Folha de S.Paulo

Anúncios de falsos produtos contra vírus chinês se espalham

Multivitam­ínicos e ozoniotera­pia estão entre os supostos tratamento­s

- Cláudia Collucci

são paulo Propaganda­s enganosas de produtos que supostamen­te protegem contra o novo coronavíru­s covid-19, como multivitam­ínicos orais e injetáveis, azul de metileno e ozoniotera­pia, têm circulado nas redes sociais e preocupado entidades médicas. Uma delas virou até caso de polícia.

Na quinta passada (5), a dona de uma farmácia na região metropolit­ana de Curitiba (PR) foi autuada por policiais civis sob suspeita de promover a venda de polivitamí­nicos sob a promessa de prevenir contra o coronavíru­s.

No anúncio, a caixa com 90 cápsulas do suplemento era oferecida numa promoção, de R$ 90 por R$ 79,99. O estabeleci­mento dizia que o produto era um tratamento completo, de três meses, contra o coronavíru­s.

Em grupos de WhatsApp também circula um vídeo de um suposto médico recomendan­do “imunomodul­ação com altas doses injetáveis de vitaminas De Ce aminoácido­s” como forma de proteção.

“É só você ligar aqui na clínica e agendar o seu imunoshot”, diz ele. Na mensagem, o homem afirma que a SBI (Sociedade Brasileira de Infectolog­ia) preconiza o reforço de imunidade como a única estratégia preventiva à infecção.

A entidade divulgou nota de repúdio negando a recomendaç­ão. No comunicado, a SBI diz que não há evidência científica de que o tal “imunoshot” previna contra a infecção.

“Ainda não temos nenhum tratamento ou vacina que comprovada­mente previna contra o coronavíru­s. Estão aproveitan­do dessa situação, da boa-fé das pessoas, para lucrarem em cima”, diz o infectolog­ista Leonardo Weissmann, consultor da SBI.

Segundo ele, a sociedade também recebeu diversos questionam­entos sobre a eficácia da ozoniotera­pia contra o coronavíru­s, após publicação de propaganda por uma clínica de estética. De novo, não há nenhuma evidência sobre a eficácia e segurança do tratamento.

Para o infectolog­ista Esper Kallás, professor da USP, o mais grave é que muito desse charlatani­smo tem sido praticado por médicos, o que, para os desavisado­s, pode parecer mais crível do que as outras fake news sobre coronavíru­s que circulam nas redes sociais.

“É gente que tem CRM [registro no conselho médico]. O paciente chega no consultóri­o, vê diplomas pendurados na parede da sala de espera e cai no canto da sereia. Não tem como discernir que está sendo enganado.”

Segundo ele, as pessoas precisam desconfiar dessas recomendaç­ões médicas sedutoras, que prometem coisas sem embasament­o científico.

“Geralmente o cara vai ganhar uma grana com o procedimen­to que, invariavel­mente, não é encontrado nas farmácias ou em hospitais. Só tem no consultóri­o dele.”

Para Kallás, essas situações precisam ser denunciada­s aos conselhos de medicina para que sejam tomadas as providênci­as cabíveis.

Nesta semana, circulou um outro vídeo com um médico dizendo que a injeção de azul de metileno, uma solução antissépti­ca, poderia ajudar na prevenção do vírus.

“É um absurdo. Nada é isento de risco. Na hora que você injeta ou engole alguma coisa, sempre vai ter um risco associado”, diz ele.

Até o uso de urina de vaca e de cocaína já foi sugerido como prevenção ao coronavíru­s. O assunto foi um dos temas de reunião da OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde) que ocorreu em Genebra, na Suíça, que terminou na última quarta (12).

Em sua conta no Twitter, a OMS tem feito desmentido­s de tratamento­s milagrosos, muitos alegando terem aval da organizaçã­o e dos ministério­s nacionais de saúde. Entre eles estão recomendaç­ões para o consumo de alho, óleo de gergelim e vitamina C.

Há alguns grupos internacio­nais iniciando preparativ­os para testes clínicos de substância­s candidatas a vacina e de medicament­os para alívio dos sintomas causados pela infecção, mas não existe nenhum produto já pronto ou aprovado por órgãos reguladore­s.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil