Folha de S.Paulo

Criminosos queimam ônibus, fecham lojas e depredam carros em Vitória

Governo afirma que onda de crimes está ligada à morte de adolescent­e suspeito de chefiar tráfico

- Lucas Rezende

vitória Criminosos espalharam pânico em Vitória nesta sexta-feira (14), com ataques em pelo menos quatro importante­s avenidas da capital do Espírito Santo.

Lojas fecharam as portas, e bandidos depredaram carros, atearam fogo em ônibus e impediram o trânsito com tiros e foguetes. As regiões atingidas são próximas ao Complexo da Penha, região que compreende seis bairros e é palco da ação de facções criminosas.

Na avenida Maruípe, na zona sul, um ônibus foi intercepta­do por bandidos. Os passageiro­s foram obrigados a deixar o coletivo, que foi incendiado. A rodovia Serafim Derenze, na região, foi bloqueada. Na via, um carro de reportagem da TV Vitória, afiliada da Record TV no estado, foi destruído. Criminosos tentaram queimar o veículo, mas não conseguira­m.

Importante ponto de comércio de Vitória, a avenida Leitão da Silva também foi palco de ações: criminosos bloquearam o trânsito, depredaram carros e impuseram toque de recolher. Um carro dos Correios foi atacado. Na região, uma família foi rendida e teve o carro queimado.

O carro do deputado estadual Lorenzo Pazolini (sem partido) também foi alvo de ataque. Enquanto passava pela avenida Marechal Campos, seis homens atingiram o veículo com fogos de artifício. Pazolini não ficou ferido. Testemunha­s relatam que, na via, cerca de 30 homens cobriram o rosto e espalharam terror no trânsito.

Um dos mais luxuosos hotéis de Vitória foi atacado no bairro rico da Enseada do Suá. Por volta do meio-dia, quatro pessoas jogaram pedras nas vidraças do hotel. Muitos comerciant­es de regiões vizinhas aos ataques fecharam as portas. Nas ruas, mesmo à tarde, o clima era de medo e havia poucas pessoas nas ruas.

O Instituto Federal do Espírito Santo suspendeu todas as atividades no campus da capital, que fica no perímetro das ações dos criminosos. Unidades de saúde da região da Grande Maruípe, atingida pelos ataques, tiveram atendiment­o suspenso, algumas escolas da região cancelaram as aulas e ônibus não circulavam nas áreas afetadas.

A escalada de violência acontece na mesma manhã da morte de Caio Matheus Silva Santos, 17. De acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública, ele é suspeito de gerenciar o tráfico de drogas do Bonfim, bairro vizinho ao da Penha.

Moradores da região do bairro da Penha, dominado pelo tráfico, dizem que Santos foi morto por policiais durante uma operação na região.

A secretaria afirma que trabalha com a hipótese de que as ações da manhã têm relação com a morte de Santos.

A Coordenado­ria de Operações

e Recursos Especiais da Polícia Civil diz que fazia uma operação de cumpriment­o de mandado de prisão no bairro na manhã desta sexta e que, quando os policiais se retiravam do local, se depararam com criminosos armados e houve uma troca de tiros.

A pasta, no entanto, diz que não pode confirmar, sem investigar o caso, que a morte de Santos aconteceu justamente durante essa operação.

Seis pessoas foram presas no Complexo da Penha durante esta sexta-feira, sob suspeita de envolvimen­to com os ataques coordenado­s. Duas delas foram detidas com galões de combustíve­l na avenida Marechal Campos. Outros quatro estavam no bairro da Penha —um sétimo suspeito foi liberado por ser menor de idade.

O governador Renato Casagrande (PSB) disse que “a polícia atuará com mais força ainda”. Na memória dos capixabas, as cenas de lojas fechadas e carros destruídos remete a 2017, quando uma greve de policiais militares no estado desencadeo­u uma situação de instabilid­ade e provocou uma onda de violência, com saques, paralisaçã­o do serviço de ônibus e aulas suspensas.

 ?? Thiago Sobrinho/A Tribuna ?? Ônibus incendiado na avenida Maruípe, na zona sul de Vitória, em onda de ataques na manhã desta sexta
Thiago Sobrinho/A Tribuna Ônibus incendiado na avenida Maruípe, na zona sul de Vitória, em onda de ataques na manhã desta sexta

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