros. Tampouco é da família do pop de Kenny G e afins. Tem fundo brasileiro com revestimen­to internacio­nal. O nome Zil derivou desse desejo de juntar Brasil e Brazil.

Os arranjos não mudaram, mas as interpreta­ções são marcadas pela maturidade dos músicos. “O punch continua juvenil”, afirma o saxofonist­a do grupo.

As oito faixas do disco de 1987 se mantiveram no repertório: “Tupete” (Claudio Nucci e Zé Renato), “Benefício” (Zé Renato e Hamilton Vaz Pereira), “Pegadas Frescas” (Zé Renato e Hamilton), “Jequié” (Moacir Santos e Aldir Blanc), “Suíte Gaúcha” (Marcos Ariel), “Anima” (Zé

Renato e Milton Nascimento), “Maromba” (Ricardo Silveira e Paulinho Soledade) e “Zarabatana” (Zé Renato).

No Sesc Pompeia —onde João Batista será substituíd­o por Rômulo Gomes—, o programa contará com as 14 faixas do DVD. Quase a totalidade tem integrante­s da Zil entre os autores. As duas exceções são “Blackbird” (John Lennon e Paul McCartney) e “Terra Azul” (Pat Metheny).

“A gente se juntou na época porque éramos um bando de amigos. Eu era amigo do Ricardo desde os 13 anos. O Jurim era o baterista em quase todos os trabalhos que eu fazia”, conta Nogueira. “Fico tentando me lembrar por que não continuamo­s e não consigo. Mas fazíamos coisa demais.”

Todos os instrument­istas passaram a ser requisitad­os para acompanhar cantores e cantoras: Milton Nascimento, Edu Lobo, Nana Caymmi etc. Zé Renato e Claudio Nucci, que participav­am do Boca Livre, também se dedicaram a projetos solo.

Ter dois vocalistas num conjunto de música essencialm­ente instrument­al é outro ingredient­e que deixa a Zil diferente de outras formações.

“É um trabalho instrument­al no qual os cantores, eventualme­nte, cantam com ou sem letra”, diz Nogueira.

Oito das músicas não têm letra. Ou seja, os dois fazem bastante vocalise, o que também realizavam no Boca Livre — que ainda faz apresentaç­ões, com Zé Renato no quarteto.

“Zil ao Vivo” é dedicado ao produtor Paulinho Albuquerqu­e (1942-2006), um dos idealizado­res da banda e espécie de oitavo componente. Ele produziu discos de Ivan Lins, Djavan, João Bosco, Fátima Guedes, Nei Lopes, Guinga e muitos outros. Ao lado de Zé Nogueira e Zuza Homem de Mello, foi um dos curadores do Free Jazz.

A ideia, agora, é continuar com a Zil nas brechas dos outros compromiss­os dos sete artistas. “A gente quer tocar para frente. Mas é difícil tocar alguma coisa para frente neste momento do Brasil”, afirma Nogueira.

Zil ao Vivo

Banda Zil. Gravadora:

Som Livre. R$ 34,90 (CD); R$ 39,90 (DVD). Disponível nas plataforma­s de streaming

Banda Zil

Sesc Pompeia, r. Clélia, 93, Pompeia, São Paulo. Qui. (6) e sex. (7), às 21h. R$ 9 a R$ 30

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