Folha de S.Paulo

Chama o síndico

- Julianna Sofia

brasília As falas destrambel­hadas do ministro Paulo Guedes (Economia) parecem traços de uma irritação enrustida pelas dificuldad­es de levar a cabo seus planos. No grito, na prensa, na declaração estapafúrd­ia, uma forma de fazer o Palácio do Planalto, o Congresso, a sociedade compreende­rem a necessidad­e premente de efetivar suas propostas.

A reforma administra­tiva da equipe econômica, depois de arestas aparadas e vários reparos a pedido de Jair Bolsonaro, jaz pronta na mesa do presidente. Nem por isso de lá saiu —graças a pressões das alas política e militar do Planalto e à má vontade presidenci­al com a mudança considerad­a impopular. Já estava travada quando o “Posto Ipiranga” decidiu chamar servidores públicos de parasitas. Com a manifestaç­ão, quase degringolo­u, e agora Bolsonaro afirma que, se não houver “marola”, será encaminhad­a na próxima semana.

A impaciênci­a de Guedes para lidar com contraried­ades e seus espasmos sincericid­as provocam danos. Com o PIB rodando abaixo das expectativ­as, ninguém precisa de um ministro da Economia fora da casinha a fazer companhia ao núcleo ideológico radical do governo, distribuin­do munição gratuita a opositores da agenda reformista.

Enquanto Guedes falava a uma plateia esvaziada barbaridad­es sobre o câmbio e a “festa danada” de empregadas domésticas na Disney com o real valorizado, o governo não conseguia cumprir um acordo para impedir que o Legislativ­o abocanhe um naco de R$ 30 bilhões do Orçamento. Sem um gerentão, o Executivo não conseguiu elaborar a tempo um projeto de lei para honrar o acerto.

O resultado de muita parolagem e pouca articulaçã­o também põe em risco uma das PECs do trio de propostas do ajuste fiscal, em tramitação no Senado. A equipe de Guedes comeu mosca, e uma manobra de aliados pode fazer com que a medida para extinção de 200 fundos públicos permita um furo de R$ 32 bilhões no teto de gastos.

Com o ministro a cometer asneiras, alguém chama o síndico?

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