EUA dizem ter feito acordo com Taleban para reduzir violência
munique e são paulo | reuters Os EUA afirmam ter fechado um acordo com o Taleban para reduzir a violência no Afeganistão, movimento que abriria caminho para a retirada das tropas americanas do país, segundo uma autoridade do governo americano.
O funcionário, ouvido sob condição de anonimato após uma conferência de segurança em Munique, disse que a trégua deve durar sete dias e começar em breve.
Segundo ele, o acordo de redução de violência abrange todo o Afeganistão e inclui todos os tipos de ações, como bombas em estradas, ataques suicidas e disparos de mísseis.
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o secretário de Defesa, Mark Esper, encontraram-se com o presidente afegão, Ashraf Ghani, durante a conferência em Munique, nesta sexta-feira (14).
Embora na prática o acordo deva significar um cessar-fogo, os dois lados preferem evitar o termo ao tratar do assunto, para não incomodar membros mais radicais do Taleban.
O grupo defende interpretação radical dos preceitos islâmicos. Após uma guerra civil nos anos 1990, chegou ao comando do Afeganistão, mas foi derrubado por uma operação dos EUA em 2001. Nos anos seguintes, conseguiu se reagrupar e passou a fazer ataques constantes contra os militares estrangeiros e a população civil. O grupo não se pronunciou sobre o fechamento do acordo, mas participa de conversas com os EUA desde o ano passado.
O anúncio ocorre um dia depois de o presidente Donald Trump dizer que havia uma “boa chance” de chegar a um acordo com o Taleban.
Um acordo que leve à retirada de tropas do Afeganistão seria um trunfo para Trump, que busca o segundo mandato na eleição deste ano. Ele prometeu diversas vezes acabar com o que chama de “guerras sem fim”. Cerca de 14 mil soldados americanos estão no Afeganistão como parte da missão da Otan liderada pelos EUA para treinar as forças afegãs e realizar operações de combate ao terrorismo.
A disposição do Taleban de reduzir a violência abre caminho para assinatura do acordo entre os insurgentes e os Estados Unidos, que prevê retirada gradual das tropas no país em troca da promessa de que o solo afegão não será usado por organizações terroristas para lançar ataques contra os EUA e seus aliados.
A assinatura do pacto levaria o processo de paz para sua etapa seguinte, em que os insurgentes se sentariam para dialogar com o governo afegão, algo até agora excluído das negociações, e com outras facções políticas, para negociar a futura partilha do poder. O Taleban se recusou a negociar com o governo afegão no passado, descrevendo-o como fantoche americano.
Em setembro, Trump cancelou uma reunião secreta que faria com o grupo, em solo americano, porque os insurgentes seguiram realizando ataques enquanto as conversas eram realizadas.
“Se eles não podem realizar um cessar-fogo durante essas conversas de paz tão importantes, então eles provavelmente não têm o poder para negociar um acordo significativo”, publicou Trump em uma rede social.
O presidente dos EUA reclama que os soldados fazem pouco mais do que um trabalho de polícia, que a guerra demanda muito dinheiro e prometeu que terminaria com esse conflito, que dura 18 anos e começou após os ataques de 11 de setembro de 2001.
O Taleban, que na época governava o Afeganistão, foi acusado de dar abrigo aos terroristas que realizaram o atentado. Após a invasão americana, o grupo foi derrubado do governo em poucas semanas. Seus sobreviventes se esconderam ou foram para países vizinhos, como o Paquistão.
Nos anos seguintes, os Estados Unidos construíram bases militares no Afeganistão e ajudaram o país a montar um governo democrático.
Houve eleições a partir de 2004, mas queixas de fraude, corrupção e brigas afetaram a credibilidade do governo. Enquanto isso, o Taleban ressurgiu, fazendo ataques, ao lado de outros grupos rebeldes.
O país realizou eleições presidenciais em setembro, mas o resultado não foi divulgado.