Dossiê coronavírus
Novo vírus identificado em dezembro na China deixou mais de 60 mil infectados e 1.500 mortos e muitas dúvidas
Tudo o que se sabe até agora sobre a epidemia, que começou em janeiro na China e deixou mais de 1.500 mortos, 60 mil infectados e muitas dúvidas.
O que é coronavírus?
É uma família de vírus que podem infectar animais e seres humanos e causar doenças respiratórias que variam de resfriados comuns até a Sars (síndrome respiratória aguda grave). Seu nome vem dos picos de suas membranas que lembram uma coroa. O novo coronavírus covid-19 identificado na China em janeiro de 2020 é cerca de 80% idêntico geneticamente ao da Sars (que deixou milhares de pessoas doentes e matou cerca de 800 durante uma epidemia em 2002 e 2003) e mais próximo ainda de diversos coronavírus presentes em morcegos, segundo estudo no portal aberto bioRxiv.
Quão perigoso ele é?
Autoridades de saúde no mundo todo estão alarmadas, mas é difícil avaliar a letalidade de um novo vírus com rapidez. Ainda não está claro com que facilidade o covid-19 é transmitido de pessoa para pessoa. Seu N0 (número de quantas novas pessoas, em média, são infectadas por cada doente) está numa faixa de 1,5 a 3,5, segundo as estimativas feitas até agora. Ele parece se equiparar ao dos vírus da gripe e provavelmente supera o vírus da dengue, cujo número nunca chega a 2. O N0 do sarampo, por exemplo, é 20.
Especialistas também destacam que o balanço de mortos ainda é relativamente baixo. Pelos dados iniciais publicados, a estimativa inicial é de que a letalidade seja em torno de 2% a 3%.
Se o número de infectados assusta —até agora são mais de 60 mil infectados no mundo—, é preciso levar em conta que, todos os anos, gripes e pneumonias matam por ano 80 mil pessoas no Brasil. Nos EUA, 200 mil pessoas são internadas com gripe e cerca de 35 mil morrem.
Como ele é transmitido?
O novo coronavírus é transmitido através de tosse e espirro, assim como outros vírus respiratórios. Segundo a OMS, a fonte primária do surto tem origem animal, e as autoridades de Wuhan disseram que o epicentro da epidemia era um mercado de peixes e animais vivos. Não se sabe qual bicho teria passado o vírus a humanos.
Qual é o perfil dos infectados até agora?
Segundo informações preliminares da OMS, 72% das pessoas infectadas tinham mais de 40 anos, 64% eram homens e em 40% dos casos os pacientes tinham outras doenças
associadas, como diabetes, pressão alta e problemas cardiovasculares. Esses números são relativos a casos encaminhados à OMS nos quais houve hospitalização, o que indica que sejam casos mais graves. A distribuição etária observada até agora, porém, não significa que a doença não afete outras pessoas, mas, sim, que as manifestações mais visíveis estão nos grupos citados anteriormente.
Como a infecção é diagnosticada?
Como a China compartilhou informações sobre o sequenciamento genético do vírus, os países podem fazer testes laboratoriais para identificá-lo. Eles são necessários para confirmar casos de suspeita, exceto na província de Hubei, epicentro da epidemia. Na última semana, a China mudou as regras e permitiu que apenas nessa localidade exames clínicos sejam suficientes para acelerar o tratamento, segundo as autoridades.
Quais são os sintomas?
Há casos assintomáticos e também infecções de vias aéreas superiores semelhantes ao resfriado (com coriza, febre e dificuldade para respirar) e até casos graves com pneumonia e insuficiência
respiratória aguda, com dificuldade respiratória. Radiografias do peito de pacientes infectados apontaram infiltrações nos pulmões. Crianças, idosos e pacientes com baixa imunidade podem apresentar manifestações mais graves. Em caso de suspeita e de histórico de viagem para os países afetados, especialmente a China, é recomendável procurar um serviço de saúde.
Quais as diferenças entre a doença causada pelo coronavírus, a gripe e o resfriado?
Pessoas infectadas pelo novo coronavírus covid-19, com gripe ou um resfriado normalmente desenvolvem sintomas respiratórios como febre, tosse e coriza. Apesar de os sintomas serem parecidos, eles podem ser causados por diferentes vírus, por isso testes laboratoriais são necessários para confirmar a infecção pelo novo vírus. Um fator importante nesse caso é a viagem para a China, epicentro da epidemia, ou o contato com pessoas que voltaram do país .
Qual é o tempo de incubação do vírus? O período de incubação é o período entre a infecção o início dos sintomas. Estimativas apontam que ele é de 1 a 12,5 dias, com média de 5 a 6 dias. Baseado em epidemias anteriores de coronavírus, o período pode ser de até 14 dias. Como se proteger?
Segundo a OMS, as medidas protetoras gerais são:
• Lavar frequentemente as mãos usando álcool em gel ou água e sabão, especialmente após contato com pessoas doentes e antes de se alimentar
• Quando tossir ou espirrar, cobrir a boca e o nariz com as mãos ou lenços descartáveis
• Evitar o contato próximo com quem tiver febre e tosse
• Em caso de febre, tosse e dificuldade para respirar, buscar ajuda imediata e compartilhar o histórico de viagens com os profissionais de saúde
• Manter os ambientes ventilados
• Evitar tocar nos olhos, nariz e boca
E as máscaras cirúrgicas?
Máscaras podem ajudar a limitar o espalhamento de doenças respiratórias, mas por si só não são garantia de prevenção e devem ser combinadas com as medidas de higiene citadas anteriormente, segundo a OMS. A entidade aconselha o uso racional de máscaras para evitar desperdício , ou seja, usá-las apenas em caso de sintomas respiratórios, suspeita de infecção por coronavírus ou em caso de profissionais que estejam cuidando de casos de suspeita.
Existe tratamento?
Não há um medicamento específico para a infecção. Indica-se repouso e ingestão de líquidos, além de medidas para aliviar os sintomas, como analgésicos e antitérmicos. Nos casos de maior gravidade com pneumonia e insuficiência respiratória, suplemento de oxigênio e mesmo ventilação mecânica podem ser necessários. Os tratamentos abaixo não têm eficácia contra o coronavírus:
• Vitamina C
• Chás de ervas
• Antibióticos
• “Shots” de imunidade
• Ozonioterapia
Essa é uma emergência de saúde pública internacional?
Sim. A OMS (Organização Mundial da Saúde) anunciou no dia 30 de janeiro que se trata de uma emergência internacional. A agência usou essa denominação poucas vezes, como no caso do vírus H1N1, ou febre suína (2009), a epidemia do vírus do ebola (2014-2016) e o vírus da zika (2016).
O vírus já chegou ao Brasil?
Não há casos confirmados da infecção no Brasil.
O Ministério da Saúde acompanha casos de suspeita e divulga diariamente atualizações. Os brasileiros que chegaram da China e estão em quarentena em Anápolis (GO) não apresentaram sintomas, e seus exames deram negativo para coronavírus até agora.
Vou viajar para fora do país. O que devo fazer?
A OMS não recomenda nenhuma medida de saúde específica para viajantes além das medidas de proteção gerais já citadas nem qualquer tipo de restrição a viagens para a China ou de comércio com o país com base nas informações disponíveis.
O Ministério da Saúde do Brasil desaconselha viagens à China neste momento.
Posso me contaminar com produtos que venham da china?
Não. Pela experiência com outros coronavírus, eles não sobrevivem muito em objetos como cartas e pacotes.
Quanto tempo essa epidemia vai durar?
A OMS disse que ainda é cedo para prever o fim da epidemia. A da Sars durou cerca de um ano. Segundo a médica Fátima Marinho, o vírus pode se espalhar com rapidez e se mostrar mais infectante ou então se enfraquecer e se tornar mais um, como o da influenza, uma gripe forte que vai e volta. Em breve, os cenários estarão mais claros.