Dólar do cartão terá de ser o do dia da compra a partir de 2ª
Começa a valer a partir da próxima segunda (2) a regra de que bancos deverão cobrar a cotação do dia nas compras feitas com cartão de crédito.
A medida foi estabelecida pelo Banco Central em 2018, mas a autarquia concedeu um prazo de adaptação. Até agora, a maioria das instituições cobrava o valor da data do fechamento da fatura, o que deixava consumidores à mercê da volatilidade da moeda.
Além dessa mudança, os bancos também serão obrigados a detalhar o cálculo utilizado para a conversão da moeda estrangeira em real. A nova regra vale para todas as compras, inclusive as pela internet em sites estrangeiros.
Segundo Carlos Formigari, diretor do Itaú Unibanco, o maior reflexo da nova regra será em benefício do cliente, que terá maior previsibilidade de pagamento e segurança.
“Além disso, o cliente também terá maior facilidade para fazer o controle de gastos e comparar as taxas praticadas pelos diferentes cartões disponíveis hoje no mercado.”
A possibilidade de uma maior concorrência ocorre porque, apesar de as instituições se basearem na Ptax (taxa de câmbio calculada pelo BC que consiste na média das taxas informadas pelo mercado), cada banco usa um cálculo próprio para fazer a conversão.
A cotação final tem uma margem que dá lucro ao banco, estabelecida livremente por cada instituição. Normalmente, varia de 4% a 5%.
“O banco vai ter que ajustar sua operação para fazer o provisionamento do dólar. E a cobrança dessa tarifa pode ser em cima desse custo e também para evitar que a própria instituição corra o risco da variação até o pagamento da fatura”, afirma o professor do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) George Salles.
Além do custo do câmbio, há a tributação das operações. Para as compras feitas no cartão de crédito, é cobrado um IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 6,38%.
O imposto é o mesmo para cartões pré-pago e cai a 1,1% quando o turista decide levar dinheiro em espécie para o exterior.
Para Felipe Tayer, sócio da MelhorCambio.com, o fato de os bancos precisarem detalhar abertamente os cálculos de conversão pode trazer uma maior competitividade para o segmento, uma vez que aumenta a possibilidade de o consumidor escolher o cartão da instituição que cobra o dólar mais barato.
“Quando a instituição abre todo o cálculo, permite que o consumidor compare as taxas e os valores entre instituições financeiras e decida pela mais interessante”, afirma.
Dentre os cinco maiores bancos do país —Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú e Santander—, apenas a Caixa já oferece a cobrança com o dólar no dia da compra. Nos demais, a sinalização é de preparo dos sistemas para a adoção da nova regra no prazo estabelecido. A comunicação da mudança aos clientes, de acordo com essas instituições, também já começou.
Segundo a Caixa informou, a conversão da moeda no dia da compra é a modalidade mais escolhida entre os portadores de cartão de crédito da instituição, e a antecipação da mudança —que foi feita pelo banco em 2017— diminuiu os impactos sistêmicos e operacionais pelos quais as demais instituições passam no momento.
De acordo com o superintendente-executivo de cartões do Santander, Rogério Panca, os sistemas do banco já estão adaptados para a nova regulamentação, e a cobrança da compra com a cotação do dia entrou em fase de testes em outubro, com um grupo de funcionários da instituição.
“Também já começamos a comunicar os clientes das mudanças em janeiro, porque existe todo um ciclo de emissão de faturas. Os clientes que têm as faturas fechadas no primeiro dia útil [de março] já terão a nova sistemática do câmbio na fatura do mês”, afirma Panca.
Segundo ele, as mudanças já eram debatidas pela indústria havia um bom tempo, e a maioria das instituições optava pela cotação somente no fechamento da fatura em razão da dificuldade sistêmica de oferecer as duas opções.
“Era a pior forma para o banco, que tinha que ter dois processamentos diferentes, e para o cliente, que também poderia ficar confuso. Mas a mudança vem no sentido de padronizar a indústria e favorecer o consumidor, o que acaba sendo bastante positivo”, afirma Panca.
O Nubank, que também já trabalhava com a cotação no dia da compra antes da regulamentação do Banco Central, afirmou enxergar as novas regras de um jeito positivo para o mercado.
“É uma medida que traz mais transparência. Os clientes terão acesso a mais informações e poderão tomar melhores decisões, passando a ter um controle maior de suas finanças”, afirmou, em nota.