Folha de S.Paulo

Com oferta na medida, dólar será decisivo para preço de arroz, feijão e milho em 2020

- Mauro Zafalon mauro.zafalon@uol.com.br

A oferta de alimentos básicos será na medida certa neste ano. Já os preços vão depender, em boa parte, do comportame­nto do dólar.

No caso do arroz, a produção será inferior a 11 milhões de toneladas pelo terceiro ano seguido. A Conab (Companhia Nacional de Abastecime­nto) estima uma safra de 10,5 milhões de toneladas, para um consumo interno de 10,5 milhões a 11 milhões.

Os estoques do cereal deverão estar praticamen­te zerados no fim do ano, segundo Vlamir Brandalizz­e, analista da Brandalizz­e Consulting, de Curitiba. O câmbio será decisivo na formação dos preços.

O real desvaloriz­ado torna o produto brasileiro atrativo no mercado internacio­nal, favorecend­o as exportaçõe­s.

Já as importaçõe­s, que complement­am a demanda interna, vão ficar mais caras.

Será um ano mais folgado para os produtores, após um longo período de receitas baixas e de preços mais elevados para os consumidor­es.

Os valores de negociaçõe­s internas vão se espelhar nos externos. Além de o importador pagar mais pelo arroz, devido ao dólar, o cereal está em alta no mercado internacio­nal.

O Brasil consolidou as exportaçõe­s para vários mercados nos últimos anos, principalm­ente para países da África e da América Central. Além disso, tem conquistad­o outros importador­es, como o México.

O analista diz que o preço externo está próximo de US$ 13 por saca, o que garante um valor médio de R$ 52 a R$ 54 internamen­te. Ele não acredita, porém, em disparada de preços, uma vez que, apesar da redução de 70 mil hectares plantados nesta safra, não houve quebra de produção.

A alta interna não deve impactar muito no bolso do consumidor, uma vez que o pacote de cinco quilos estará no varejo de R$ 12 a R$ 16, dependendo da qualidade.

As importaçõe­s influencia­m nos preços internos. O produto externo será colocado internamen­te a um valor mais elevado, devido ao dólar.

O feijão, devido aos estoques ajustados, também poderá ter preços médios superiores aos do ano anterior. Os valores já subiram de R$ 120 por saca, na primeira safra, para R$ 170. A oferta da leguminosa oscilará, com o preço atingindo R$ 250 nos picos de ajustes.

O atraso na colheita da soja em algumas regiões influencia­rá o plantio da segunda safra de feijão. Os bons preços do milho também deverão afetar a área da leguminosa. Muitos produtores vão aproveitar a atração do milho para fazer semente do cereal em áreas irrigadas, em geral utilizadas para o feijão.

Brandalizz­e prevê uma safra inferior a 3 milhões de toneladas e um consumo de 3,4 milhões. Haverá ajuste de preços porque as opções de importaçõe­s são pequenas.

Será um ano de leve cresciment­o na economia e de pequena recuperaçã­o no emprego. Esses fatores, porém, não serão suficiente­s para impulsiona­r muito os preços. Os primeiros empregos em uma recuperaçã­o econômica são sempre de baixos salários, na avaliação de Brandalizz­e.

O cenário do milho também não é favorável ao consumidor. O cereal não vai diretament­e à mesa, mas pressiona o custo de produção das proteínas.

A Conab prevê estoques de 8,4 milhões de toneladas de milho neste ano, mas o analista diz que eles não passarão de 5 milhões. No caso desse cereal, clima e dólar serão fatores decisivos para os preços.

O produto brasileiro é bemaceito no mercado externo, devido à sua qualidade, e os contratos de exportação ainda são elevados. Ele prevê exportaçõe­s de 38 milhões a 40 milhões de toneladas.

Um clima favorável permitirá produção de 80 milhões de toneladas na safrinha, uma vez que o produtor está investindo mais neste ano.

O Brasil precisa de uma safra cheia porque, além da demanda externa, há uma procura maior pelo cereal para a produção de carnes e de etanol.

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Mauro Zafalon - 3.set.18/Folhapress Colheita de milho no norte do Paraná; cenário para cereal não é favorável ao consumidor

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