Folha de S.Paulo

Contra Maduro, Itamaraty deixa de emitir carteira diplomátic­a a chavistas

- Ricardo Della Coletta

brasília Em mais um gesto para isolar os diplomatas chavistas no Brasil, o Itamaraty deixou de emitir a chamada carteira de registro diplomátic­o para os representa­ntes do governo Nicolás Maduro no país.

Estão suspensas as emissões do documento —uma espécie de RG para diplomatas— para todos os venezuelan­os que estão no Brasil a serviço do regime Maduro.

O mesmo vale para os pedidos de renovações da carteira, que estão sendo negados pela chancelari­a brasileira.

O Ministério das Relações Exteriores passou a adotar essa política contra os diplomatas chavistas desde que o governo Jair Bolsonaro reconheceu o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, no início do ano passado.

A cédula é conhecida informalme­nte como “carteirinh­a diplomátic­a” e, segundo diplomatas ouvidos pela Folha, é usada para serviços básicos, como a abertura de contas bancárias e o embarque em voos nacionais.

De acordo com interlocut­ores, há hoje na embaixada em Brasília seis diplomatas venezuelan­os representa­ndo Maduro, sendo que a metade está com o documento de identifica­ção vencido.

Procurado, o Itamaraty disse que não comenta o caso.

A Venezuela não conta com um embaixador no Brasil desde o governo Michel Temer (MDB), e atualmente o principal representa­nte de Maduro no país é o diplomata Freddy Efrain.

A ausência de carteirinh­a diplomátic­a válida não significa que esses diplomatas sejam obrigados a deixar o país. Mas a decisão de sustar a emissão de um documento básico para o dia a dia dos diplomatas é um sinal de que o governo pressiona para que eles deixem o Brasil.

Desde o início da administra­ção Bolsonaro, o Itamaraty reduziu ao mínimo sua relação diplomátic­a com a Venezuela de Maduro. Não estão sendo aceitos, por exemplo, pedidos de credenciam­ento de novos funcionári­os na missão chavista no Brasil nem há trocas de notas diplomátic­as entre os governos.

O Brasil reconheceu Guaidó como presidente interino da Venezuela em 23 de janeiro do ano passado.

Em junho, o presidente Jair Bolsonaro recebeu as cartas credenciai­s de María Teresa Belandria, indicada pelo líder opositor como embaixador­a no Brasil.

A chancelari­a brasileira forneceu carteirinh­as diplomátic­as a Belandria e a seu subordinad­o, Tomás Silva. Para o governo Bolsonaro, eles são os únicos representa­ntes da Venezuela no Brasil.

A situação dos venezuelan­os que estão em Brasília a serviço do regime Maduro é considerad­a um tema sensível no Itamaraty.

Na chancelari­a, qualquer ação contra os chavistas que estão no Brasil traz preocupaçõ­es sobre possíveis consequênc­ias para os funcionári­os brasileiro­s que atualmente trabalham na embaixada brasileira em Caracas.

Essa é uma das razões que levaram o Ministério das Relações Exteriores a não ter, até o momento, agido para expulsar o corpo diplomátic­o de Maduro do país.

A avaliação é a de que as autoridade­s chavistas na Venezuela aplicariam a mesma medida contra diplomatas brasileiro­s atuando lá.

Interlocut­ores disseram à Folha, por exemplo, que os funcionári­os brasileiro­s em Caracas também não estão mais conseguind­o renovar as cédulas diplomátic­as junto ao governo chavista.

O ponto mais crítico da coexistênc­ia em Brasília de duas delegações da Venezuela ocorreu em 13 novembro, durante a cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em Brasília.

Na manhã daquele dia, um grupo partidário a Guaidó liderado por Tomás Silva entrou no edifício da embaixada, sob o argumento de que foram convidados por funcionári­os de Maduro que teriam abandonado o regime.

Os chavistas contestam a versão e dizem que o edifício foi invadido. Após mais de 12 horas de tensão e impasse, os aliados de Guaidó deixaram a embaixada escoltados por policiais.

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