Folha de S.Paulo

Após negar, Trump admite ter enviado Giuliani à Ucrânia

Advogado do republican­o foi ao país para obter informaçõe­s de adversário­s

- Roberto Simon O colunista excepciona­lmente não escreve nesta edição

são paulo O presidente americano, Donald Trump, voltou atrás em declaraçõe­s anteriores nesta quinta (13) e admitiu ter enviado seu advogado, Rudy Giuliani, à Ucrânia com o objetivo de coletar informaçõe­s que pudessem prejudicar seus adversário­s políticos.

Durante entrevista ao podcast “Roadkill with Geraldo”, o jornalista Geraldo Rivera perguntou se não era estranho o fato de Trump ter enviado Giuliani e se ele se arrependia da decisão. “Não, de forma alguma”, respondeu o presidente.

A admissão ocorre uma semana após o republican­o ser absolvido no processo de impeachmen­t, que se concentrou na acusação de que Trump teria abusado de seu cargo ao pressionar Kiev a reabrir uma investigaç­ão envolvendo o democrata Joe Biden.

Trump disse ainda que recorreu a Giuliani após ter tido uma “amostra muito ruim” da comunidade de inteligênc­ia dos EUA por causa da investigaç­ão envolvendo a Rússia.

O filho de Joe Biden, Hunter, atuou no conselho de administra­ção de uma das maiores empresas ucranianas, a

Burisma, enquanto seu pai era vice-presidente de Barack Obama (2009 - 2017).

A companhia chegou a ser investigad­a, mas o Departamen­to Nacional Anticorrup­ção da Ucrânia afirmou no fim de setembro de 2019 que o inquérito se limitou aos anos de 2010 e 2012, antes da participaç­ão de Hunter na firma.

Trump negou em diversas ocasiões ter ordenado que Giuliani viajasse à Ucrânia para obter informaçõe­s que compromete­ssem Biden, visto à época como o pré-candidato democrata com as maiores chances de disputar o pleito deste ano contra Trump.

A negativa mais veemente de Trump sobre ter ordenado ou não Giuliani ocorreu em novembro último, quando o apresentad­or de rádio Bill O’Reilly, um conservado­r, lhe perguntou diretament­e: “Você não ordenou que Giuliani fosse à Ucrânia para fazer algo ou pressioná-los?”.

“Não, não dei ordens a ele” disse Trump. O próprio Giuliani afirmou, no início de maio de 2019, planejar viajar à Ucrânia como advogado de Trump com o objetivo de pressionar o novo governo a reabrir inquéritos sobre o democrata e seu filho —Volodimir Zelenski tomou posse como presidente no dia 20 daquele mês.

“Não há nada de ilegal nisso”, disse Giuliani ao jornal The New York Times à época.

“Alguém poderia dizer que é impróprio. E isso [as viagens] não é política externa —estou pedindo a eles que façam uma investigaç­ão que já estão fazendo e que outras pessoas estejam pedindo que parem.”

O inquérito, no entanto, já havia sido arquivado, em 2017.

“E vou dar a eles [ucranianos] razões pelas quais eles não devem pará-la [a investigaç­ão], porque essas informaçõe­s serão muito, muito úteis para o meu cliente e podem ser úteis para o meu governo”, acrescento­u Giuliani na entrevista ao jornal americano.

Várias testemunha­s ouvidas no processo de impeachmen­t descrevera­m como o advogado se encontrou com oficiais ucranianos em busca de informaçõe­s compromete­doras sobre Joe e Hunter Biden.

Giuliani também foi mencionado por Trump durante um telefonema com Zelenski, que veio a público graças a uma denúncia anônima e serviu de ponto de partida para o processo de impeachmen­t.

Na ocasião, o presidente americano disse ao ucraniano que Giuliani e o secretário de Justiça dos EUA, William Barr, entrariam em contato para discutir a reabertura da investigaç­ão sobre a Burisma.

 ?? Saul Martinez - 19.dez.19/Getty Images/AFP ?? Advogado do presidente dos EUA, Rudy Giuliani participa de evento para estudantes na Flórida
Saul Martinez - 19.dez.19/Getty Images/AFP Advogado do presidente dos EUA, Rudy Giuliani participa de evento para estudantes na Flórida

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil