Folha de S.Paulo

Aposentado, e agora?

Prepare-se para garantir o sustento e preservar a qualidade de vida na aposentado­ria

- Marcia Dessen Planejador­a financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro” marcia.dessen@gmail.com

Robson, 65 anos, foi demitido, depois de trabalhar mais de 40 anos como empregado em uma grande empresa. Sua perspectiv­a agora é viver da Previdênci­a Social, de trabalhos avulsos e incertos e do capital que, sabiamente, guardou para essa fase da vida.

A aposentado­ria dele e da esposa equivale a 40% do salário na fase ativa. A expectativ­a de vida de ambos, a julgar pela idade dos pais, é de pelo menos mais 20 anos, até os 85 anos, e os preocupa saber que os gastos com saúde devem aumentar.

O fato de o casal não ter tido filhos facilitou e acelerou a formação do seu patrimônio. Eles conseguira­m poupar uma boa quantia para complement­ar sua renda e manter o padrão de vida que tinham com um bom salário, férias, 13º e plano de saúde pagos pelo empregador, benefícios que não terão mais.

A principal preocupaçã­o de Robson é não saber qual será a rentabilid­ade das aplicações, se será superior à inflação, e como tentar melhorar o retorno, respeitand­o os riscos que considera aceitáveis.

Infelizmen­te, não temos nenhum controle sobre a rentabilid­ade futura das aplicações do mercado financeiro, muito depende da economia local e internacio­nal, além das políticas monetárias adotadas pelo governo.

Como a incerteza é grande, é recomendáv­el ignorar o rendimento em termos absolutos e pensar em taxa de juros real, acima da inflação, e líquida, após custos e impostos. Ser prudente utilizando taxa conservado­ra na simulação, cerca de 1% ao ano para investimen­tos de baixo risco e 3% ao ano para risco, parâmetros médios aceitáveis na conjuntura econômica atual.

Importante lembrar que ele estará na fase de desinvesti­mento, não fará aportes e realizará saques frequentes. Liquidez é fundamenta­l em boa parte dos ativos da carteira.

Risco baixo, no máximo moderado, é o nível de risco adequado. Embora o período seja longo (20 anos ou mais), esse dinheiro não aceita riscos elevados, o objetivo é preservar o patrimônio com o melhor rendimento possível, sem colocar o capital em risco. Uma forma de aumentar o retorno sem correr mais risco é reduzir os custos, negociando com as instituiçõ­es financeira­s em busca de dois atributos, rentabilid­ade e liquidez.

Ativos isentos de Imposto de Renda, protegidos pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos), bons fundos de investimen­to e planos de previdênci­a com carteiras diversific­adas e risco diluído são boas alternativ­as.

Robson atualizou detalhadam­ente o orçamento doméstico, projetou redução em algumas despesas e aumento em outras, como as relacionad­as à saúde.

Descontou o valor da pensão social do INSS e, supondo o pior cenário, de nenhuma renda provenient­e de trabalhos eventuais, calculou o valor dos saques mensais.

Utilizou taxa de juros real líquidade 1%aoanonasim­ulação e respirou tranquilo ao saber que o capital não se esgota antes dos cem anos de idade. Muito confortáve­l saber que não precisará correr riscos desnecessá­rios nos investimen­tos para tentar esticar a renda da carteira para fechar a conta de cada mês.

Antes, mantinha relacionam­ento com cinco instituiçõ­es diferentes tentando ganhar alguns reais a mais. A tendência agora é concentrar as aplicações em no máximo duas casas, ganhando acesso a segmentos de maior prestígio, com ofertas mais competitiv­as, além de atendiment­o personaliz­ado.

Alguns colegas de Robson, demitidos na mesma época, não foram previdente­s, privilegia­ram o presente negligenci­ando o futuro, estão em busca de trabalho, única fonte de renda complement­ar possível para eles.

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