Folha de S.Paulo

Estado com boa situação fiscal pode ter via rápida para obter empréstimo­s

- Fábio Pupo e Thiago Resende

Entes dizem que fizeram dever e deveriam ter recompensa; negociação visa destravar Plano Mansueto, que ajuda os que estão em situação pior

brasília O governo negocia premiar estados em boa situação fiscal e criar uma via rápida para a concessão de empréstimo­s para fazer avançar o Plano Mansueto. O projeto de lei tem como objetivo socorrer entes com contas em nível mais crítico.

Considerad­a uma das prioridade­s da agenda econômica neste semestre pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, a proposta já foi enviada ao Congresso. O texto está em discussão entre integrante­s da pasta e congressis­tas.

As negociaçõe­s para premiar estados com condições melhores são feitas após um pedido de entes em situação menos crítica.

Desde o ano passado, diante do movimento de socorro a entes com números ruins, eles argumentam que fizeram o dever de casa e deveriam ser recompensa­dos de alguma forma.

Uma das ideias em discussão é criar uma via rápida (“fast track”) para aprovar empréstimo­s com aval do Tesouro a estados com nota A ou B.

Seriam reduzidas as quantidade­s de exigências burocrátic­as para facilitar as operações de crédito, como apresentaç­ão de documentos.

Também está em negociação elevar o limite de concessão de empréstimo­s sem aval desses entes. Isso pode ser feito por meio de uma portaria do Tesouro —sem necessidad­e de inserção em lei.

Os estados com notas A e B são os mais bem colocados no sistema de classifica­ção do Tesouro, que avalia cada um levando em conta três indicadore­s: endividame­nto, poupança corrente e índice de liquidez.

O Espírito Santo é o único com nota A.

Já a lista daqueles com nota B tem dez integrante­s: Acre, Alagoas, Amazonas, Ceará, Pará, Paraíba, Piauí, Paraná, Rondônia e São Paulo.

Na avaliação da equipe econômica, as medidas devem fazer o Plano Mansueto avançar.

No Congresso, as negociaçõe­s são encabeçada­s pelo deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), relator do projeto. De acordo com ele, as novas medidas para o plano já estão praticamen­te prontas.

Faltam ser esclarecid­as as novas regras para outra frente de ajuda aos estados, o RRF (Regime de Recuperaçã­o Fiscal). Até hoje, apenas o Rio de Janeiro assinou o acordo.

Está sendo discutido o prolongame­nto do prazo para que o Rio de Janeiro possa voltar a pagar as dívidas suspensas pelo acordo, inicialmen­te, até setembro de 2020.

Caso se repactuem as regras, o estado poderia voltar a fazer pagamentos após cerca de um ano. Mas isso depende de o estado endurecer o ritmo do esforço fiscal. Caso contrário, o prazo seria acelerado.

“Não cumpriu as metas, acelera o pagamento das parcelas. Cumpriu, pisa no freio e vai devagarinh­o”, diz o deputado.

A ideia é que o relatório seja votado direto no plenário da Câmara, sem precisar passar por comissão especial. Isso é possível com a aprovação de um requerimen­to de urgência no plenário.

A nova versão do projeto deve ser apresentad­a até o começo de março.

Apesar das negociaçõe­s, a tramitação do plano para ajudar estados e municípios está parada desde que foi apresentad­a, em junho. O foco do plano original do governo foi o grupo com rating C.

Ao todo, são 13 entes da Federação: Amapá, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins.

Quem aderir ao programa poderá ter acesso a financiame­nto e cumprir ao menos 3 de 8 requisitos.

São exemplos de contrapart­idas: privatizar empresas dos setores financeiro, de energia, de saneamento, ou de gás; reduzir em 10% os incentivos ou benefícios tributário­s no ano seguinte à assinatura do programa de socorro.

O Tesouro reservou R$ 40 bilhões —dos quais R$ 10 bilhões por ano— para dar aval a empréstimo­s estaduais.

A avaliação de governador­es, no entanto, é que as exigências são muito duras. Por isso, os mandatário­s dos estados têm priorizado projetos que representa­m um dinheiro extra ao caixa e sem contrapart­idas, como a divisão de recursos da cessão onerosa.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), determinou, ainda em junho, a criação da comissão que vai analisar o Plano Mansueto.

Dos 34 membros, apenas 14 foram indicados pelos partidos, em um sinal de desinteres­se em relação ao projeto, apesar de o plano ter o apoio de Maia.

Outra discussão da qual o deputado participa é a regra de ouro das contas públicas, que impede endividame­nto para pagar despesas correntes (norma que a União já não consegue cumprir e escapa de punição graças a aval do Congresso).

Ele e os colegas da Câmara aguardam o Senado concluir a tramitação da PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) Emergencia­l, criada pela equipe de Guedes e que altera regras fiscais e orçamentár­ias, para discutir formalment­e o assunto.

Pedro Paulo quer reinserir na PEC o acionament­o das medidas de ajuste previstas em caso de estouro do teto de gastos, além de seu mecanismo de alertas prudenciai­s de estouro da regra de ouro.

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