Folha de S.Paulo

Folia sem improviso

Viseiras, ombreiras, maquiagem colorida e paetês prometem dominar os cortejos

- Júlia Zaremba

são paulo O Carnaval deixou de ser uma festa marcada pelo improviso. Feiras de adereços, coleções carnavales­cas de pequenas marcas agrandes redes de lojas, e conta sem redes sociais com inspiraçõe­s de visu- ais impulsiona­m produções so- fisticadas editam tendências.

Entre as modas que devem se destacar nos cortejos das principais capitais deste ano, estilistas consultado­s pela Folha destacam maquiagens bem elaboradas, viseiras, ombreiras, pompons, quimonos de paetê e muito neon e efeito holográfic­o.

Começando pela cabeça: arcos de unicórnio e de sereia já eram para os mais antenados. As viseiras com paetês, pompons e outros adornos, devem ser a sensação dos blocos. “Além de bonitas, protegem o rosto do sol, são bem úteis”, diz a estilista Iwana Raydan, 26, da loja Podre de Chic.

Os arcos mais sofisticad­os continuam em voga. Modelos vazados, sem excesso de estrutura para não pesar, com estrela, lua, pompom e referência­s ao surrealism­o (grandes bocas ou olhos, por exemplo) são a aposta da estilista da PUC-Rio e organizado­ra do Festival Saturnália (evento de moda de Carnaval), Luiza Marcier.

Há quem diga que a maquiagem éon ovo adereço em 2020. “As pessoas estão ousando, experiment­ando mais, com pinturas super desenhadas ”, diz a designer de interiores Clarissa Viegas, 41, da loja Ohlograma. “Antes, era só purpurina.”

Nesta área, a purpurina biodegradá­vel (que costuma ter uma textura mais espessa, remetendo a escama de peixe) é tendência, apesar de a populariza­ção ainda ser um desafio, diz ela (costumam ser mais caras do que o glitter de microplást­ico).

A base da fantasia não deve mudar muito. Top, biquíni, body, maiô e hotpant (este último item mais presente neste ano) serão bastante vistos em blocos e fotos em redes sociais. Para os mais antenados, um biker short (a famosa bermuda esportiva).

O diferencia­l deste ano serão os adornos que os compõem, em especial ombreiras, franjas e meia arrastão, apontam os especialis­tas. Soluções que, além do apelo visual, ajudam os foliões menos desinibido­s a não deixar a pele tão exposta.

O estilista Mateus Conde, da loja Arranjo Aí, conta que as encomendas de ombreiras com fitas metálicas superaram as de adereços de cabeça neste ano. As franjas de malha, que costumam ser usadas nos braços, também têm feito sucesso.

Quem estiver disposto a suar um pouco mais na folia pode ornar o visual com um quimono de paetê, outra sensação em feiras e lojas neste ano. Ou então com uma legging de paetê, esgotada em poucos dias na Paeteh, conta Gustavo Pinhal, gerente comercial da loja.

“Os paulistano­s ou turistas que vêm a São Paulo para o Carnaval estarão mais fantasiado­s do que nunca neste ano”, aposta ele. “Antes, esse movimento era mais forte no Rio.”

Mas a tendência, dizem os estilistas, é de corpos cada vez mais livres e expostos.

Os tapa-mamilos, que já são vendidos em grandes redes de lojas, devem ganhar ainda mais adeptas. As mais discretas podem optar por sutiãs ou biquínis cor da pele ou semitransp­arentes com detalhes na região dos seios — de pedras e paetê, por exemplo, diz Viegas, da Ohlograma.

Para guardar dinheiro, cartão e outros pertences, as pochetes e doleiras ainda são as favoritas. “Nesse caso, a praticidad­e vem antes da lacração”, diz Pinhal. Mas surgem versões mais elaboradas do item, inclusive a térmica, para guardar bebida.

Há alternativ­as para carregar bens que começam a ganhar espaço, como bolsas pequenas com franjas.

Seja em roupa ou em acessórios, o neon, o holográfic­o e o metalizado ganharão espaço, dizem os estilistas. Uma espécie de estética retrofutur­ista, que remete a filmes de ficção científica dos anos 80.

“O retrofutur­ismo traz uma ideia de futuro em interlocuç­ão com o passado”, diz Marcier.

“Chegamos a 2020, que, no imaginário de quem viveu o outro século, seria o futuro. Ao mesmo tempo, há várias questões de comportame­nto em discussão que têm relação com passado, como o terraplani­smo.”

Em meio à sofisticaç­ão da moda de Carnaval, o desafio é ser original. “Tem que ser muito criativo para sair diferente”, diz Raydan, da Podre de Chic.

Só os pés escapam da estética: quanto mais confortáve­l o sapato, melhor.

Para além da moda, há outras tendências para blocos de São Paulo, como descentral­ização dos cortejos, maior representa­tividade feminina e sustentabi­lidade.

A capital paulista terá um número recorde de blocos neste ano: serão 796 autorizado­s, cresciment­o de 62% em relação ao ano passado, quando saíram 490. Será a primeira vez em que haverá desfiles em todas as 32 subprefeit­uras.

Será também o primeiro ano com uma comissão formada por mais de 70 representa­ntes femininas dos blocos, com o objetivo de sugerir ao poder público ações para combater o abuso sexual, garantir a segurança das folionas nas ruas e aumentar a representa­tividade das mulheres na festa.

Em meio à turbulênci­a política no país, os blocos também buscam se expressar mais politicame­nte, diz Rogério Oliveira, da produtora Pipoca, que produz Monobloco e Acadêmicos do Baixo Augusta.

Para Flavia Doria, fundadora da produtora Oficina da Alegria, que organiza blocos como Bangalafum­enga e Sargento Pimenta, a sustentabi­lidade será uma preocupaçã­o neste ano. Ela cita a logística para catar latinhas, que vem se aprimorand­o ao longo dos anos.

Doria acredita que 2020 será um ano marcante para o Carnaval de São Paulo. “Se consolidar­á como uma festa tradiciona­l, com caracterís­ticas próprias, e entrará no mapa junto com Rio, Salvador e Olinda, por exemplo”, diz.

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Fotos Gabriel Cabral/Folhapress Produção Aline Prado Modelo Júlia Cortez
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Gabriel Cabral/Folhapress, produção Aline Prado, modelo Júlia Cortez Legging de paetês e pochete estão entre as tendências do Carnaval 2020

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