Folha de S.Paulo

Netanyahu fica perto de dividir mandato com rival

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são paulo e jerusalém | reuters O complicado xadrez político de Israel foi palco de nova reviravolt­a nesta quinta (26), numa manobra que pode dar sobrevida ao primeiro-ministro Binyamin Netanyahu.

Considerad­o o principal rival do premiê, o opositor Benny Gantz foi eleito presidente do Parlamento israelense, abrindo caminho para um governo de união entre os dois.

Caso o plano dê certo, será o fim de um impasse político que já dura 11 meses. Nesse período, o país passou por três eleições, mas nenhuma delas terminou com vencedor claro, o que dificultou a formação de governo com maioria no Knesset (o Parlamento).

A situação mudou, porém, com a atual crise causada pelo novo coronavíru­s, que aproximou os dois rivais. “Estes não são dias normais e exigem decisões especiais. Portanto, como já disse, pretendo examinar e buscar, de todas as maneiras, a criação de um governo de emergência nacional”, disse Gantz após ser eleito para comandar o Legislativ­o.

Israel tem até o momento 2.666 casos confirmado­s do vírus e 8 mortos, de acordo com a Universida­de Johns Hopkins. Por causa da situação, o governo ordenou que a população fique em casa.

A eleição para o comando do Knesset foi cercada de cuidados: cada deputado entrava sozinho, dava seu voto e saía.

Único candidato na disputa, Gantz foi eleito com 74 votos e com apoio do Likud, partido de Netanyahu. O ex-chefe do Exército israelense, no entanto, obteve apoio apenas parcial de sua própria coalizão, a Azul e Branco, que rachou.

Segundo as regras israelense­s, partidos podem se unir para disputar as eleições. É esse o caso da Azul e Branco, formada em fevereiro de 2019 por três legendas: o Partido da Resiliênci­a de Israel (de Gantz), o Yesh Atid e o Telem.

É essa aliança que agora está ameaçada. O número 2 da Azul e Branco e líder do Yesh Atid, Yair Lapid, disse que rejeita o acordo com Netanyahu e que sua sigla deve ir para a oposição. “O que está sendo formado hoje não é um governo de unidade nem um governo de emergência. É outro governo de Netanyahu. Benny Gantz se rendeu sem lutar”, disse Lapid.

Netanyahu, 70, e Gantz, 60, discutem dividir o mandato. Segundo o jornal The Times of Israel, o acordo em debate prevê que Netanyahu assuma o comando agora e fique até setembro de 2021. Enquanto isso, Gantz atuaria como ministro das Relações Exteriores e, na segunda etapa, premiê.

O acordo parecia descartado após a eleição de 2 de março. Netanyahu cantou vitória após o Likud ficar em primeiro, com 36 cadeiras —longe das 61 necessária­s para formar maioria entre os 120 deputados.

O premiê recebeu o apoio de outras siglas de direita e ultraortod­oxas, acumulando 58 deputados a seu lado.

Mas, duas semanas após o pleito, com apoio da esquerda, da coalizão árabe-israelense e do partido Israel Nossa Casa, Gantz obteve o apoio de 61 deputados e recebeu a incumbênci­a do presidente Reuven Rivlin de formar o governo.

Com a chance de perder o cargo que mantém há 11 anos, Netanyahu propôs o governo de união no combate ao coronavíru­s. Mas o acordo pode não prosperar, já que o premiê está sendo indiciado por três casos de corrupção.

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Jack Guez/AFP Benny Gantz (à esq.) e Binyamin Netanyahu, em cartaz na época da eleição em Israel, no início de março

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