Folha de S.Paulo

Jogos perigosos

Japão adia Olimpíada; líderes que não agiram a tempo contra vírus correm riscos maiores

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Acerca de Olimpíada adiada e avanço do novo vírus.

Em decisão acertada, o Japão finalmente concordou em adiar os Jogos Olímpicos, que deveriam ocorrer em julho deste ano, por causa da pandemia de Covid-19. Cedeu à pressão de atletas, delegações, países e também da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS), a partir do imperativo da precaução em um panorama de incerteza global.

Mesmo que venha a prevalecer uma evolução menos catastrófi­ca da disseminaç­ão do coronavíru­s, seria inviável dar início ao evento dentro de apenas quatro meses.

Se em países da Ásia a primeira onda da doença parece já ter passado, em diversas partes do Ocidente os surtos epidêmicos apenas começam, e há a sensação de que poderão ser piores do que os registrado­s no Oriente.

É de sensação, de fato, que se trata; a esta altura, comparaçõe­s objetivas são precárias. Pode-se, claro, constatar a situação de extrema dificuldad­e por que passam os sistemas de saúde da Itália e da Espanha, contrastá-la com as condições mais favoráveis verificada­s no Japão ou na Alemanha e apontar que os dois últimos se saíram melhor.

Quem, porém, insistir em medidas numéricas, como total de casos e letalidade, esbarrará no problema da testagem. Como diferentes países aplicaram diferentes políticas de diagnóstic­os, que nem sequer foram uniformes numa mesma nação, as comparaçõe­s ficam seriamente comprometi­das.

Não obstante as dificuldad­es técnicas, um padrão que vai se consolidan­do é o de que líderes populistas apresentam-se como ameaças à saúde pública —tanto por atrasarem medidas quase consensual­mente apontadas pelos especialis­tas como necessária­s quanto por colocarem constantem­ente em dúvida as decisões já tomadas.

Os casos mais grotescos, sem dúvida, são os do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, à direita, e de seu congênere mexicano, Andrés Manuel López Obrador, conhecido como AMLO, à esquerda.

Outros líderes dessa variedade, como o americano Donald Trump, o britânico Boris Johnson e o turco Recep Tayyip Erdogan, flertaram longamente com a estratégia de isolar apenas a população mais vulnerável, idosos em especial.

Com isso, podem ter perdido tempo precioso de preparação e tornado a curva exponencia­l muito mais difícil de controlar agora.

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