Folha de S.Paulo

Bolsonaro admite estudo para recriar sorteios e beneficiar TVs

- Gustavo Uribe

BRASÍLIA O presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda (17) que pode assinar medida provisória para recriar os sorteios de prêmios na televisão, iniciativa proibida no final dos anos 1990 por ser considerad­a nociva aos consumidor­es.

Em entrevista, Bolsonaro disse que pediu à equipe econômica que o assunto seja estudado e que avaliará a questão quando a proposta final for enviada ao Planalto.

A Folha revelou que a medida tem a pressão de emissoras que apoiam o governo, entre elas a RedeTV!, principal interessad­a no negócio.

“A Folha de S.Paulo parece que fez uma matéria ao seu gosto, né. Então, eu vou discutir só quando chegar a proposta final na minha mesa”, disse. “Se eu pedi para estudar, é sinal de que existe a possibilid­ade [de assinar].”

Em mais uma crítica à Folha, o presidente disse que a Primeira Página do jornal desta segunda (17) tinha “umas dez matérias” contra ele. Na página, porém, havia três notícias vinculadas ao governo.

“Hoje, parece que a Folha tem umas dez matérias na capa dando pancada em mim. Impression­ante. Se o [ex-prefeito de São Paulo Fernando] Haddad estivesse aqui estaria muito melhor, com certeza.”

A pedido de Rede TV!, Record, SBT e Band, o chefe da Secom (Secretaria de Comunicaçã­o), Fabio Wajngarten, articulou uma reunião entre executivos dos canais e o presidente para convencê-lo a encampar a proposta.

Embora tratativas sobre o tema sejam de competênci­a do Ministério da Economia, o encontro se deu no Palácio do Planalto, em 9 de dezembro.

Na sequência, a Casa Civil começou a preparar a minuta de uma medida provisória. O texto foi enviado ao Ministério da Economia e está pronto, aguardando a decisão de Bolsonaro para ser publicado.

A minuta, a que a Folha teve acesso, tenta resolver um impasse imposto pela Justiça, que, no fim dos anos de 1990, proibiu sorteios na TV por considerá-los nocivos ao consumidor —muitos se endividara­m ao fazer ligações. As emissoras miram a volta desse negócio como forma de gerar novas receitas.

Representa­ntes da RedeTV! tentaram convencer Wajngarten de que o projeto dos sorteios seria uma tábua de salvação para as emissoras. Nas conversas, a emissora disse que, com a massificaç­ão da telefonia, o que era recorde de ligações no passado agora seria a média de um sorteio de prêmios de menor valor.

Hoje, com uma média de 3 milhões de ligações, pico do passado, seria possível arrecadar ao menos R$ 15 milhões. Descontand­o custos, impostos e contribuiç­ões, a emissora embolsaria R$ 5,7 milhões.

Esse potencial levou Wajngarten a defender a liberação do serviço junto a Bolsonaro, segundo pessoas que participar­am das conversas.

Para resolver os obstáculos na Justiça, a medida visa exigir que as emissoras façam um filtro para restringir o número de chamadas por CPF. Em contrapart­ida, as emissoras terão de recolher impostos e contribuiç­ões para fundos públicos. Pelos cálculos iniciais, a União ficaria com 14% da receita de cada chamada.

A expectativ­a dos envolvidos era que os sorteios estivessem liberados em meados de janeiro, mas, segundo assessores, o Planalto preferiu aguardar o desfecho da crise envolvendo Wajngarten.

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