Folha de S.Paulo

Brasileiro­s ficam presos em hostel no Peru após hóspedes terem Covid-19

- Flávia Mantovani

são paulo No começo, a maior dificuldad­e para voltar ao Brasil era a logística da chegada de aviões até Cusco, onde eles estão —o governo peruano fechou as fronteiras por causa da pandemia do coronavíru­s.

Mas, mesmo após a embaixada brasileira ter conseguido liberar a ida de algumas aeronaves de repatriaçã­o até o local, eles não puderam embarcar.

Cinco brasileiro­s estão neste momento isolados em um hostel cercado por barreiras na cidade peruana, com hóspedes doentes e ao menos dois com diagnóstic­o da Covid-19 confirmado, sem atendiment­o médico, sem poder sair sob o risco de prisão e sem saber quanto tempo permanecer­ão por lá. De acordo com eles, há uma centena de turistas na mesma situação.

O problema começou na segunda-feira (23), quando um hóspede mexicano avisou que tinha recebido o diagnóstic­o de coronavíru­s logo após voltar ao seu país.

Desde então, o governo do Peru cercou o hostel e proibiu os demais turistas de deixar o local. Até um representa­nte da Embaixada do Brasil que esteve no prédio foi impedido de entrar.

Dois hóspedes de outras nacionalid­ades fizeram exames e tiveram a confirmaçã­o de que estão infectados.

Sem saber se estão com o vírus, os brasileiro­s foram informados de que terão que ficar lá por período de um a três meses. “Eles já disseram que não vão testar todo mundo, então nós todos que estamos aqui somos considerad­os contaminad­os”, diz a analista de risco Natália Moreira dos Santos, 25.

Natural do interior de SP, ela parou em Cusco durante mochilão que faz pela América do Sul. Os cinco brasileiro­s não se conheciam antes, cada um viajava por sua conta.

Um vídeo gravado no local mostra um jovem argentino deitado, de máscara, relatando dor de cabeça, dor no corpo e falta de ar. “Nenhum

médico veio aqui”, diz Natália. “Meu maior medo é ficar doente e não ter socorro. Esse argentino não é de nenhum grupo de risco e está muito mal. Não teve nenhum atendiment­o.”

Na manhã desta quinta (26), após a primeira entrevista, ela avisou que começou a sentir sintomas. “É uma dor horrível no corpo, cabeça e no peito.” Outro brasileiro teria adoecido, diz ela.

Procurado pela Folha ,o Itamaraty informou que a embaixada em Lima tem conhecimen­to do caso e está em contato com os brasileiro­s retidos no hostel. “O isolamento determinad­o pelas autoridade­s peruanas deverá ser observado pelos nacionais. O Itamaraty busca soluções para o caso, respeitand­o as decisões do governo local, para que os brasileiro­s confinados possam retornar ao país o mais rapidament­e possível”, informou.

O hostel Pariwuana tem quartos individuai­s e coletivos, restaurant­e, bar e outras áreas comuns. Pelas novas regras, os hóspedes têm que ficar nos quartos a maior parte do tempo e só podem sair uma vez ao dia para as dependênci­as coletivas, sem se aproximar dos demais.

As refeições são feitas de dois em dois, mantendo distância. Segundo os relatos, estão sendo servidas algumas frutas no café da manhã e um almoço perto das 16h.

Os brasileiro­s também não sabem quem pagará pela estadia e pela comida durante esse período de isolamento. “A gente está no escuro. Não temos como pagar para ficar esse tempo a mais aqui. Tenho trabalho no Brasil, não posso ficar três meses longe. Está sendo muito estressant­e tudo isso”, diz Natália.

Segundo ela, o que eles reivindica­m não é deixar de fazer a quarentena. “Não queremos voltar para o Brasil de forma irresponsá­vel. Tanto que, antes de tudo isso, eu já havia avisado a embaixada da possibilid­ade de ter alguém infectado aqui”, afirma.

“O que a gente quer é assegurar nossos direitos básicos enquanto estivermos aqui.”

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Arquivo pessoal Acesso a hostel de Cusco está proibido

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