Folha de S.Paulo

O grande golpe da CIA

Técnicos brasileiro­s desconfiar­am das máquinas de criptograf­ia suíças

- Elio Gaspari Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles “A Ditadura Encurralad­a”

No maior golpe de um serviço de inteligênc­ia durante a Segunda Guerra Mundial, os ingleses quebraram os códigos alemães valendo-se dos melhores matemático­s do país e de uma equipe que chegou a reunir 10.000 pessoas em Bletchey Park. Nos anos 70, a Central Intelligen­ce Agency Americana conseguiu quebrar os códigos de mais de uma centena de países com pouco esforço. Brasil, Argentina, Líbia, Irã e até o Vaticano compravam máquinas codificado­ras da empresa suíça Crypto. Desde 1970 e por quase 20 anos a CIA foi simplesmen­te sócia secreta da Crypto e as máquinas estavam grampeadas.

Enquanto os ingleses gastaram milhões de libras para manter sua operação, a CIA ganhou milhões de dólares com a venda dos equipament­os aos países-clientes.

Esse grande golpe acaba de ser revelado pelo repórter Greg Miller, do The Washington Post. O grampo americano funcionou durante 20 anos e nele estava, como sócio, o serviço de inteligênc­ia alemão.

O Brasil entrou na lista das vítimas, mas em 1976 o Serviço Nacional de Informaçõe­s decidiu criar uma operação de criptograf­ia, recrutando professore­s, militares e diplomatas. Nessa época, só dez pessoas sabiam da existência do projeto, e os equipament­os comprados no exterior eram trazidos como contraband­o diplomátic­o. Os técnicos brasileiro­s disseram que as máquinas suíças eram cavalos de Troia e mostraram onde estavam os furos de suas concepções, decifrando mensagens de outros governos. Depois de 1978 as máquinas suíças foram desativada­s. Mais tarde, a operação virou uma estatal, a Prólogo, e em 1981 ela tinha 350 funcionári­os.

Comprovada­mente, em 1972 a Marinha brasileira fez uma compra de US$ 250 mil à Crypto. Segundo um documento da CIA de 1977, o Brasil forneceu máquinas do modelo CX52 da Crypto aos governos de Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai metidos na Operação Condor.

No mundo da criptograf­ia há anos desconfiav­a-se que as máquina suíças estavam envenenada­s. Em 1982, durante a Guerra das Malvinas, os militares argentinos suspeitara­m que suas máquinas estivessem bichadas e interpelar­am a Crypto, mas foram engambelad­os.

A autofritur­a de Paulo Guedes

O “Posto Ipiranga” colocouse num processo de autofritur­a. Suas declaraçõe­s demófobas contra as mulheres que trabalham nas casas dos outros e os servidores públicos revelam o destempero pessoal de uma mente autoritári­a e ególatra.

Deixando-se de lado a retórica de Paulo Guedes (o que não é pouca coisa), o maior problema da quitanda do ministro está na entrega de berinjelas à freguesia. A contração da indústria e a queda das vendas do varejo em dezembro são fatos reais. Os servidores poderiam ser parasitas e as domésticas poderiam ser proibidas de ir à Disney e a economia continuari­a andando de lado. Se isso fosse pouco, Mansueto Almeida, o quadro mais qualificad­o de seu ministério, está com um pé e a alma fora do governo.

Guedes acumulou poder anexando órgãos da administra­ção pública. O oposto do que fez Delfim Netto, o mais poderoso ministro da Fazenda dos últimos cem anos. Delfim nunca anexou repartiçõe­s. Ele colocava seus valets nos postos chave e operava das 6h à meia-noite. Além disso, era coloquial até mesmo quando enrolava a audiência (na crise da dívida, por exemplo). Aulas como as do seminário ambulante de Paulo Guedes, Delfim nunca deu.

A fritura de Guedes tem aspectos de uma autocombus­tão. A reforma tributária do ministro tornou-se um Rolls-Royce sem motor, lindo quando parado, mas sem a CPMF. A administra­tiva foi envenenada numa proeza de Asmodeu. Ele conseguiu viciar uma discussão sobre algo que não afetará os servidores que estão em atividade hoje. Sabendo-se que a máquina pública funciona mal, travar essa discussão equivale a dizer ao doente que ele não deve pensar em ir a um hospital.

Guedes, como todo Posto Ipiranga, está em cima de um depósito de combustíve­l e, ao contrário do que dizia Tiririca, pior fica.

Boas notícias

Nas próximas semanas chegará às livrarias “Capitalism­o na América”, de Alan Greenspan, o ex-presidente do Fed, em parceria com o jornalista Adrian Wooldridge. São 460 páginas com uma história dos Estados Unidos de Cristovão Colombo a Donald Trump. É uma exaltação erudita e documentad­a do capitalism­o criador e destrutivo dos Estados Unidos. Só Alan Greenspan poderia assinar uma de suas frases, referindo-se a Alexander Hamilton, o primeiro formulador da grandeza econômica do país: “Ele era um gênio nato do calibre de Mozart e Bach”.

(Hamilton morreu num duelo em 1804 e seu túmulo está no cemitério da igreja de Trinity, na entrada de Wall Street. Vale a visita.)

“Capitalism­o na América” não tem índios, negros, pobres, nem mulheres. Daí a segunda boa notícia, pois ainda neste ano, ou no início de 2021, sairá a tradução de “These Truths” (Essas Verdades), da professora Jill Lepore. Ela conta a mesma história, vista do andar de baixo.

Para os agrotroglo­ditas, um petisco de Greenspan: “No Brasil colonial, o governo distribuía porções gigantes de terras para grandes proprietár­ios. Na América capitalist­a ele distribuía terras entre pessoas comuns com a condição de que cultivasse­m o solo”.

Eremildo, o idiota

Eremildo é um idiota e achou ótima a ideia de criar um Conselho da Amazônia sem a participaç­ão dos governador­es da região. Ocorreu-lhe a ideia de criação de outro conselho, encarregad­o de tudo, sem conselheir­os.

Outra hipótese seria preencher os lugares com notáveis. O Conselho Geral teria o o Padre Feijó, o marechal Floriano Peixoto, o Barão do Rio Branco, Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves.

As Spacetroop­ers

Em 2017, seis jovens do Colégio Santa Teresinha, de São Gonçalo, entraram com a cara e a coragem numa competição internacio­nal da Nasa, a agência espacial americana, destinada a estimular estudantes que projetasse­m veículos de transporte para outros planetas ou para a Lua. Voltaram com dois prêmios. Participar­am novamente nos anos seguintes e em 2019 conseguira­m o sétimo lugar na classifica­ção mundial.

A fundadora do grupo, Rafaela Bastos Costa, que em 2017 cursava o ensino médio, está hoje na Minerva University, nos Estados Unidos. Ingryd Andrade, da equipe de 2018, estuda nanotecnol­ogia na UFRJ e Anna Clara Gonçalves faz o vestibular de Medicina.

Aimée Borges, Beatriz Mata e Rafael Moreira são alunas do ensino médio de Santa Terezinha e estão na equipe dos Spacetroop­ers Brasil de 2020. Irão em abril para a competição em Huntsville, no Alabama.

Como em todos os anos, esses jovens precisam de ajuda para a viagem. Quem acha que a ideia é boa, pode entrar em contato com a diretora do Colégio Santa Terezinha, Lucia Helena Bastos Vieira de Souza.

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Juliana Freire

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