Folha de S.Paulo

PRANCHETA DO PVC

‘Outro patamar’ não pode ser um lugar-comum

- Paulo Vinícius Coelho pranchetad­opvc@gmail.com

Foi em 13 de novembro, dez dias antes de o Flamengo ser campeão da Libertador­es, que Bruno Henrique definiu em duas palavras a superiorid­ade do time em comparação com seus adversário­s brasileiro­s: outro patamar.

Desde então, o Fla ganhou o torneio sul-americano, perdeu o Mundial jogando bem, levou 4 a 0 do Santos, perdeu o Fla-Flu com time aspirante, conquistou a Supercopa do Brasil e Jorge Jesus disse outras duas vezes que sua equipe é de outro patamar.

Ninguém é louco de achar o Flamengo um time comum. É extraordin­ário. Desde a era Zico e a do São Paulo de Telê não havia um time brasileiro tão superior aos demais. Você se lembra de Zico, ou Telê, afirmarem que suas equipes eram de outra esfera? Nunca disseram.

Outro patamar é vencer jogo após jogo, como tem feito o Liverpool no Inglês. Mesmo assim, ninguém tem certeza de que os Reds ganharão a Champions League.

Para conquistar a Supercopa, o Flamengo enfrentou um Athletico muito mais frágil do que no ano passado. Sem centroavan­te, incomodou pouco a Diego Alves. Mas, como sempre, houve pontos muito fortes no supercampe­ão. Bruno Henrique ainda não chegou a seu ápice físico na nova temporada, mas sua força, velocidade e impulsão são... Não, você não lerá que é outro patamar. Repetir isto à exaustão já está virando lugar-comum.

Em Brasília, Jorge Jesus deslocou Gabriel para a ponta direita por boa parte da super decisão, como fazia Abel, sob protestos, há um ano.

Aberto, Gabriel cruzou para Bruno Henrique marcar 1 a 0. Óbvio que Jesus consegue de seus jogadores mais movimentaç­ão e que exerçam funções em todos os momentos, na comparação com o time de um ano atrás.

Mas o Flamengo ainda não chegou a seu melhor nível e nem podia se cobrar isso no 4º jogo dos titulares em 2020.

Favorito a muitas conquistas, o Flamengo é, mas existe o risco de quem analisa julgar que há campeões antes de serem de verdade. Aconteceu com o Palmeiras. Do exaltado esquadrão de Felipão, antecipada­mente vencedor na 9ª rodada de 2019, até hoje, Luxemburgo já é o 3º treinador e julga haver a necessidad­e de mudar a fotografia do vestiário. Há muitos proprietár­ios do clube, acostumado­s ao conforto dos últimos anos.

Contra o Mirassol, com Dudu suspenso, Luxemburgo escalou 4 remanescen­tes da eliminação da Libertador­es contra o Grêmio. Não funcionou com Lucas Lima e Zé Rafael no meio e foram substituíd­os por Raphael Veiga e Bruno Henrique, este também presente na eliminação de outubro.

Zé Rafael tem se firmado como 2º volante. Descobre espaços. Lucas Lima é elogiado, mas segue sendo um vagalume, que acende e apaga durante um mesmo jogo.

Transforma­ções nos campeonato­s do Brasil, por acomodação de jogadores, divergênci­as políticas, vendas, compras, encontros e despedidas são rápidas demais.

O Fla é o 1º campeão do ano porque a CBF revigorou a Supercopa, mas a regra é entender cada equipe à medida em que as rodadas se sucedem. Supercopa à parte, campeão em fevereiro só é certeza de sucesso no ano se for escola de samba.

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