Google negocia pagar a empresas por notícias
Acordo seria um marco histórico, pois gigante das buscas sempre resistiu a remunerar empresas por conteúdo
nova york | the wall street journal O Google negocia com empresas de comunicação o pagamento de uma taxa de licenciamento pelo conteúdo que fará parte de um novo produto noticioso. A decisão representaria uma mudança histórica no relacionamento entre o gigante das buscas e as organizações noticiosas.
As negociações, de acordo com pessoas informadas sobre o assunto, estão no começo, e ainda não se sabe se um acordo será atingido. A maioria dos provedores de conteúdo que conversam com o Google é de fora dos EUA e incluem companhias da França e de outras partes da Europa.
Os termos financeiros dos possíveis acordos de licenciamento que estão em discussão não foram revelados. O foco das negociações é licenciar conteúdo que será publicado como parte de um produto gratuito do Google.
Acordos de licenciamento entre o Google e as organizações noticiosas para cessão de conteúdo ao produto noticioso do primeiro representariam um marco para os provedores de conteúdo, que há muito buscam remuneração por parte do gigante das buscas.
O Google encaminha muito tráfego aos sites de notícia a cada mês, pelo serviço de buscas, mas até agora vinha resistindo a pagar diretamente às empresas de comunicação.
A companhia seria a terceira gigante da tecnologia a avançar na direção de pagamentos aos provedores de conteúdo.
Em 2019, o Facebook anunciou que passaria a pagar a organizações noticiosas —em alguns casos, milhões de dólares anuais— para licenciar o uso de suas manchetes e de resumos de suas reportagens para um serviço noticioso.
No ano passado, a Apple lançou um app de notícias, o Apple News (não disponível no Brasil), que, por US$ 9,99 (R$ 43) ao mês, oferece acesso a artigos de centenas de revistas, entre as quais Vogue e QG, e jornais como o Wall Street Journal e o Los Angeles Times.
As negociações com o Google
surgem em meio à pressão de executivos de organizações noticiosas de fora dos EUA —especialmente na França— por pagamento de uma taxa de licença para exibir seu conteúdo noticioso nos resultados do serviço de busca.
O Google anunciou em setembro que não pagaria a organizações noticiosas europeias pelo direito de incluir seu conteúdo em resultados de busca, o que causou reação adversa dos provedores de conteúdo que esperavam remuneração, depois da aprovação de uma nova lei de direitos autorais na União Europeia.
Algumas organizações noticiosas afirmaram recentemente que desenvolveriam agregadores de notícias próprios, a fim de concorrer com gigantes da tecnologia como o Google, Facebook e Apple.
A News Corp —controladora da Dow Jones, proprietária do Wall Street Journal— lançou no começo do ano o site Knewz, que oferece manchetes direcionadas extraídas de diversas fontes de notícias.
A CNN, parte do grupo AT&T, anunciou em 2019 que estava desenvolvendo o Newsco, serviço agregador de notícias cujo objetivo é concorrer com os produtos noticiosos do Facebook e da Apple.
As organizações noticiosas pressionam há muito tempo pelo pagamento de licenças por parte dos gigantes da tecnologia. As chamadas big techs resistiram a esses apelos por anos, preferindo fazer doações a organizações noticiosas por meio de suas divisões filantrópicas ou oferecer compensações indiretas na forma de tráfego ampliado de internet.
Google e Facebook enfrentam críticas por seu papel na situação difícil que o setor noticioso enfrenta, já que agora abocanham boa parte da receita publicitária que costumava pertencer aos jornais.
Combinados, Facebook e Google devem ficar com 61% da receita de publicidade digital nos EUA neste ano, segundo o grupo de pesquisa eMarketer.