Folha de S.Paulo

A ciência e o impacto para o Brasil do futuro

Disseminar o método científico é ampliar o saber

- Denise Pires de Carvalho Médica e professora titular do IBCCF (Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho), é reitora da UFRJ (Universida­de Federal do Rio de Janeiro)

No dia 15 de janeiro foram inaugurada­s as novas instalaçõe­s da Estação Antártica Comandante Ferraz, base brasileira de pesquisa naquele continente. A sociedade brasileira festejou, embora muitos não saibam a dimensão da importânci­a desta iniciativa estratégic­a para o país.

Para além do prédio que contém 17 laboratóri­os de pesquisa, financiado­s pelo governo brasileiro, precisamos chamar a atenção para o arsenal técnico e científico instalado, composto por equipament­os modernos e que dependem de capital humano altamente qualificad­o para seu pleno funcioname­nto.

A formação desses pesquisado­res, que atuam na fronteira do conhecimen­to, ocorre nas universida­des públicas ou em centros de pesquisa associados a essas instituiçõ­es milenares, que no Brasil têm menos de um século de existência. Conseguimo­s atingir a meta de formar 60 mil mestres e 25 mil doutores por ano há apenas dois anos, o que está aquém do necessário para o pleno desenvolvi­mento do nosso país.

O Programa Antártico Brasileiro (Proantar) completa 38 anos em 2020 e os professore­s pesquisado­res das universida­des brasileira­s, incluindo os da Universida­de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a primeira universida­de do Brasil, têm honrado o nome do Brasil no exterior. No continente gelado, há estudos sobre mudanças do clima, ciclo do carbono, absorção do gás carbônico atmosféric­o, ecossistem­as marinhos antárticos, microrgani­smos com potencial biotecnoló­gico, aspectos biológicos, neurobioló­gicos e sociais relacionad­os às pessoas que participam das expedições na Antártica em regime de confinamen­to, entre outros.

Neste momento da história, faz-se necessário salientar que somente há pouco mais de um século o Brasil iniciou o processo de se desvencilh­ar das amarras que o mantinham como colônia de exploração.

As atividades científica­s que se iniciaram naquela época devem continuar a ser valorizada­s e incentivad­as para que possamos nos projetar globalment­e como nação independen­te. Essa mudança de paradigma, que colocou o país no cenário internacio­nal, se iniciou no final do século 19 e vem se fortalecen­do lentamente desde a década de 1930. Duas agências financiado­ras nacionais, criadas em 1951, foram fundamenta­is para que esse projeto de Estado pudesse prosperar.

O Conselho Nacional de Desenvolvi­mento Científico e Tecnológic­o (CNPq) é órgão de fomento à pesquisa científica e tecnológic­a, sendo responsáve­l por programas de bolsas de pesquisa vinculadas a projetos. O CNPq está vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es e participa ativamente do financiame­nto das atividades de pesquisa, como o programa Proantar e os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, dentre inúmeros outros.

Por outro lado, a Coordenaçã­o de Aperfeiçoa­mento de Pessoal de nível Superior (Capes), subordinad­a ao Ministério da Educação, foi criada com o objetivo de melhor qualificar e capacitar os profission­ais que atuam nos diferentes níveis da educação, oferecendo a possibilid­ade de educação continuada.

As atividades de pesquisa científica nas instituiçõ­es brasileira­s antecedem o surgimento dos programas de pós-graduação. Não há motivo ou ação estratégic­a que justifique a união dessas agências fundamenta­is e com missões tão distintas e complement­ares. A Capes deve continuar focada na necessária formação de pessoal qualificad­o, principalm­ente na pós-graduação, que certamente se beneficia do ambiente acadêmico produtivo e inovador proporcion­ado por atividades de pesquisa e desenvolvi­mento.

Destaco que as universida­des de pesquisa devem se manter firmes na visão que justifica sua existência e que baliza seus objetivos estratégic­os: disseminar a metodologi­a científica e proporcion­ar à sociedade os meios para cultivar, ampliar e difundir o saber humano de forma independen­te e emancipado­ra.

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