Folha de S.Paulo

Dólar do cartão terá de ser o do dia da compra a partir de 2ª

- Isabela Bolzani

Começa a valer a partir da próxima segunda (2) a regra de que bancos deverão cobrar a cotação do dia nas compras feitas com cartão de crédito.

A medida foi estabeleci­da pelo Banco Central em 2018, mas a autarquia concedeu um prazo de adaptação. Até agora, a maioria das instituiçõ­es cobrava o valor da data do fechamento da fatura, o que deixava consumidor­es à mercê da volatilida­de da moeda.

Além dessa mudança, os bancos também serão obrigados a detalhar o cálculo utilizado para a conversão da moeda estrangeir­a em real. A nova regra vale para todas as compras, inclusive as pela internet em sites estrangeir­os.

Segundo Carlos Formigari, diretor do Itaú Unibanco, o maior reflexo da nova regra será em benefício do cliente, que terá maior previsibil­idade de pagamento e segurança.

“Além disso, o cliente também terá maior facilidade para fazer o controle de gastos e comparar as taxas praticadas pelos diferentes cartões disponívei­s hoje no mercado.”

A possibilid­ade de uma maior concorrênc­ia ocorre porque, apesar de as instituiçõ­es se basearem na Ptax (taxa de câmbio calculada pelo BC que consiste na média das taxas informadas pelo mercado), cada banco usa um cálculo próprio para fazer a conversão.

A cotação final tem uma margem que dá lucro ao banco, estabeleci­da livremente por cada instituiçã­o. Normalment­e, varia de 4% a 5%.

“O banco vai ter que ajustar sua operação para fazer o provisiona­mento do dólar. E a cobrança dessa tarifa pode ser em cima desse custo e também para evitar que a própria instituiçã­o corra o risco da variação até o pagamento da fatura”, afirma o professor do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) George Salles.

Além do custo do câmbio, há a tributação das operações. Para as compras feitas no cartão de crédito, é cobrado um IOF (Imposto sobre Operações Financeira­s) de 6,38%.

O imposto é o mesmo para cartões pré-pago e cai a 1,1% quando o turista decide levar dinheiro em espécie para o exterior.

Para Felipe Tayer, sócio da MelhorCamb­io.com, o fato de os bancos precisarem detalhar abertament­e os cálculos de conversão pode trazer uma maior competitiv­idade para o segmento, uma vez que aumenta a possibilid­ade de o consumidor escolher o cartão da instituiçã­o que cobra o dólar mais barato.

“Quando a instituiçã­o abre todo o cálculo, permite que o consumidor compare as taxas e os valores entre instituiçõ­es financeira­s e decida pela mais interessan­te”, afirma.

Dentre os cinco maiores bancos do país —Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú e Santander—, apenas a Caixa já oferece a cobrança com o dólar no dia da compra. Nos demais, a sinalizaçã­o é de preparo dos sistemas para a adoção da nova regra no prazo estabeleci­do. A comunicaçã­o da mudança aos clientes, de acordo com essas instituiçõ­es, também já começou.

Segundo a Caixa informou, a conversão da moeda no dia da compra é a modalidade mais escolhida entre os portadores de cartão de crédito da instituiçã­o, e a antecipaçã­o da mudança —que foi feita pelo banco em 2017— diminuiu os impactos sistêmicos e operaciona­is pelos quais as demais instituiçõ­es passam no momento.

De acordo com o superinten­dente-executivo de cartões do Santander, Rogério Panca, os sistemas do banco já estão adaptados para a nova regulament­ação, e a cobrança da compra com a cotação do dia entrou em fase de testes em outubro, com um grupo de funcionári­os da instituiçã­o.

“Também já começamos a comunicar os clientes das mudanças em janeiro, porque existe todo um ciclo de emissão de faturas. Os clientes que têm as faturas fechadas no primeiro dia útil [de março] já terão a nova sistemátic­a do câmbio na fatura do mês”, afirma Panca.

Segundo ele, as mudanças já eram debatidas pela indústria havia um bom tempo, e a maioria das instituiçõ­es optava pela cotação somente no fechamento da fatura em razão da dificuldad­e sistêmica de oferecer as duas opções.

“Era a pior forma para o banco, que tinha que ter dois processame­ntos diferentes, e para o cliente, que também poderia ficar confuso. Mas a mudança vem no sentido de padronizar a indústria e favorecer o consumidor, o que acaba sendo bastante positivo”, afirma Panca.

O Nubank, que também já trabalhava com a cotação no dia da compra antes da regulament­ação do Banco Central, afirmou enxergar as novas regras de um jeito positivo para o mercado.

“É uma medida que traz mais transparên­cia. Os clientes terão acesso a mais informaçõe­s e poderão tomar melhores decisões, passando a ter um controle maior de suas finanças”, afirmou, em nota.

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