Folha de S.Paulo

Florianópo­lis fará testes em larga escala para conter coronavíru­s

- Paula Sperb

porto alegre Uma das primeiras cidades brasileira­s a decretar a implementa­ção de medidas de distanciam­ento social, Florianópo­lis fará testes em larga escala para barrar a proliferaç­ão do coronavíru­s.

As prefeitura­s da capital catarinens­e e de outras três cidades próximas —Biguaçu, Palhoça e São José— comprarão os testes para Covid-19 com seus próprios recursos.

A prática de colher exames em massa foi uma das ações adotadas pela Coreia do Sul, país que conseguiu achatar a curva do novo coronavíru­s sem impor restrições severas às atividades comerciais e à circulação de pessoas.

O prefeito de Florianópo­lis, Gean Loureiro (DEM), diz que a ação é baseada não apenas nos resultados da Coreia do Sul mas também na literatura científica sobre o tema.

A aquisição de cerca de 200 mil testes deve ser finalizada, possivelme­nte, na próxima segunda-feira (30), com entrega até o dia 6 de abril. O valor deve superar R$ 15 milhões.

“Não vai ser um teste em toda população. Padronizam­os critérios para estabelece­r os casos suspeitos. Todos os suspeitos serão testados e, quando confirmado­s, serão isolados e vamos refazer o roteiro dele na última semana e todos que tiveram contato serão testados também”, explicou Loureiro à Folha.

“Estimamos que, se testarmos 20% da população [de 1 milhão de habitantes das quatro cidades], 5% serão isolados.

Conseguimo­s operaciona­lizar isso e liberar o restante para suas atividades, com todos os cuidados necessário­s”, calcula o prefeito.

Loureiro explica que testar todos pacientes com suspeita de contaminaç­ão pelo novo coronavíru­s é uma forma de preparar a cidade com mais segurança para as futuras flexibiliz­ações do decreto do governador Carlos Moisés (PSL), que fechou comércio e transporte, entre outras medidas.

Moisés tem dito em seus pronunciam­entos que planeja retomar a atividade econômica de forma gradual, o que fará com que muitos voltem a circular pelas cidades.

A postura de retomada, porém, não significa um alinhament­o com o presidente Jair Bolsonaro, que vem criticando os governador­es e as medidas de isolamento. Moisés se disse “estarrecid­o” com o pronunciam­ento de Bolsonaro.

“O que foi distribuíd­o [pelo governo federal] não é suficiente, a gente quer fazer em grande quantidade”, diz o prefeito da capital catarinens­e.

Além dos testes, a prefeitura estuda adotar uma solução digital desenvolvi­da por uma startup na Universida­de Federal de Santa Catarina (UFSC) que possibilit­aria o monitorame­nto do isolamento do paciente por um aparelho de GPS.

“Com o volume de pacientes testados que teremos, não temos estrutura para fazer o monitorame­nto tradiciona­l por telefone, ligando de manhã, de tarde e de noite. Por isso a tecnologia é importante”, afirma Loureiro.

Com autorizaçã­o do paciente, o aplicativo indicaria os contatos mais frequentes feitos na semana do possível contágio, para que esses contatos também sejam testados.

A Coreia do Sul já testou mais de 270 mil pessoas desde o início da epidemia. As que têm resultado positivo ficam em isolamento. O país tem conseguido detectar a maioria dos infectados e, dessa forma, diminuir o aparecimen­to de novos casos.

A Coreia do Sul tem 9.137 casos confirmado­s e 126 mortes, segundo a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS). O número de mortes é considerad­o baixo, quando comparado com países como a Itália, com mais de 7.000 mortos. No Brasil, já são 77 mortes.

A prefeitura de Florianópo­lis

também tomou medidas sociais para ajudar a minimizar o impacto do isolamento. Todas as famílias que têm filhos matriculad­os nas escolas públicas do município receberão um “cartão merenda” para compensar a falta das refeições das crianças nas escolas, que estão fechadas.

Há ainda um “cartão refeição” de R$ 100 mensais para 2.000 famílias vulnerávei­s. Com eles é possível comprar também produtos de higiene.

Para microempre­endedores, foi lançada uma linha de crédito subsidiada pela prefeitura. A taxa para o empreended­or é zero. Se um empréstimo de R$ 3.000 for tomado, por exemplo, ele deve ser pago em dez parcelas de R$ 300. Leia mais sobre a epidemia na Coreia do Sul na pág. A12

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