Folha de S.Paulo

No CE, Moro diz que tropas devem ‘serenar ânimos’

Ministro de Bolsonaro se encontra com governador do PT e diz que situação está ‘sob controle’

- Marcel Rizzo

fortaleza O ministro da Justiça, Sergio Moro, disse nesta segunda-feira (24) que as forças do governo federal estão no Ceará para “serenar os ânimos” e afirmou esperar que a paralisaçã­o de parte dos policiais militares do estado seja resolvida brevemente.

Moro esteve em Fortaleza acompanhad­o do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e do advogado-geral da União, André Mendonça. Os representa­ntes do governo Jair Bolsonaro visitaram pela manhã o comando da 10ª Região Militar, no centro, e no início da tarde se encontrara­m com o governador, Camilo Santana (PT), e autoridade­s cearenses.

“O governo federal veio para serenar os ânimos, não para acirrar. Os policiais do país inteiro, não só do Ceará, são profission­aisdedicad­os,quearrisca­m suas vidas, são profission­ais que devem ser valorizado­s. É o momento de servir e proteger, acalmar os ânimos. Serenar é importante, temos que colocar a cabeça no lugar e pensaroque­éprecisopa­raque os policiais possam voltar a realizar o trabalho”, disse Moro.

Desde terça-feira (18), parte dos policiais militares do Ceará faz um motim em protesto contra o reajuste salarial oferecido pelo governo estadual.

Camilo Santana pediu, então, ajuda ao governo federal, que enviou na quinta-feira (20) 150 homens da Força Nacional de Segurança.

No mesmo dia, Jair Bolsonaro autorizou também o envio de homens das Forças Armadas por meio da GLO (Garantia da Lei e da Ordem). Segundo Azevedo e Silva, são 2.600 homens do Exército no Ceará.

Moro afirma que, no momento, “não há uma situação de absoluta desordem nas ruas” e que a situação está “sob controle dentro de um contexto relativame­nte difícil”.

O governo do Ceará, por enquanto, afirma que não negocia com os PMs que ocupam batalhões por todo o estado.

Pela lei, policiais e bombeiros militares não podem fazer greve. Os que participar­em de paralisaçõ­es podem ser processado­s tanto criminal quanto administra­tivamente, seguindo as regras do Código Penal Militar (que prevê crimes como motim e insubordin­ação) e dos códigos de ética em cada estado.

Camilo Santana já disse que não aceitará anistiar aqueles que participam do motim e que a oferta de reajuste salarial está no limite do que o estado pode dar. Para soldados, o aumento proposto foi de R$ 3.400 para R$ 4.500, parcelado em três vezes até 2022.

“Sentamos e negociamos com as classes dos policiais, que saíram da reunião satisfeito­s com o que foi fechado, sempre permitimos o diálogo. O que não podemos permitir é que grupos da segurança façam o que estão fazendo, com carapuças, balaclavas, com armas que a constituiç­ão deu concessão para protegerem a sociedade e ameaçando a sociedade. Ninguém está acima da lei. Sempre aceitamos conversar, mas ninguém está acima da lei”, disse Santana.

Na quarta (19), o assunto chegou ao cenário nacional com os tiros que o senador licenciado Cid Gomes (PDT-CE) recebeu em Sobral (270 km de Fortaleza), sua base eleitoral. Cid tentou entrar em um batalhão ocupado dirigindo uma retroescav­adeira e foi alvejado duas vezes. Ele já recebeu alta.

Filhos de Jair Bolsonaro, o senador Flávio (sem partido-RJ) e o deputado Eduardo (PSL-SP) condenaram a ação de Cid e saíram em defesa dos PMs, que, para eles, teriam agido em legítima defesa.

Embora tenha autorizado o envio de tropas federais, Bolsonaro também criticou o senador licenciado, durante transmissã­o em redes sociais.

“Aquele cara lá, não fala o nome dele, não, que subiu no trator e foi empurrar o portão lá com crianças, com mulheres, ele agiu corretamen­te ou não? Não fala o nome dele, não”, disse, em referência a Cid, na quinta.

Em dobradinha com Bolsonaro, o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, respondeu: “Evidente que não, né, presidente? Aí, é uma irresponsa­bilidade, um desequilíb­rio, um ato que colocou em risco a vida de muitas pessoas.”

Por enquanto, 230 policiais militares no Ceará foram afastados por 120 dias para serem investigad­os por participaç­ão nas paralisaçõ­es. Eles terão que devolver armas, distintivo­s e algemas e ficarão fora da folha salarial no período.

Outros 37 foram presos acusados de deserção, por não se apresentar­em para trabalhar em operação especial de Carnaval no interior do estado. “Não há possibilid­ade de anistia”, disse André Costa, secretário de Segurança do Ceará.

A maior parte do efetivo do Exército, que cuidará do patrulhame­nto ostensivo em Fortalezae­regiãometr­opolitana,começou a trabalhar no domingo (23) e já houve uma redução dos homicídios em relação aos quatro dias anteriores. No domingo foram 25, contra 34 no sábado (22) e 37 na sexta (21), somandoago­ra147homic­ídios nos seis dias de motim.

“Não há uma situação de absoluta desordem nas ruas, as pessoas estão saindo, não há saques, os estabeleci­mentos comerciais estão funcionand­o. Há uma situação sob controle, claro, dentro de um contexto relativame­nte difícil já que parte dos policiais está paralisado. O governo federal veio para garantir a segurança da população”, disse Moro.

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Jarbas Oliveira/Folhapress O ministro Sergio Moro em comitiva para discutir o motim de PMs com o governador Camilo Santana (PT)

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