Após negar, Trump admite ter enviado Giuliani à Ucrânia
Advogado do republicano foi ao país para obter informações de adversários
são paulo O presidente americano, Donald Trump, voltou atrás em declarações anteriores nesta quinta (13) e admitiu ter enviado seu advogado, Rudy Giuliani, à Ucrânia com o objetivo de coletar informações que pudessem prejudicar seus adversários políticos.
Durante entrevista ao podcast “Roadkill with Geraldo”, o jornalista Geraldo Rivera perguntou se não era estranho o fato de Trump ter enviado Giuliani e se ele se arrependia da decisão. “Não, de forma alguma”, respondeu o presidente.
A admissão ocorre uma semana após o republicano ser absolvido no processo de impeachment, que se concentrou na acusação de que Trump teria abusado de seu cargo ao pressionar Kiev a reabrir uma investigação envolvendo o democrata Joe Biden.
Trump disse ainda que recorreu a Giuliani após ter tido uma “amostra muito ruim” da comunidade de inteligência dos EUA por causa da investigação envolvendo a Rússia.
O filho de Joe Biden, Hunter, atuou no conselho de administração de uma das maiores empresas ucranianas, a
Burisma, enquanto seu pai era vice-presidente de Barack Obama (2009 - 2017).
A companhia chegou a ser investigada, mas o Departamento Nacional Anticorrupção da Ucrânia afirmou no fim de setembro de 2019 que o inquérito se limitou aos anos de 2010 e 2012, antes da participação de Hunter na firma.
Trump negou em diversas ocasiões ter ordenado que Giuliani viajasse à Ucrânia para obter informações que comprometessem Biden, visto à época como o pré-candidato democrata com as maiores chances de disputar o pleito deste ano contra Trump.
A negativa mais veemente de Trump sobre ter ordenado ou não Giuliani ocorreu em novembro último, quando o apresentador de rádio Bill O’Reilly, um conservador, lhe perguntou diretamente: “Você não ordenou que Giuliani fosse à Ucrânia para fazer algo ou pressioná-los?”.
“Não, não dei ordens a ele” disse Trump. O próprio Giuliani afirmou, no início de maio de 2019, planejar viajar à Ucrânia como advogado de Trump com o objetivo de pressionar o novo governo a reabrir inquéritos sobre o democrata e seu filho —Volodimir Zelenski tomou posse como presidente no dia 20 daquele mês.
“Não há nada de ilegal nisso”, disse Giuliani ao jornal The New York Times à época.
“Alguém poderia dizer que é impróprio. E isso [as viagens] não é política externa —estou pedindo a eles que façam uma investigação que já estão fazendo e que outras pessoas estejam pedindo que parem.”
O inquérito, no entanto, já havia sido arquivado, em 2017.
“E vou dar a eles [ucranianos] razões pelas quais eles não devem pará-la [a investigação], porque essas informações serão muito, muito úteis para o meu cliente e podem ser úteis para o meu governo”, acrescentou Giuliani na entrevista ao jornal americano.
Várias testemunhas ouvidas no processo de impeachment descreveram como o advogado se encontrou com oficiais ucranianos em busca de informações comprometedoras sobre Joe e Hunter Biden.
Giuliani também foi mencionado por Trump durante um telefonema com Zelenski, que veio a público graças a uma denúncia anônima e serviu de ponto de partida para o processo de impeachment.
Na ocasião, o presidente americano disse ao ucraniano que Giuliani e o secretário de Justiça dos EUA, William Barr, entrariam em contato para discutir a reabertura da investigação sobre a Burisma.