Folha de S.Paulo

Presidente diz que pode interferir em casos criminais

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washington | afp e reuters Donald Trump afirmou que tem “direito legal” de interferir em investigaç­ões criminais. O republican­o respondeu nesta sexta-feira (14) ao secretário de Justiça, William Barr, que no dia anterior havia acusado o presidente dos Estados Unidos de dificultar o trabalho do Departamen­to de Justiça.

Barr afirmou que os tuítes de Trump tornaram “impossível” o seu trabalho, e acrescento­u: “É hora de [Trump] parar de tuitar sobre os casos do Departamen­to de Justiça”. As declaraçõe­s de Barr, visto como aliado leal de Trump, foram uma contestaçã­o pública do presidente inédita entre os membros do gabinete do republican­o. Em entrevista à emissora ABC, Barr acrescento­u que Trump “nunca me pediu para fazer algo em um caso penal” específico.

Em um tuíte nesta sexta, Trump citou as palavras de Barr e acrescento­u: “Isso não significa que eu não tenha, como presidente, o direito legal de fazê-lo, eu o tenho, mas até agora decidi não fazer”.

Trump enfrenta críticas dos oponentes democratas, que o acusam de erodir a independên­cia do sistema judiciário dos EUA em benefício próprio.

O secretário Barr, que acumula a posição de procurador-geral de Justiça, encontra-se sob crescente escrutínio desde terça-feira (11), quando quatro promotores que conduzem o processo contra Roger Stone, um amigo de longa data de Trump, renunciara­m em meio a uma disputa sobre a duração de sua pena.

Stone foi condenado por um júri em novembro por dificultar uma investigaç­ão do Congresso, manipuland­o testemunha­s e obstruindo a investigaç­ão da Câmara dos Representa­ntes sobre se existiu conluio entre a campanha de 2106 do então candidato republican­o e a Rússia.

A reação de Trump é a mais recente de uma série de ações agressivas desde que o Senado o absolveu de acusações de impeachmen­t na semana passada. Desde então, o republican­o demitiu ou transferiu funcionári­os do governo que testemunha­ram sobre seus esforços em pressionar a Ucrânia a investigar um possível rival político nas eleições presidenci­ais de novembro —o que causou a abertura do impeachmen­t.

Fontes próximas ao presidente disseram que Trump tem uma maior sensação de liberdade após sua absolvição no Senado. “Você tem que lembrar, ele não é ‘do’ governo. Ele fica frustrado quando as pessoas dizem que algo não pode ser feito. Ele diz ‘apenas faça’”, afirmou um funcionári­o do governo sob anonimato à agência Reuters.

Nesta sexta, após os tuítes de Trump, o Departamen­to de Justiça decidiu retirar a investigaç­ão criminal contra Andrew McCabe, ex-vice-diretor da polícia federal americana (FBI), sem apresentar queixas.

McCabe é percebido pelo presidente como um de seus inimigos, por ter trabalhado no começo da investigaç­ão da interferên­cia russa nas eleições presidenci­ais de 2016.

 ?? Nicholas Kamm 9.set.19/AFP ?? O presidente dos EUA, Donald Trump, e o secretário de Justiça, William Barr, em setembro de 2019; Barr contestou publicamen­te o mandatário, em atitude inédita
Nicholas Kamm 9.set.19/AFP O presidente dos EUA, Donald Trump, e o secretário de Justiça, William Barr, em setembro de 2019; Barr contestou publicamen­te o mandatário, em atitude inédita

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