Justiça condena Weinstein, pivô do movimento #MeToo
Júri formado em sua maioria por homens acata duas de quatro acusações e rejeita a mais grave
A Justiça dos EUA condenou o ex-produtor de cinema Harvey Weinstein por abuso e estupro, 2 das 4 acusações que enfrentou. Um dos mais poderosos nomes de Hollywood, ele foi denunciado por dezenas de mulheres ligadas ao setor, sendo o estopim do movimento #MeToo.
são paulo O ex-produtor de cinema Harvey Weinstein foi condenado por abuso sexual e estupro, duas das quatro acusações sob as quais era julgado em Nova York. Ele, no entanto, foi inocentado da mais grave, a de comportamento sexual predatório —expressão na lei local para quando o acusado comete crimes sexuais em série, com diferentes mulheres, o que poderia leválo à prisão perpétua.
De acordo com relatos da imprensa americana, Weinstein não demonstrou muitas emoções durante o julgamento e repetiu três vezes ser inocente a seus advogados. Após ouvir a sentença, ele foi algemado e deixou a sala de audiência.
Ele deveria ir para a cadeia, onde aguardaria por sua pena, que deve ser anunciada em 11 de março —ela pode ir de 5 a 25 anos de prisão. No entanto, segundo o jornal New York Times, os advogados disseram que o ex-produtor deixou o tribunal em uma ambulância por volta das 16h30 no horário local (18h30 em Brasília) e foi levado a uma enfermaria em Rikers Island, onde fica o principal complexo penal de Nova York.
Sua advogada principal, Donna Rotunno, disse que ele estava bem, mas que não iria falar mais sobre o ex-produtor. Até a conclusão desta edição, não havia mais informações sobre seu estado de saúde. Weinstein havia pedido ao juiz para aguardar a decisão em casa, alegando motivos de saúde —o magnata do cinema havia chegado ao tribunal mancando e com um andador. O pedido, porém, foi negado.
O ex-produtor foi o estopim do movimento #MeToo, em que mulheres relataram casos em que foram vítimas de abusos sexuais em Hollywood. Apesar de dezenas de denúncias, apenas o caso de duas de suas vítimas foi a julgamento.
Jessica Mann o acusou de estuprá-la num hotel em 2013, enquanto Miriam Haley o denunciou por ter praticado sexo oral nela à força em 2006. Os dois depoimentos levaram às acusações de abuso sexual, estupro e comportamento sexual predatório, pela qual ele era duplamente acusado.
Ao todo, seis mulheres testemunharam e contaram sobre episódios de assédio envolvendo o ex-produtor.
A defesa de Weinstein tentou desacreditar as acusadoras, dizendo que elas transaram com o produtor para crescer em suas carreiras. Os advogados do produtor tentaram mostrar que as vítimas tiveram contatos amigáveis e fizeram sexo de forma consensual com ele depois dos crimes. O júri discutiu o caso por cinco dias e conclui pela condenação.
A maioria das outras alegações contra o magnata de Hollywood já haviam prescrito, não se enquadravam na jurisdição de Nova York ou envolviam comportamento abusivo, mas não criminal.
O julgamento em si também foi marcado por polêmicas. Logo em seu início, a promotoria classificou a campanha recentemente empreendida para desacreditar as acusadoras como uma “abominação” e pediu que o juiz tomasse providências a respeito.
Mas Rotunno rebateu a promotora pública. “Illuzzi vem a este tribunal definir meu cliente como predador, e aí tem a cara de pau de dizer que eu não deveria discutir o caso publicamente. Ela quer que todo mundo condene Weinstein antes que qualquer prova seja apresentada a este tribunal.”
Rotunno já havia assumido, em entrevista durante o crescimento do #MeToo, a posição de adversária, argumentando que a corrida para condenar publicamente os homens acusados de desvios de conduta e agressão sexual estava destruindo reputações e carreiras. Mesmo que o movimento tenha beneficiado a causa das mulheres, o preço foi alto demais, ela afirmou.
Com o julgamento, Weinstein enfrentará agora acusações em Los Angeles—ele foi acusado de cometer atos de violência sexual contra duas mulheres. Os crimes teriam acontecido em fevereiro de 2013. De acordo com a promotora Lacey, o ex-produtor entrou sem permissão no quarto de hotel da primeira vítima. Na noite seguinte, Weinstein teria cometido outra agressão sexual contra outra mulher em Beverly Hills.