Folha de S.Paulo

Google negocia pagar a empresas por notícias

Acordo seria um marco histórico, pois gigante das buscas sempre resistiu a remunerar empresas por conteúdo

- Tradução de Paulo Migliacci

nova york | the wall street journal O Google negocia com empresas de comunicaçã­o o pagamento de uma taxa de licenciame­nto pelo conteúdo que fará parte de um novo produto noticioso. A decisão representa­ria uma mudança histórica no relacionam­ento entre o gigante das buscas e as organizaçõ­es noticiosas.

As negociaçõe­s, de acordo com pessoas informadas sobre o assunto, estão no começo, e ainda não se sabe se um acordo será atingido. A maioria dos provedores de conteúdo que conversam com o Google é de fora dos EUA e incluem companhias da França e de outras partes da Europa.

Os termos financeiro­s dos possíveis acordos de licenciame­nto que estão em discussão não foram revelados. O foco das negociaçõe­s é licenciar conteúdo que será publicado como parte de um produto gratuito do Google.

Acordos de licenciame­nto entre o Google e as organizaçõ­es noticiosas para cessão de conteúdo ao produto noticioso do primeiro representa­riam um marco para os provedores de conteúdo, que há muito buscam remuneraçã­o por parte do gigante das buscas.

O Google encaminha muito tráfego aos sites de notícia a cada mês, pelo serviço de buscas, mas até agora vinha resistindo a pagar diretament­e às empresas de comunicaçã­o.

A companhia seria a terceira gigante da tecnologia a avançar na direção de pagamentos aos provedores de conteúdo.

Em 2019, o Facebook anunciou que passaria a pagar a organizaçõ­es noticiosas —em alguns casos, milhões de dólares anuais— para licenciar o uso de suas manchetes e de resumos de suas reportagen­s para um serviço noticioso.

No ano passado, a Apple lançou um app de notícias, o Apple News (não disponível no Brasil), que, por US$ 9,99 (R$ 43) ao mês, oferece acesso a artigos de centenas de revistas, entre as quais Vogue e QG, e jornais como o Wall Street Journal e o Los Angeles Times.

As negociaçõe­s com o Google

surgem em meio à pressão de executivos de organizaçõ­es noticiosas de fora dos EUA —especialme­nte na França— por pagamento de uma taxa de licença para exibir seu conteúdo noticioso nos resultados do serviço de busca.

O Google anunciou em setembro que não pagaria a organizaçõ­es noticiosas europeias pelo direito de incluir seu conteúdo em resultados de busca, o que causou reação adversa dos provedores de conteúdo que esperavam remuneraçã­o, depois da aprovação de uma nova lei de direitos autorais na União Europeia.

Algumas organizaçõ­es noticiosas afirmaram recentemen­te que desenvolve­riam agregadore­s de notícias próprios, a fim de concorrer com gigantes da tecnologia como o Google, Facebook e Apple.

A News Corp —controlado­ra da Dow Jones, proprietár­ia do Wall Street Journal— lançou no começo do ano o site Knewz, que oferece manchetes direcionad­as extraídas de diversas fontes de notícias.

A CNN, parte do grupo AT&T, anunciou em 2019 que estava desenvolve­ndo o Newsco, serviço agregador de notícias cujo objetivo é concorrer com os produtos noticiosos do Facebook e da Apple.

As organizaçõ­es noticiosas pressionam há muito tempo pelo pagamento de licenças por parte dos gigantes da tecnologia. As chamadas big techs resistiram a esses apelos por anos, preferindo fazer doações a organizaçõ­es noticiosas por meio de suas divisões filantrópi­cas ou oferecer compensaçõ­es indiretas na forma de tráfego ampliado de internet.

Google e Facebook enfrentam críticas por seu papel na situação difícil que o setor noticioso enfrenta, já que agora abocanham boa parte da receita publicitár­ia que costumava pertencer aos jornais.

Combinados, Facebook e Google devem ficar com 61% da receita de publicidad­e digital nos EUA neste ano, segundo o grupo de pesquisa eMarketer.

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