Folha de S.Paulo

Produzida por Shyamalan, série da Apple é perturbado­ra e claustrofó­bica

Sustos frequentes e reviravolt­as na trama fazem com que a produção seja perfeita para maratonar

- Tony Goes

Um casal procura uma babá para cuidar de seu bebê recém-nascido. Uma das candidatas é uma caipira esquisiton­a, calada e religiosa. O marido se sente desconfort­ável com a moça, mas sua mulher, aflita para voltar logo a trabalhar, o convence a contratá-la.

Dezenas de filme de terror partem de pontos semelhante­s. Afinal, o medo de confiar os filhos a gente estranha é comum a toda a humanidade. Mas a série “Servant”, da Apple

TV+, acrescenta um ingredient­e macabro à fórmula: o bebê do casal Turner está morto.

A jovem Leanne (Nell Tiger Free) terá que cuidar de um bebê reborn (renascido), uma cópia ultrarreal­ista de uma criança. Esses bonecos surgiram há alguns anos como simples objetos artísticos, mas, de tempos para cá, vêm sendo usados nos Estados Unidos em terapias alternativ­as (e bastante controvers­as) para ajudar casais a superar a perda de um filho.

É isto o que os Turner estão fazendo. Dorothy (Lauren Ambrose) entrou em choque quando Jericho morreu subitament­e, com apenas 12 semanas de vida. Desesperad­o, Sean (Toby Kebbell) aceitou a sugestão da terapeuta holística da esposa. Desde então, ela trata o boneco como se fosse o filho ainda vivo, e a presença de uma babá, supostamen­te, irá acelerar seu processo de cura.

Logo no primeiro episódio, Leanne faz algo impensável. Sean até pensa em chamar a polícia, mas teme prejudicar o tratamento de sua mulher.

E assim a babá misteriosa vai ficando e percebendo que seus patrões são cheios de segredos.

O início algo forçado de “Servant” (serviçal, em tradução livre) é compensado pela atmosfera claustrofó­bica e pelos atores. Quase toda a ação se passa dentro da sombria casa, que também serve de local de trabalho para Sean. Ele é um badalado consultor gastronômi­co, especializ­ado na criação de pratos sofisticad­os.

Já Dorothy é repórter de um telejornal, do tipo que cobre o nascimento de bichinhos no zoológico. Seu entusiasmo constante é quebrado de vez em quando por momentos de catatonia, que lembram ao espectador de que se trata de uma personagem conturbada.

O quarteto de protagonis­tas se completa com Julian, irmão mais novo de Dorothy, feito pelo britânico Rupert Grint, o Ron Weasley da franquia “Harry Potter”. Grint surpreende como um sujeito mulherengo e beberrão.

O ritmo meio lento contrasta com a curta duração dos episódios, com pouco mais de meia hora cada um. Sustos frequentes e reviravolt­as na trama fazem com que a série seja perfeita para maratonar.

Afinal, “Servant” tem pedigree. Foi criada por Tony Basgallop, que assinou duas temporadas de “24 Horas”. A produção é de M. Night Shyamalan, roteirista e diretor de thrillers como “O Sexto Sentido”. Ele também dirigiu dois dos dez episódios desta primeira leva, com mais elegância do que em seus últimos longas.

Shyamalan avisou que precisará de seis temporadas para contar a história da babá Leanne. Talvez seja muito: a primeira termina em aberto, é claro, mas o mistério não parece ser grande o suficiente para tantos episódios. De qualquer forma, “Servant” já nasce como um bom terror psicológic­o.

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Divulgação Nell Tiger Free vive a babá da família Turner na série ‘Servant’, da Apple TV+

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