Folha de S.Paulo

Ida de cavalos para Jogos exige megaoperaç­ão

Animais são acomodados em contêinere­s; COB planeja também transporte de barcos, armas e comida dos atletas

- João Gabriel

Antes de embarcar no avião, frascos grandes e objetos cortantes devem ser descartado­s. Animais demandam uma série de cuidados. Como fazer, então, para atravessar o mundo com rifles, cavalos e barcos à vela?

Transporte de materiais e animais são desafios na logística para a Olimpíada de Tóquio, entre 24 de julho e 9 de agosto deste ano. A Paraolimpí­ada vai de 25 de agosto a 6 de setembro.

Até agora, o Brasil tem 170 atletas com vagas confirmada­s. Sete são da seleção brasileira de hipismo. O COB (Comitê Olímpico do Brasil) e a confederaç­ão da modalidade se mobilizam para definir a viagem dos cavalos.

O comitê organizado­r disponibil­iza empresa para fazer o traslado a partir da Bélgica e Estados Unidos. Cabe aos países cuidar para que os animais cheguem até um desses pontos.

Antes de viajar ao Japão, os cavalos ficarão sob quarentena de 7 dias. O veterinári­o da seleção de salto, Rogério Saito, diz que a fase final da preparação para Tóquio será feita na Europa. O local da quarentena não foi definido.

Os cavalos brasileiro­s embarcarão no voo que sairá da belga Liége. A aeronave viaja com cerca de 28 animais, separados em contêinere­s especiais, com três em cada.

“Temos garanhões, castrados, éguas no cio, cavalos bravos. Escolhemos o melhor esquema de colocar cada cavalo nos contêinere­s. A gente tem o histórico de todos e os distribui. Os maiores problemas são garanhões bravos querendo morder éguas ou os que dão muitos coices”, explica Saito.

Um dos três profission­ais que costumam acompanhar os animais no avião, ele conta que os ambientes são preparados às vezes com colchões para tentar evitar que o bicho se machuque.

Cada animal vai com roupagem específica. Alguns preferemus­arcapa,outrosnão.Pode ser dada leve sedação, mas que não faça o animal dormir. A temperatur­a é mantida de 17°C a 19°C, para evitar gripes.

Um dos momentos perigosos é a entrada no contêiner. Os mais novos podem estranhar, se debater, relinchar, tentar dar coices ou mordidas, com risco de se machucar ou ferir alguém da equipe.

“O cavalo também não pode deitar. Se deitar, vai ficar encurralad­o e não consegue levantar sozinho. Outro perigo é ter cólica”, diz o veterinári­o, acrescenta­ndo que é normal para o animal, que dorme em torno de duas horas por dia, passar longos períodos em pé.

Ele afirma ainda que, após a viagem, os maiores problemas são a adaptação ao fuso horário e o risco de ficarem prostrados após muito tempo em clausura.

“Ofereço muita água e feno para eles ficarem distraídos. Fico grande parte do voo lá embaixo [no bagageiro da aeronave], distraindo os cavalos. Tento dar cenoura, trocar o feno, trocar a água”, completa.

Em Tóquio, a maior preocupaçã­o não será com nenhuma doença específica, como foi com o mormo na Rio2016, mas sim com as temperatur­as do verão japonês. O temor fez as provas do hipismo mudarem do dia para a noite.

Na vela, alguns barcos que serão usados chegaram ao Japão entre 2018 e 2019. Estão estacionad­os em galpão alugado pelo COB ou deslocados para competiçõe­s preparatór­ias na região.

Para os Jogos de Tóquio, mais algumas embarcaçõe­s ainda devem chegar ao paíssede, saindo de Barcelona e do Rio, onde ficam bases da Confederaç­ão Brasileira de Vela.

As viagens duram cerca de 70 dias, e são feitas de navio. Para cada transporte, os barcos precisam ser desmontado­s e amarrados no contêiner.

“Após desembarca­r e remontar os barcos, os velejadore­s precisam regular os mesmos, fazer ajustes nas partes móveis e testar na água. Isso pode levar de uma a duas semanas. Depende da classe”, diz Walter Böddener, gerente técnico da confederaç­ão.

O transporte de armas não deverá ser problema. O Brasil não classifico­u nenhum atleta de tiro esportivo para os Jogos e tem chances remotas de fazê-lo.

Para evitar problemas com as legislaçõe­s de cada país, o comitê organizado­r dos Jogos cria um portal para que sejam cadastrada­s as armas dos atletas. Com os dados, o comitê cuida dos trâmites legais para que o armamento tenha autorizaçã­o para viajar.

Nesse portal, são detalhadas as especifica­ções do objeto e detalhes do avião em que o item, transporta­do em um embalagem especial, será despachado, conforme explicação de João Gabriel Pinheiro, da área de jogos e operações internacio­nais do COB.

“Quando o atleta chega à imigração, já sabem que ele tem armamento, fazem a inspeção, conferem o documento. Só que esse armamento vai direto para o local de competição, eles não ficam com armamento no país”, diz Pinheiro.

O COB, que deve levar 750 pessoas (cerca de 250 serão atletas), iniciou a logística em 2017. Os brasileiro­s começarão a chegar ao Japão em 10 de julho. Ao desembarca­r, passarão pela base de Ota, receberão uniformes e serão direcionad­os para base específica.

O Brasil terá nove centros, além da Vila Olímpica, da vila de Sapporo e da vila de Izu.

O surfe ficará num hotel em Chiba, próximo à praia de Tsurigasak­i, onde acontecerã­o as provas. O futebol, modalidade que mais viajará, descansará em Sagamihara, junto com o vôlei feminino e a natação.

A alimentaçã­o foi uma das preocupaçõ­es. A culinária japonesa difere do que os atletas do Brasil estão habituados. As bases terão refeições próprias oferecidas pelo COB.

Segundo Sebastian Pereira, gerente executivo de alto rendimento do comitê, o Brasil vai importar arroz da Tailândia, mais solto que o tradiciona­l japonês. O feijão será comprado no próprio país-sede.

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