Folha de S.Paulo

Imprensa global vai para esculacho do ‘BolsoNero’

- Nelson de Sá

são paulo A resposta imediata ao novo pronunciam­ento do presidente Jair Bolsonaro, na cobertura externa, havia sido de cansaço, até constrangi­mento, com o brasileiro e sua mesmice retórica.

Do Wall Street Journal ao chinês Caixin, o jornalismo financeiro global nem sequer noticiou. “De novo”, registrara­m os títulos das agências, reproduzid­as pela maioria dos veículos. O New York Times, quando apareceu afinal com um texto próprio, evitou o nome de Bolsonaro nos enunciados e só foi mencioná-lo no segundo parágrafo.

Com a entrada das revistas, começou o sarcasmo. O título na inglesa The Economist, em sua edição impressa, foi “BolsoNero”, dizendo que o presidente “brinca” enquanto a pandemia avança sem controle no Brasil. Na alemã Der Spiegel, o enunciado foi “O último negacionis­ta”, mostrando que, da chanceler Angela Merkel ao primeiro-ministro indiano

Narendra Modi, todos passaram a defender o isolamento social, com exceção do brasileiro.

As comparaçõe­s com Donald Trump começaram a se perder, em parte porque este se conteve e, por exemplo, adotou distanciam­ento físico em entrevista­s —e vem evitando a expressão “vírus chinês”, de fato, como havia anunciado à Fox News.

Ainda assim, destacando que o brasileiro segue tentando “canalizar Trump”, o Washington Post também embarcou na ironia, com este primeiro parágrafo:

“Ele falou que o auto-isolamento era ‘confinamen­to em massa’. Chamou o novo coronavíru­s de ‘gripezinha’. Perguntou ‘por que fechar as escolas’ se só pessoas com mais de 60 estão sob risco. Este é Jair Bolsonaro, líder do maior país da América Latina.”

Ele se diferencia pelo discurso repetitivo e desbragado, mais para o radialista americano Rush Limbaugh, como apontou Tim Wu, professor da Universida­de Columbia, de Nova York —que considera o brasileiro “pior que Trump”.

A atenção, sobretudo nos tabloides pelo mundo, se volta agora à perda de poder efetivo do governo brasileiro, nem tanto para os governador­es estaduais, ao menos até o momento no noticiário, e mais para o crime organizado.

Vale tanto para o New York Post como para o também sensaciona­lista Global Times de Pequim e para a plataforma de notícias Baijiabao, do Baidu, o gigante chinês de buscas, com enunciados como “Lei da selva”.

Os cartazes com o “toque de recolher” nas favelas, por parte do Comando Vermelho e até do Bonde dos Malucos, se espalham pelo mundo.

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