Folha de S.Paulo

O que querem os democratas?

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

são paulo O Partido Democrata dos EUA precisa definir suas prioridade­s —e logo. Se não o fizer, corre o risco de promover uma guerra intestina com alta probabilid­ade de minar suas chances no pleito presidenci­al de novembro. Vimos um pouco disso no debate entre os pré-candidatos na última quarta-feira (19). Vários participan­tes foram para cima do ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg em busca de sangue. E ele não se saiu nada bem.

O dilema dos democratas é entre derrotar Donald Trump ou cultivar a alma do partido —e Bloomberg é a peça central. Não dá para dizer que ele simbolize bem os valores da legenda. Para início de conversa, é um bilionário que já adotou uma política de segurança considerad­a racista.

Como se não bastasse, Bloomberg é um recém-chegado ao partido, tendo-se elegido prefeito pela agremiação rival. Pior, suas movimentaç­ões até aqui, notadament­e o autofinanc­iamento com propaganda ostensiva em mídias, podem ser descritas como as de alguém que está comprando a vaga na chapa democrata.

Apesar disso, Bloomberg desponta como candidato com chances de derrotar Trump nas urnas, especialme­nte porque o ex-vice-presidente Joe Biden, o outro moderado de peso, não começou bem nas primárias.

A alternativ­a ideológica seria Bernie Sanders, que vai se insinuando como favorito nas consultas a filiados e simpatizan­tes. Mas Sanders é visto como um socialista, o que significa que enfrentari­a dificuldad­es na eleição geral.

Os democratas poderiam legitimame­nte definir que o mais importante é não trair os valores do partido. Trump provavelme­nte se reelegeria. É mais ou menos a ordem natural das coisas. Só uma minoria dos presidente­s não obteve o segundo mandato. Mas, se os democratas concluírem que desbancar Trump é fundamenta­l, aí precisam tomar muito cuidado para que as prévias não se tornem tão violentas que deixem o postulante sobreviven­te pirricamen­te ferido.

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