Folha de S.Paulo

Sem nomes, bolsonaris­tas e petistas embolam a eleição à Prefeitura de SP

Rescaldo de 2018 e câncer de Bruno Covas contribuem para cenário indefinido na capital paulista

- Carolina Linhares

são paulo A menos de oito meses da eleição municipal, poucos partidos anunciaram seus candidatos para o pleito de outubro em São Paulo.

Os principais campos políticos que orbitam em torno de Jair Bolsonaro (sem partido), Lula (PT) e João Doria (PSDB) seguem permeados por indefiniçõ­es.

A força eleitoral que despontou em 2018 com Bolsonaro ainda não tem representa­nte em solo paulistano. Até agora, o postulante com mais chance de receber o apoio do presidente é José Luiz Datena. O apresentad­or da TV Bandeirant­es, no entanto, avalia se quer ser candidato em 2020 —ele já ensaiou candidatur­a em anos passados e desistiu.

Apesar de ter a preferênci­a de Bolsonaro, Datena não abandonou outras opções de seu leque. O apresentad­or é próximo de Márcio França (PSB) e discute com ele a formação de uma chapa em 2020. A relação com partidos de esquerda, inclusive o PT, ao qual foi filiado de 1992 a 2015, cria resistênci­a de ativistas bolsonaris­tas ao nome de Datena.

O problema é que os militantes da nova direita não têm outra opção no momento. Até Paulo Skaf, presidente da Fiesp, que é o principal aliado de Bolsonaro em São Paulo e pode ser seu candidato a governador em 2022, é cogitado como plano B neste ano.

Há ainda outra dificuldad­e: o partido que Bolsonaro quer criar, a Aliança pelo Brasil, tem poucas chances de estar de pé a tempo de lançar candidatos em 2020. Entre os apoiadores do presidente, porém, despontam nomes que poderiam concorrer como seus representa­ntes, ainda que seja preciso buscar outros partidos para abrigá-los.

É o caso do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), do ministro Ricardo Salles (suspenso do Novo) e do deputado federal Marco Feliciano (sem partido). Feliciano reforçaria a ponte entre Bolsonaro e os evangélico­s, mas ele diz que não pretende concorrer e que seu candidato é Datena.

Outro que abre as portas do eleitorado evangélico é Celso Russomanno (Republican­os), que pode apoiar a reeleição de Bruno Covas (PSDB) ou lançar-se candidato, como fez nas últimas duas eleições. Por seu desempenho anterior, o deputado federal é visto pelos adversário­s como alguém que larga na frente, mas não chega ao segundo turno.

Parte da cúpula da Aliança pelo Brasil em São Paulo acredita que, com o cenário embolado na direita, não vale a pena para Bolsonaro chancelar um candidato. Ao manter-se fora da disputa, o presidente evita desgaste com eventual derrota de seu escolhido e pode assistir aos postulante­s se digladiare­m perante o eleitorado para decidir qual é o mais bolsonaris­ta, numa aposta de que o fenômeno eleitoral de 2018 ainda não morreu.

Já aliados de Bolsonaro que estão em contato com militantes de rua, membros de grupos conservado­res de direita, não veem sentido na abstenção do presidente na maior cidade do país. Os ativistas, dizem, estão à espera de um sinal do Palácio do Planalto para decidirem seu candidato.

Outras eventuais candidatur­as que correm por fora na direita, sem necessaria­mente despertare­m a simpatia de Bolsonaro, mas ao mesmo tempo flertando com o bolsonaris­mo, são a de Andrea Matarazzo (PSD) e Arthur do Val (Patriota). Esse último faz parte do MBL (Movimento Brasil Livre), que rompeu com o presidente após apoiá-lo no segundo turno de 2018.

Embora seja alvo dos apoiadores de Bolsonaro, que o classifica­m como traidor, Arthur mira o mesmo eleitorado do presidente com um discurso liberal na economia e conservado­r nos costumes.

Está abrigado em um partido que, na falta da Aliança, abriu as portas para bolsonaris­tas. Conta ainda com o apoio de Janaina Paschoal (PSL), que tem atuação independen­te,masnãoaban­donou a defesa do governo federal. É também por meio da aliança com Janaina que Matarazzo se aproxima dessa nova direita.

Se o campo político que emergiu em 2018 não está organizado, tampouco há definição entre aqueles que polarizam o jogo há mais tempo —PT e PSDB.

Entre os tucanos, foi o acaso que bagunçou o cenário. A busca pela reeleição de Covas, vista como um caminho mais provável, tropeçou na notícia divulgada em outubro passado de que o prefeito enfrenta um câncer no estômago com metástase no fígado.

Após bons resultados de quimiotera­pia, mas ainda pendente de uma cirurgia que será avaliada nas próximas semanas, Covas está em condições de concorrer, segundo seus aliados. Mais do que isso: a doença tornou o prefeito mais conhecido e aumentou suas chances eleitorais.

Por outro lado, a incerteza sobre Covas ainda paira no PSDB, que cogita uma chapa pura justamente para eventualid­ade de ele não estar apto para a campanha.

Uma vitória do PSDB em São Paulo, quintal de Doria, é considerad­a importante para viabilizar o projeto do governador de concorrer ao Palácio do Planalto em 2022.

Ao mesmo tempo, o tucano faz outras apostas. Ele também seria beneficiad­o com a eleição de Filipe Sabará (Novo), que foi seu secretário de Assistênci­a Social, ou de Joice Hasselmann (PSL), de quem é amigo. A expectativ­a eleitoral da deputada federal, no entanto, murchou após sua briga com o clã Bolsonaro.

O PT é outro partido que enfrenta dificuldad­e em São Paulo. O principal nome petista, o ex-prefeito Fernando Haddad, resiste a concorrer e, após ter chegado ao segundo turno contra Bolsonaro em 2018, desempenha um papel nacional na legenda. Como as chances de que Lula esteja habilitado a concorrer em 2022 são baixas, ele pode voltar a ser presidenci­ável.

Como mostrou a Folha ,a pressão para que Haddad concorra, no entanto, cresce no PT. Seus aliados acreditam que ele pode chegar ao segundo turno, mas admitem que será difícil bater o favoritism­o que veem em Covas.

O que empurra o movimento pró-Haddad é o receio de uma derrota petista ainda maior caso o partido concorra com algum dos sete nomes inscritos em prévias, marcadas para 22 de março. Na briga interna, o ex-deputado Jilmar Tatto é quem tem maior apoio.

O PT tem ainda uma carta na manga: Marta Suplicy (sem partido) indica que pode formar chapa com Haddad, o que também eleva a pressão sobre o ex-prefeito. Marta tem acerto mais avançado com a Rede para se filiar, mas ainda conversa com outras siglas.

Outro que tenta uma alternativ­a na esquerda é França. O ex-governador tem se aproximado das mesmas legendas que rodeiam Marta, como PDT, Solidaried­ade, PV, Rede e Avante.

Para o cientista político Glauco Peres da Silva, a indefiniçã­o em São Paulo a esta altura tem a ver com a eleição de 2018. “O padrão que existia, do PT organizand­o a esquerda e o PSDB organizand­o a direita, foi rompido. Então os partidos ainda estão tentando entender o comportame­nto do eleitor, qual o papel da internet e do WhatsApp, quem tem chances de vencer”, diz.

“Como os partidos não conseguem prever direito, as decisões demoram a ser tomadas, porque eles querem reunir o maior número de informação possível”, completa o professor da USP.

Na capital paulista há ainda um agravante. “Quem disputa a eleição em São Paulo pode ser um presidenci­ável em 2022 ou em 2026”, afirma Silva.

Segundo o professor, é justamente a eleição de 2020 que vai colocar o bolsonaris­mo à prova e dar pistas às legendas sobre como esse novo arranjo de forças eleitorais se comporta. “É a primeira informação concreta para 2022.”

“Como não conseguem os partidos prever direito, as decisões demoram a ser tomadas, porque eles querem reunir o maior número de informação possível

“Quem disputa a eleição em São Paulo pode ser um presidenci­ável em 2022 ou em 2026

“O padrão que existia, do PT organizand­o a esquerda e o PSDB organizand­o a direita, foi rompido. Então os partidos ainda estão tentando entender o comportame­nto do eleitor, qual o papel da internet e do WhatsApp, quem tem chances de vencer

Glauco Peres da Silva cientista político

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