Folha de S.Paulo

Fernández não irá ao Uruguai, onde estará Bolsonaro

Primeiro encontro entre os presidente­s da Argentina e do Brasil havia sido costurado na semana passada

- Sylvia Colombo

buenos aires Não deve acontecer no Uruguai a primeira reunião entre os presidente­s do Brasil e da Argentina, que estava sendo costurada para reaproxima­r as duas maiores economias do Mercosul. Em entrevista a um canal de televisão argentino, neste domingo (16), o presidente Alberto Fernández confirmou que não vai comparecer à posse de Luis Lacalle Pou, eleito em novembro passado para comandar o Uruguai.

A razão, segundo ele, é a sobreposiç­ão de agendas. No dia 1º de março, quando o uruguaio assume oficialmen­te o cargo, Fernández estará em Buenos Aires para fazer um discurso que marca a abertura das sessões legislativ­as do Congresso argentino.

Trata-se do pronunciam­ento mais importante do ano, em que o presidente elenca as prioridade­s, na presença dos Congressis­tas, de integrante­s do Supremo Tribunal de Justiça e de todos os ministros.

Espera-se que Fernández apresente as primeiras medidas econômicas para enfrentar a crise e explique o andamento das negociaçõe­s da dívida com o FMI (Fundo Monetário Internacio­nal). O presidente também deve tratar de outros temas sociais, como as ações de combate à pobreza e um novo tratamento legislativ­o da lei do aborto.

Na quinta-feira (13), o presidente Jair Bolsonaro havia dito que se encontrari­a com Fernández em Montevidéu, depois de receber o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Felipe Solá.

Segundo interlocut­ores, o chanceler viajou a Brasília para transmitir a mensagem ao governo brasileiro de que Fernández é moderado e que não comunga das ideias defendidas pela esquerda radical.

Na primeira rodada de reuniões de alto nível entre os governos, Solá prometeu que seu país não será “uma trava” para as negociaçõe­s de acordos comerciais do Mercosul.

O objetivo era tentar superar a desconfian­ça que rege as relações entre os dois países desde a campanha eleitoral argentina, marcada por trocas de críticas entre Bolsonaro e Fernández, cuja vice é a expresiden­te Cristina Kirchner.

Na época, o presidente brasileiro chegou a expor sua preferênci­a pela reeleição do liberal Mauricio Macri.

No dia em que foi eleito, Fernández, que é aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, publicou uma foto fazendo um “L”, símbolo do movimento Lula Livre.

Apesar de não ir a Montevidéu para a posse, Fernández afirmou à TV que está combinando uma visita a Lacalle Pou para as próximas semanas.

Já o novo presidente uruguaio declarou que não vai convidar para a cerimônia o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, o da Nicarágua, Daniel Ortega, e o dirigente cubano, Miguel Díaz-Canel.

Sobre o encontro com o Bolsonaro, Fernández disse que pretende que seja logo. “Eu estou sempre disposto.”

A Folha procurou o Itamaraty e a assessoria do Palácio do Planalto para comentar o adiamento da reunião, mas não recebeu resposta até a conclusão deste texto.

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