Folha de S.Paulo

PSL prepara nova investida contra bolsonaris­tas para retomar postos na Câmara

Em busca do controle da liderança e de comissões, ala do partido ligada a Luciano Bivar busca punições a aliados de Jair Bolsonaro

- Renato Onofre e Danielle Brant

brasília A ala do PSL ligada ao presidente da legenda, Luciano Bivar (PE), prepara uma nova investida contra o grupo de deputados que ficou ao lado do presidente Jair Bolsonaro na disputa pelo comando do partido no ano passado.

Após o Carnaval, novas representa­ções contra congressis­tas bolsonaris­tas serão protocolad­as no conselho de ética do partido.

Entre os pedidos estão expulsão e novas punições a deputados que estão ativamente convocando filiados a abandonare­m o PSL para se associarem à Aliança pelo Brasil, legenda que Bolsonaro pretende criar.

“Novas ações estão sendo estudadas”, afirmou o deputado Junior Bozzella (PSL-SP).

O movimento tem como objetivo alcançar maioria dentro da Câmara para que o grupo ligado a Bivar retome a liderança do partido. Assim, os bivaristas poderão controlar a indicação dos deputados que comandarão e participar­ão das comissões permanente­s da Casa.

Hoje, o grupo comandado por Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente, tem maioria na bancada, o que assegura sua liderança.

Se conseguir expulsar bolsonaris­tas, a ala aliada a Bivar retomaria o controle do partido na Câmara.

Atualmente, o PSL preside três colegiados: CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça), Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional e a Comissão de Fiscalizaç­ão Financeira e Controle.

O regimento interno da Câmara veda a reeleição do presidente e dos vice-presidente­s das comissões. O mandato é de um ano.

Em 2019, a CCJ, a mais importante da Casa, ficou na mão de Felipe Franceschi­ni (PSL-PR), deputado que começou o ano ao lado de Bolsonaro e terminou alinhado a Bivar. Neste ano, passa ao comando do centrão —bloco de partidos independen­tes que na Casa somam mais de 200 congressis­tas. Republican­os e MDB disputam a cadeira.

Eduardo, presidente da Comissão de Relações Exteriores, quer manter indiretame­nte o controle do colegiado.

Oficialmen­te, o discurso é de que pretende se afastar da temática internacio­nal para se dedicar a assuntos domésticos e percorrer o país para consolidar a Aliança pelo Brasil.

Na última semana, porém, interlocut­ores ligados ao filho do presidente iniciaram as primeiras conversas com líderes para assegurar que um aliado de Eduardo ocupe a principal cadeira na comissão.

Na área internacio­nal, Eduardo chegou a ser lançado pelo pai, o presidente, a futuro embaixador do Brasil em Washington. O plano ruiu diante das críticas, e o posto foi destinado ao diplomata Nestor Foster.

De acordo com deputados ligados a Bivar, mesmo que Eduardo consiga apoio para influencia­r na Comissão de Relações Exteriores, o partido não vai chancelar o nome indicado pelo deputado.

Bivar avisou que o objetivo é manter pelo menos uma comissão relevante na mão do PSL. O dirigente está disposto a entregar todos os postos em troca da CFT (Comissão de Finanças e Tributação). O movimento, contudo, não encontra respaldo dos outros partidos do bloco que a legenda faz parte.

No ano passado, com a divisão dos blocos entre os partidos da Câmara, o PSL ficou no maior grupo, que tem também o DEM, Republican­os e oito legendas. O bloco da maioria ficou com o comando de 15 comissões na Casa. A Câmara tem 20 comissões permanente­s no total.

O regimento da Casa divide o comando das comissões pelo tamanho dos blocos partidário­s. O grupo do PSL e DEM tem o direito a fazer, antes dos demais blocos, as dez primeiras escolhas e, desta forma, controlar as principais comissões da Casa.

O bloco encabeçado pelo PDT tem o comando de cinco comissões, assim como o da oposição, com o PT, que também poderá escolher cinco.

No acordo, em troca de apoio à reeleição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o PSL ficou com o controle da CCJ e da Comissão de Relações Exteriores. Tudo corria conforme o combinado até o partido mergulhar em uma crise que se arrasta desde meados de outubro.

Naquele mês, o grupo de deputados endossou os ataques de Bolsonaro a Bivar. Em meio às denúncias de uso de candidatur­as laranjas reveladas pela Folha, Bolsonaro pediu que o partido abrisse suas contas.

O movimento gerou um racha na legenda que culminou na ascensão de Eduardo à liderança da sigla na Câmara e na deposição do então líder, Delegado Waldir (GO), ligado a Bivar. Desde então, os dois lados trocam retaliaçõe­s, em um impasse que já dura cinco meses e deixou o partido enfraqueci­do na Câmara.

A crise levou a duas tentativas frustradas de afastar os bolsonaris­tas do PSL.

Há duas semanas, um grupo de deputados considerad­os moderados na briga retomou as conversas para tentar uma saída amigável de pelo menos 25 congressis­tas.

O acordo prevê a desfiliaçã­o sem a perda do mandato. Contudo, Bivar e aliados próximos só aceitam abrir mão das vagas —pela lei eleitoral o deputado que sair do partido perde o mandato— após a janela partidária para a troca de sigla, o que inviabiliz­aria algumas candidatur­as.

Ao costurar acordos, os líderes das principais legendas não contabiliz­am o número de filiados do PSL como membros do governo, por causa da divisão.

Dentro do partido a disputa também ocorre. Os dois lados não querem deixar para os rivais a presidênci­a de comissões importante­s.

A queda de braço só deve terminar se a Aliança pelo Brasil for formalizad­a, quando os bolsonaris­tas deixarem o partido de Bivar e migrarem para a nova legenda. Como resultado, o PSL deve ver sua bancada cair à metade e ser comandada pela ex-líder do governo no Congresso Joice Hasselmann (SP).

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Vanessa Rodrigues/A Tribuna/Folhapress

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