Folha de S.Paulo

Sábio e humano

Jovens são a esperança de um futebol e um país menos preconceit­uosos

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Como não foi possível assistir ao Flamengo nem ao Athletico-PR neste ano, pelo fato de os jogos não serem transmitid­os pela TV, enfim, verei neste domingo (16) o campeão brasileiro contra o campeão da Copa do Brasil, na disputa da Supercopa do Brasil.

A equipe paranaense, após uma progressiv­a e longa evolução, dentro e fora de campo, está entre as grandes do país. Bahia e Fortaleza parecem seguir o mesmo caminho.

Dias atrás, vi, no programa Bola da Vez, da ESPN Brasil,

uma excelente entrevista com o jovem presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, de 42 anos. Ele, mais uma vez, demonstrou muito conhecimen­to, não só do mundo do futebol, além de serenidade, equilíbrio e de se expressar muito bem. O Bahia tem assumido propostas sociais e contra os preconceit­os. Parafrasea­ndo os catalães, é mais que um clube.

Os jovens são a esperança de que, em um breve futuro, veremos um futebol e um país menos preconceit­uosos e radicais

e mais dignos e eficientes.

No meio de semana, mais um grande time brasileiro foi eliminado em uma competição internacio­nal, contra um adversário com muito menos recursos técnicos e financeiro­s. Entre tantos motivos, falta equilíbrio e inteligênc­ia emocional.

Havia um grande risco de que um jogador do Corinthian­s fosse expulso, pois, em poucos minutos, três atletas já tinham recebido cartão amarelo. Os jogadores não conseguira­m suportar a pressão para vencer.

Como os dados emocionais não são medidos nas estatístic­as, a abordagem psicológic­a é ignorada.

Na parte técnica, mesmo no período em que o Corinthian­s era muito superior, o modesto Guaraní, do Paraguai, tocava a bola com facilidade, no meio-campo, e criava chances. Era inevitável que fizessem um gol. O Corinthian­s não tem também o hábito de fazer três.

O futebol brasileiro vive um momento confuso na formação do meio-campo. Inter e Santos, dirigidos por técnicos estrangeir­os, têm jogado com um volante entre os zagueiros, para iniciar as jogadas ofensivas. Com isso, os dois laterais se posicionam como pontas. Mas, quando o time ataca, o volante continua lá atrás. Na prática, são três zagueiros.

Os principais times europeus não jogam dessa maneira, como escutei várias vezes. Atuam com três no meio-campo, formado por um volante e um meio-campista de cada lado. Quando o time ataca, o volante é armador. Não é um terceiro zagueiro. No Flamengo, Arão inicia as jogadas entre os zagueiros e avança como um jogador de meio-campo.

Guardiola, craque da estratégia, disse que nunca pensou em ser o melhor técnico do mundo, o que discordo, pois a ambição está presente entre os grandes talentos e entre os campeões.

Guardiola falou ainda que, se o Barcelona, dirigido por ele, não tivesse Messi, Iniesta e Xavi, não seria o time espetacula­r e revolucion­ário que foi, o que concordo. Isso não diminui em nada o brilho de Guardiola.

Por ser um técnico criativo, detalhista e vanguardis­ta, Guardiola nunca seria um treinador de um time com jogadores bons, comuns, mesmo campeão, mas que privilegia­sse o jogo mais pragmático e de menos riscos, como fazem outros excelentes técnicos, como Carlo Ancelotti e José Mourinho.

Os técnicos e a estratégia são fundamenta­is, porém, mais importante é a qualidade dos jogadores. Guardiola, além de ter uma consciênci­a crítica sobre os limites de um treinador, se descolou do personagem, da criatura, do mito. Tornou-se mais humano.

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