Visita de Lula piora imagem de Francisco na direita
são paulo A direita nunca foi muito com a cara do papa Francisco. Um pouco é em razão do estilo modernoso do argentino Jorge Bergoglio, e de suas ideias de atualizar algumas das características da Igreja Católica.
É também, em larga medida, um exemplo clássico de saudades do meu ex —no caso o antecessor, Bento 16. O fato de o impecavelmente conservador alemão Joseph Ratzinger ter renunciado e continuar vivo amplifica a comparação entre os dois papas.
A visita do ex-presidente Lula a Francisco na quinta (13) turbinou esse sentimento de repulsa da direita ao líder católico. Para muitos, é um dilema, uma vez que seguidores do Vaticano devem obediência ao papa, ao mesmo tempo que criticam uma suposta guinada à esquerda da Igreja.
Católico conservador, o deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSLSP) criticou a visita.
“É surreal que você tenha um condenado apadrinhado por um instituição tão importante como a igreja, que se colocava no passado de forma contrária ao que Lula representa”, afirmou. “Tudo indica que nos últimos anos houve uma reversão na igreja, virou uma instituição de militância [de esquerda].”
O fato de o Vaticano ser um Estado teocrático, com um líder que não pode ser contestado, é perfeito, segundo ele. “Isso dá muita força para que ele implemente sua agenda.”
Papas de verdade, sem agenda política, existem aos montes, na opinião do parlamentar. Além de Bento 16, ele menciona Pio 12 (1939-58) e, claro, João Paulo 2º (1978-2005).
A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) foi outra que se indignou. Nas redes sociais, publicou um vídeo citando a passagem bíblica em que Dimas, o “Bom Ladrão”, crucificado junto de Cristo, se arrepende de seus pecados.
“Santo papa, como é possível que um homem como Dimas tenha tido que se arrepender de seus pecados para entrar no Reino dos Céus, enquanto um ladrão dos maiores do mundo, que nem admitiu seus pecados, pode entrar no Vaticano?”, perguntou.
O youtuber católico Bernardo Kuster também publicou um vídeo em que se dirige ao papa, sem se abster de demonstrar seu dilema pessoal ao criticar a atitude de Francisco —a quem chama de “meu papa Francisco”.
Ele alerta no vídeo para a perda de influência da Igreja Católica na comparação com os evangélicos, uma das bases do bolsonarismo atualmente.
Receber Lula, para o youtuber, é mandar uma mensagem errada. “Não estamos falando de um homem comum, mas de um ex-presidiário, condenado. O Lula cresceu na política hostilizando a base da Igreja Católica, com a Teologia da Libertação.”
Nesta sexta (14), o general Augusto Heleno, chefe do GSI de Jair Bolsonaro, também comentou a iniciativa.
“Parabéns ao papa pelo gesto de compaixão. Confraternizar com um criminoso [...] não chega a ser comovente, mas é um exemplo de solidariedade a malfeitores, tão a gosto dos esquerdistas”, escreveu.