Folha de S.Paulo

Sem tempo a perder

Governador­es de diferentes partidos conduzem reformas previdenci­árias, em sinal de realismo

- Editoriais@grupofolha.com.br

Com dificuldad­es para conter o cresciment­o acelerado de despesas e dívidas de seus estados, governador­es correram nos últimos meses para mudar as regras das aposentado­rias dos servidores.

Na esteira da reforma da Previdênci­a promulgada no ano passado, 14 dos 26 estados aprovaram mudanças em suas leis nos últimos meses, de acordo com levantamen­to da Folha. Outros 9 se preparam para atacar o problema neste ano.

Estados e municípios foram excluídos do projeto aprovado pelo Congresso porque deputados e senadores não queriam o ônus político de contrariar o funcionali­smo em suas bases, às vésperas da campanha eleitoral deste ano —ainda mais enquanto governador­es de oposição relutavam em apoiar publicamen­te a proposta.

Nova emenda constituci­onal foi apresentad­a com o objetivo de estender às demais unidades da Federação as regras adotadas para o governo federal e o setor privado, o que poderia facilitar sua adaptação pelos governos locais.

A resistênci­a dos funcionári­os públicos às mudanças nas aposentado­rias é particular­mente vigorosa nos estados, por causa da concentraç­ão de categorias que ainda recebem tratamento especial, como professore­s e policiais.

Mas as chances de aprovação da emenda no curto prazo se tornaram remotas diante da desarticul­ação entre o governo Jair Bolsonaro e o Congresso, além da proximidad­e das eleições. Assim, os governador­es tiveram de se mexer.

No Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) não só conseguiu atualizar as regras das pensões como obteve a aprovação da Assembleia para mudanças profundas nas carreiras dos servidores do estado.

Em São Paulo, João Doria (PSDB) propôs aumento da idade mínima para aposentado­ria e das alíquotas das contribuiç­ões previdenci­árias. Aprovada em primeiro turno, a reforma ainda precisa ser confirmada numa segunda votação.

Na Bahia, Rui Costa (PT) logrou aumentar a idade exigida para aposentado­ria de professore­s, aproximand­o-a do limite definido na esfera federal. Seu pacote foi aprovado pelos deputados estaduais após duas semanas de discussão.

Essas iniciativa­s encontrara­m ferrenha oposição em toda parte. O tumulto em uma das sessões na Assembleia da Bahia foi de tal ordem que um policial chegou a sacar uma arma dentro do plenário, sendo logo felizmente contido.

É um sinal encorajado­r que políticos de diferentes partidos, todos com ambições de maior protagonis­mo no cenário nacional, tenham se empenhado para aprovar essas mudanças apesar dos custos políticos que elas representa­m.

No mundo inteiro, reformas previdenci­árias são exercícios de paciência, que exigem ajustes constantes e disposição para contrariar interesses. O realismo demonstrad­o pelos governador­es indica que a penúria orçamentár­ia tornou essa percepção incontorná­vel.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil