Folha de S.Paulo

Marcas tentam criar camiseta perfeita com algoritmo e padrão de alfaiatari­a

Empresas usam algoritmo e tabela de medidas para tentar criar peça que caia bem em qualquer corpo

- Dante Ferrasoli

são paulo Empresas do setor têxtil estão tentando produzir a camiseta masculina básica perfeita. O conceito é subjetivo, mas a ideia é que a peça seja confortáve­l e caia bem em todos os tipos de corpo.

Os empresário­s acreditam que a mistura entre matériapri­ma de qualidade e tecnologia para o desenho dos modelos pode ajudar a chegar lá.

Criada em 2017, a Oficina já produzia camisas sob medida e tinha os dados (tamanho de bíceps, de antebraço, da circunferê­ncia etc.) de 10 mil clientes. Colocou-os então num algoritmo, que permitiu à marca desenhar as medidas da sua camiseta.

“Assim conseguimo­s conceber um caimento perfeito para o cliente médio. Criamos os nossos tamanhos (P, M, G, GG e GGG) com base nas medidas reais desses brasileiro­s”, diz Felipe Siqueira, 32, cofundador da empresa. O modelo começou a ser vendido em fevereiro de 2018.

A marca usa o algodão pima, do norte do Peru. A confecção da peça também é feita lá. Essa variedade de tecido tem fios longos e finos, o que gera um produto com toque sedoso. Além disso, é mais resistente que outros algodões.

A camiseta básica (R$ 199) é hoje o carro-chefe da Oficina. No ano passado, foram vendidas 26 mil unidades (a que mais sai é a preta). Neste ano, a empresa quer aumentar o número em 75%.

A companhia, que tem lojas no Rio e em São Paulo, faturou R$ 20 milhões em 2019 e deve crescer 50% em 2020.

A Basico.com também usa o pima para confeccion­ar seus modelos principais de camiseta (R$ 148) desde quando abriu, em 2013 . À época, a empresa só vendia pela internet.

Depois, com o aumento do dólar e, consequent­emente, de seus custos de produção, toda feita no Peru, criou uma linha mais acessível, fabricada a partir de outro algodão, o tanguis, encontrado no sul do país andino —a planta é a mesma do pima, o que muda são as condições climáticas sob as quais é cultivada.

A fundadora da marca, Dedé Bevilaqua, 45, diz que, além da matéria-prima, o segredo para uma uma peça cair bem está nos ombros.

“Se encaixar bem aí, já é 80% do caminho andado. Eu usei uma tabela de alfaiate e, depois, ajustei. Fiz uma peça básica com o cuidado de uma alfaiatari­a”, diz ela, que passou dois anos estudando e desenhando as camisetas.

A Básico.com cresceu e abriu duas lojas físicas, ambas em São Paulo. No ano passado, vendeu cerca de 20 mil dessas camisetas. A expectativ­a para este ano é de 25 mil. A empresa faturou R$ 9 milhões em 2019 e deve aumentar a cifra para cerca de R$ 10 milhões em 2020.

A Oriba, outra marca que busca a camiseta básica perfeita, oferece seus modelos (R$ 75) em nove tamanhos diferentes. Cada um dos tradiciona­is P, M, Ge GG tem duas versões: uma longa e outra curta. Há ainda o GGG.

“A diferença entre as duas opções está só no compriment­o. A largura é sempre a mesma”, diz Rodrigo Ootani, 33, sócio da companhia.

Isso tenta refletir a heterogene­idade do corpo dos brasileiro­s, afirma ele.

A empresa passa por uma transição. Após aproximada­mente cinco anos trabalhand­o com um algodão brasileiro orgânico, também vai começar a usar o pima peruano.

“Esperamos um tempo para entender o consumo do cliente. Agora, vamos tentar trazer esse algodão com um preço mais baixo que o dos concorrent­es”, diz Ootani.

A marca planeja uma expansão para este ano. Uma das razões para isso é exatamente a mudança da matéria-prima.

A Oriba, que hoje tem três lojas, pretende abrir mais cinco no ano que vem, em São Paulo e no Rio. A companhia vendeu cerca de 10 mil camisetas no ano passado. Neste ano, pretende comerciali­zar 45 mil e atingir um faturament­o de R$ 20 milhões, ante os R$ 6 milhões de 2019.

Mas há quem discorde de que seja possível produzir uma peça que vista bem todo e qualquer homem brasileiro.

Para o pesquisado­r de moda Flávio Sabrá, fabricar uma camiseta que se ajuste bem a todos os biótipos é inviável.

Quando trabalhava no Senai-Cetiqt, divisão do órgão voltada à indústria têxtil, ele conduziu um estudo sobre as medidas do corpo do brasileiro. A pesquisa envolveu 10 mil pessoas, de todas as regiões do país.

“Para cair bem em todos, a camiseta precisaria ter uma vastíssima gama de tamanhos”, afirma. Seriam necessário­s no mínimo 18 tamanhos, pelo cálculo de Sabrá, hoje coordenado­r do curso de produção de moda do Instituto Federal do Rio de Janeiro.

Já Marcio Ito, professor de planejamen­to de coleção e de produto na faculdade Santa Marcelina, vê a camiseta perfeita como algo que a tecnologia pode ajudar a alcançar.

A ideia, diz ele, é finalmente atender quem não se sente contemplad­o pelo atual padrão que rege o vestuário. “É uma tendência e uma estratégia de mercado que contribui para atingir diferentes grupos e, portanto, gera inclusão.”

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Felipe Gabriel/Projetor/Folhapress Dedé Bevilaqua, 45, sócia-fundadora da Basico.com
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Keiny Andrade/Folhapress Rodrigo Ootani, 33, sócio-fundador da Oriba
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Divulgação Camisetas expostas em loja da Oficina

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