Vírus alarma a Europa, e mercados do mundo caem
Aumento de casos na Itália provoca apreensão, e órgão pede a países que evitem tomar medidas drásticas
O aumento do número de infecções pelo novo coronavírus fora da China derrubou os mercados financeiros e gerou alarme entre países próximos à Itália.
A nação europeia é o principal foco da doença no continente, tendo anunciado a sétima morte e 200 novos casos. Na China, a epidemia dá sinais de contenção.
Romênia e Croácia anunciaram medidas de controle, e a Áustria barrou trens vindos da Itália —que foi inserida na lista brasileira de países em alerta como origem de casos suspeitos.
A Comissão Europeia demonstrou preocupação com a aplicação de medidas drásticas e afirmou que não há motivo para pânico.
Já os mercados globais desabaram, ante as notícias italianas e com o crescimento da incidência da doença na Coreia do Sul e no Irã.
As Bolsas europeias tiveram o pior desempenho desde 2016, puxadas pelo temor do impacto da crise sobre as empresas aéreas.
Houve queda nos EUA; no Brasil, o mercado está fechado devido ao Carnaval.
O avanço do coronavírus para fora da China, especialmente na Itália, derrubou as principais Bolsas do mundo nesta segunda-feira (24).
Na Europa, índices acionários tiveram a mais desvalorização desde 2016. O ouro, ativo de segurança, foi ao maior patamar desde 2013.
Nos Estados Unidos, o índice que replica o Ibovespa em dólares caiu 5%, e os recibos de ações da Petrobras negociadas na Bolsa de Nova York despencaram 6,7%. Os da Vale, 7,5%. Juntas, elas perderam quase US$ 11 bilhões (R$ 48 bilhões) em valor de mercado.
Como a Bolsa de Valores de São Paulo está fechada devido ao Carnaval, as ações e o dólar não foram negociados no Brasil. A B3 reabre nesta Quarta-Feira de Cinzas (26), às 13h.
A fuga de ativos de risco e a busca por investimentos mais seguros refletem o temor de investidores sobre o impacto que a disseminação do coronavírus para fora da China poderá causar no crescimento econômico global.
A Itália soma mais de 220 contaminados e sete mortos, tornando-se o terceiro maior surto do mundo depois de China e Coreia do Sul.
A morte mais recente foi registrada em Lodi, próximo a Milão, centro financeiro da Itália. Investidores temem o impacto da doença na área, que é próxima do sul da Alemanha, da Suíça e da Áustria, regiões que compõem um importante polo industrial da Europa.
“Se um bloqueio em pequenas áreas da Itália fosse ampliado, haveria interrupções muito mais significativas para fabricantes europeus, como os de automóveis alemães”, afirma Florian Hense, economista do Berenberg Bank.
Os novos casos levaram o governo italiano a suspender aulas, fechar pontos turísticos e isolar cidades e tiveram repercussão em países vizinhos, que tentam evitar que a circulação de pessoas no continente dissemine o vírus.
Segundo boletim da OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgado no domingo (23), o número de casos confirmados no mundo chegou a 78.811. A China concentra 77.042 deles, com 2.445 mortes. Em outros países, os óbitos somam 17. De acordo com a OMS, os casos diminuem na China, embora tenham aumentado em outros lugares.
Com o avanço da doença, a Bolsa de Milão caiu 5,4%, para o menor patamar desde 31 de janeiro. O risco-país da Itália medido pelo CDS de cinco anos subiu 12,2% para 111 pontos, maior pontuação desde 27 de janeiro.
O índice Stoxx Europe 600, que reúne as maiores empresas da Europa, e a Bolsa da Alemanha recuaram 4% cada um.
O índice de volatilidade VIX saltou para 24,68 pontos, nível mais alto desde 2018, com uma alta de 44,5%, a maior valorização percentual desde 2017. O indicador tende a subir quando os mercados caem e investidores buscam proteger suas carteiras.
Na Coreia do Sul, que relatou sua sétima morte por coronavírus, o índice de ações Kospi caiu 3,9%. Foi sua maior queda em um dia desde 2018. No domingo, o país elevou o alerta de doença infecciosa para vermelho, o nível mais alto, pela primeira vez desde o surto da gripe H1N1, em 2009.
“Isso pode servir de alerta para o Japão e outras economias asiáticas vulneráveis ao impacto do vírus e colocará em risco a realização dos Jogos Olímpicos em Tóquio”, diz Margaret Yang, analista da CMC Markets. Nesta segunda, os mercados no Japão também ficaram fechados.
Nos EUA, índices acionários tiveram a maior queda percentual desde 2018, período marcado por tensões comerciais com a China e temor de investidores a juros mais altos. O Dow Jones caiu 3,6%, o S&P 500, 3,3%, e a Nasdaq, 3,7%.
Com aversão a risco, investidores vendem ativos mais arriscados, como ações, e buscam investimentos mais seguros, como títulos do Tesouro. O movimento em manada faz os índices acionários despencarem e papéis de renda fixa e ouro ficarem mais caros, o que diminui o rendimento.
Nesta segunda, o rendimento do título do Tesouro americano de dez anos caiu para 1,37% ao ano, próximo à mínima histórica de 2016.
O ouro subiu 1,8%, para US$ 1.657,53 (R$ 7.283,18) a onça-troy (31,1 gramas).
As ações de companhias relacionadas ao turismo foram particularmente afetadas. A American Airlines caiu 8,5%, a Norwegian Cruise Line Holdings, 9,4%, e a Booking Holdings —operadora da Priceline e Kayak— perdeu 7%.
“A recuperação de ativos de refúgio, como o ouro, reflete a crescente demanda por segurança durante um período de incerteza. As coisas provavelmente vão piorar antes de melhorar”, afirma Yang, da CMC Markets.
O petróleo Brent caiu 4%, para US$ 56. Desde o início do surto, o barril recuou 14%.
A queda no mercado de ações veio após semanas de novos recordes nos índices dos EUA. Na semana passada, os ganhos começaram a desmoronar à medida que ficava cada vez mais claro que o surto de coronavírus interromperia as cadeias de suprimento globais mais do que se previa inicialmente.
A Apple foi a primeira grande empresa dos EUA a informar que não vai cumprir sua estimativa de receita neste primeiro trimestre por causa da epidemia. A companhia disse que, apesar de as fábricas na China terem sido reabertas, elas estão num ritmo mais lento que o esperado.
Várias empresas, incluindo Procter & Gamble e Royal Caribbean Cruises, seguiram o exemplo, alertando para o fato de que a epidemia deverá impactar seu desempenho.
A preocupação do mercado piorou no fim de semana, depois que uma onda de casos foi relatada na Coreia do Sul e no Irã, além da Itália.
“Claramente, essa liquidação hoje é bastante dramática, e não há dúvida de que, nos EUA, ela foi precipitada pelo que está acontecendo na Europa. O medo tomou conta do continente”, afirma Chris Zaccarelli, diretor da Independent Advisor Alliance.
As quedas ocorreram um dia depois de o G20, o grupo das 20 principais economias do mundo, afirmar que o surto representa um sério risco para a economia global, já que fábricas em todo o mundo dependem de uma cadeia de suprimentos vinculada à China para muitos produtos intermediários e acabados.
Na China, economistas afirmam que uma paralisação prolongada do país pode prejudicar a indústria global e custar ao mundo até US$ 1 trilhão (R$ 4,4 trilhões) em produção perdida.