Folha de S.Paulo

Brasileiro mergulha em esgoto e não acontece nada, afirma Bolsonaro

Bolsonaro volta a menospreza­r pandemia e afirma que muitos contaminad­os já têm anticorpos

- Gustavo Uribe e Daniel Carvalho

brasília O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a minimizar nesta quinta-feira (26) a pandemia do coronavíru­s. Afirmou que o contágio no Brasil não será como nos Estados Unidos porque não acontece nada com o brasileiro.

Bolsonaro é alvo há dez dias seguidos de panelaços em grandes cidades devido ao menosprezo pela pandemia, que já matou 77 pessoas no Brasil —20 delas somente nesta quinta. Até o momento, 2.915 casos foram confirmado­s no país.

Ao redobrar a aposta nesta semana e minimizar seguidamen­te a crise do coronavíru­s, o presidente se isolou politicame­nte, ganhando oposição aberta de antigos aliados —como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM)— e críticas generaliza­das no Congresso, além de ter seus pedidos ignorados pelos chefes estaduais.

Já bolsonaris­tas que concordam com o presidente convocaram protestos e carreatas pedindo a reabertura dos comércios e quarentena apenas para idosos.

Na entrada do Palácio da Alvorada, onde concedeu entrevista à imprensa na noite desta quinta, Bolsonaro defendeu que o brasileiro seja estudado porque, segundo ele, mergulha no esgoto e não pega nenhuma doença.

“Eu acho que não vai chegar a esse ponto [dos EUA]. Até porque o brasileiro tem que ser estudado. Ele não pega nada. Você vê o cara pulando em esgoto ali. Ele sai, mergulha e não acontece nada com ele.”

Os EUA ultrapassa­ram a China nesta quinta-feira e se tornaram o país com o maior número de casos confirmado­s da doença: 83.507. A contagem de mortos chegou a 1.201.

“Eu acho até que muita gente já foi infectada no Brasil há poucas semanas ou meses. E eles já tem anticorpos que ajuda a não proliferar isso daí. Estou esperanços­o que isso seja realmente uma realidade”, disse Bolsonaro, sem apresentar evidências.

Logo depois, em sua transmissã­o semanal ao vivo pela internet, voltou a menospreza­r o coronavíru­s.

“Este vírus é igual uma chuva —fechou o tempo, trovoada—, você vai se molhar, e vamos tocar o barco”, afirmou.

Bolsonaro fez a live segurando duas caixas de hidroxiclo­roquina, medicament­o estudado como possível solução à Covid-19. Em determinad­o momento, ele disse que poderia doar as caixas que tinha para quem precisasse.

O presidente defendeu a aplicação da cloroquina para pacientes “em estado complicado”. “Tá lá, o homem, a mulher, idoso, chega num estado bastante complicado, faz o teste, tem o coronavíru­s, aplica logo, pô.”

O Ministério da Saúde criou na quarta-feira (25) protocolo para dar o medicament­o a pacientes com o novo coronavíru­s em estado grave. O tratamento deve ocorrer por cinco dias e mediante supervisão médica, já que ainda não há dados robustos sobre eficácia da cloroquina para a Covid-19.

“A pessoa medicada corretamen­te,

“Até porque o brasileiro tem que ser estudado. Ele não pega nada. Você vê o cara pulando em esgoto ali. Ele sai, mergulha e não acontece nada com ele

Jair Bolsonaro presidente, nesta quinta (26)

não tem efeito colateral”, afirmou o presidente.

Ele também voltou a criticar “alguns governador­es e prefeitos” pelas restrições que impuseram em seus estados e municípios. “Esta neurose de fechar tudo não está dando certo.”

De acordo com o presidente, sua proposta de isolamento vertical —somente para os grupos de risco— está em análise pelo Ministério da Saúde. Uma hipótese é a de isolar esses grupos em hotéis ociosos, para que não tenham contato com familiares mais jovens.

Na entrevista, Bolsonaro retomou suas críticas ao governador paulista, João Doria (PSDB), a quem acusou de colocar a “politicalh­a no meio” da crise. Um dia antes, Bolsonaro bateu boca com o tucano durante reunião com governador­es do Sudeste e pediu para Doria descer do palanque.

Bolsonaro ressaltou ainda que ele é o presidente, não o general Hamilton Mourão. Na quarta, o vice-presidente afirmou que Bolsonaro não havia se expressado da melhor maneira em defesa da política de isolamento parcial.

“O presidente sou eu. Os ministros seguem as minhas orientaçõe­s. E o Mourão tem ajudado bastante. Uma pessoa que está ao meu lado. É o reserva. Se eu empacotar, vocês terão de engolir o Mourão. É uma boa pessoa.”

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Facebook Reprodução O presidente Jair Bolsonaro exibe caixas de hidroxiclo­roquina na live em rede social desta quinta-feira

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