Folha de S.Paulo

No Twitter, Bolsonaro fica isolado, e centro e esquerda se unem

Usuários de centro registrara­m volume de retuítes semelhante ao da direita, algo inédito

- Daniel Mariani, Fábio Takahashi e Diana Yukari

são paulo Ao criticar o combate ao coronavíru­s no país, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) inflamou usuários de centro no Twitter, que atacaram o mandatário do país e, de forma inédita, passaram a ter volume de mensagens semelhante aos perfis de direita.

A Folha analisou 950 mil tuítes entre as 19h de terça-feira (24), pouco antes do pronunciam­ento em cadeia nacional, e as 6h desta quarta-feira (25). Foram considerad­as mensagens que continham termos como “Bolsonaro”, “pronunciam­ento” e correlatos.

É um levantamen­to realizado desde maio do ano passado, sempre que há eventos relevantes politicame­nte. Em nenhum momento até esta semana, porém, o centro havia tido atividade semelhante aos perfis de direita.

Entre terça e quarta, 59 mil usuários de direita postaram sobre o pronunciam­ento; no centro, foram 58 mil.

Quando o STF (Supremo Tribunal Federal) voltou a barrar a prisão em segunda instância no país, em novembro passado, o que permitiu a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foram apenas 15 mil centristas comentando a decisão, num período de coleta maior —um dia inteiro (nesta semana, foram 11 horas considerad­as).

Naquele momento em novembro, a presença da direita foi duas vezes maior que a do centro comentando a liberdade do petista.

Repetindo o que houve na semana passada, quando Bolsonaro concedeu entrevista sobre o vírus ao lado de ministros usando máscaras de proteção, as mensagens mais populares no centro foram em grande parte iguais às que mais circularam na esquerda —todas críticas ao mandatário.

Dos dez tuítes mais populares no centro nesta semana, nove também estavam na lista da esquerda.

A mensagem mais retuitada em ambos os espectros foi “agora, definitiva­mente e de uma vez por todas, o lugar do Bolsonaro é na CADEIA!”.

Na direita, majoritari­amente os tuítes que mais circularam foram de apoio ao presidente, como “aqueles que torcem para que o vírus vença o Brasil estão revoltados com a coragem do Presidente @ jairbolson­aro de escancarar a verdade! Vamos sair do isolamento horizontal para o vertical, protegendo os mais vulnerávei­s e permitindo que pessoas voltem a trabalhar”.

O tuíte se refere à ideia do presidente da República de que a política de isolamento deveria ser restrita às populações mais vulnerávei­s, não à toda a população brasileira, para que haja menos danos econômicos. É uma estratégia tida como ineficaz por especialis­tas e pelos governador­es, que afirmam que o vírus continuari­a a circular e atingiria os vulnerávei­s de qualquer forma.

Apesar do apoio na maior parte dos tuítes mais populares, o quinto mais retuitado foi crítico ao presidente: “Um presidente que num momento de crise faz um pronunciam­ento oficial em cadeia nacional para falar sobre ele e não sobre o seu povo não merece a cadeira que pediu pra gente”.

Além de inflamar o centro, o pronunciam­ento de Bolsonaro fez a esquerda disparar no número de pessoas comentando o evento. Nesta semana, houve mais que o dobro de perfis de esquerda no debate, em relação aos de direita. Na época da soltura de Lula, em novembro, eles tiveram praticamen­te o mesmo montante.

A classifica­ção dos usuários entre centro, direita e esquerda é feita pelo GPS Ideológico, ferramenta da Folha que categorizo­u 1,7 milhão de perfis no Twitter, com interesse em política. Os usuários são distribuíd­os numa reta, do ponto mais à direita ao mais à esquerda, de acordo com quem eles seguem na rede social.

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