Folha de S.Paulo

Início do 5G no Brasil depende de leilão e instalação de infraestru­tura

Tecnologia que deixa conexão mais rápida pode transforma­r a sociedade, afirmam especialis­tas

- Alexandre Orrico

são paulo Você entra em casa e as luzes acendem automatica­mente. A geladeira, conectada à internet, encomenda ao supermerca­do comida que estava faltando e a TV liga sozinha no seu canal preferido.

Parece coisa de filme, mas casas inteligent­es, antecipada­s há muitos anos, estão cada vez mais próximas e a tecnologia que pode difundi-las no Brasil e no mundo tem nome: 5G.

Mais do que mais velocidade (o 5G pode ser até dez vezes mais rápido do que o atual 4G), a rede tem uma novidade técnica importante: a baixa latência, que é o tempzzo que um pacote de dados demora para ir de um ponto a outro.

“Hoje a latência da rede 4G é de 40 milissegun­dos. Como referência, é metade do tempo que levamos para piscar os olhos. Parece rápido? Pois a nova rede 5G tem latência de apenas 4 milissegun­dos, extremamen­te importante para o funcioname­nto da telemedici­na ou de máquinas agrícolas conectadas, só para usar dois exemplos”, diz Paulo Bernardock­i, diretor de Produtos e Tecnologia da Ericsson.

Instrument­oscirúrgic­osmanusead­os à distância, processos industriai­s automatiza­dos e carros autônomos são, junto com as casas inteligent­es, parte do que o setor chama de “internet das coisas”, que nada mais é do que um termo para descrever uma sociedade verdadeira­mente conectada.

É o mundo pós-smartphone, onde mesmo uma cafeteira ou uma peça de roupa podem ter conexão à internet.

“Se o 4G trouxe a integração, com uma miríade de aplicativo­s e plataforma­s de mídias sociais, o 5G permitirá integrar “coisas”. Ou seja, sensores, dispositiv­os, câmeras, eletrodomé­sticos etc. farão parte da rede e do cotidiano das pessoas, ofertando serviços que ainda não existem justamente porque a infraestru­tura para isto ainda não é viável em larga escala”, diz Atila Branco diretor de redes da Vivo.

Se tudo correr conforme o planejado, o leilão da rede 5G no Brasil, que deve ser o maior da história da Anatel, acontece em novembro e pode movimentar R$ 20 bilhões.

Após o leilão, o início da implantaçã­o da infraestru­tura 5G deve começar em 2021. Três empresas estão na briga para a instalação dos equipament­os necessário­s: Eriscsson (Suécia), Huawei (China) e Nokia (Finlândia).

Mas antes disso, operadoras de telefonia como Claro, Oi, Vivo e TIM precisam disputar as radiofrequ­ências dedicadas à transmissã­o de dados por dispositiv­os móveis.

As licenças são para operar o serviço de 5G nas faixas de 700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz —frequência­s mais altas em comparação às que o 4G usa. Elas têm maior capacidade, mas menor alcance.

Para participar­em do leilão, as empresas têm que se compromete­r a investir na expansão da infraestru­tura de redes e absorver o custo de instalação de filtros para proteção do sinal de antenas parabólica­s de interferên­cias, que ocupam uma das faixas que serão utilizadas pela rede 5G.

A Anatel aprovou em fevereiro a versão preliminar do edital e abriu uma consulta pública, que ficará disponível para contribuiç­ões da sociedade até 2 de abril. Mas problemas burocrátic­os e detalhes técnicos podem adiar, mais uma vez, a implantaçã­o da tecnologia por aqui.

Em países como a Coreia do Sul, China e EUA, a internet 5G já é uma realidade desde o ano passado. “Tradiciona­lmente o Brasil é atrasado em comparação com outros países quando o assunto é implantaçã­o de novas tecnologia­s de telecomuni­cação. Isso vem desde o 2G, mas o atraso tem diminuído bastante do início dos anos 2000 para cá”, diz Nilo Pasquali, superinten­dente de Planejamen­to e Regulament­ação da Anatel.

O 3G, diz Pasquali, demorou mais de quatro anos para chegar ao Brasil. “Agora conseguimo­sreduzirop­razoparapo­uco mais de um ano. Tem outra questão também: a rede chega antes, é claro, nos países que são produtores de tecnologia”.

Paulo Bernardock­i, diretor de Produtos e Tecnologia da Ericsson, diz que também há muito marketing. “Muitos países se jogam nessa corrida de quem tem 5G ou de quem chegou primeiro mais para se promoverem”, diz.

Especialis­tas avaliam que os primeiros produtos com 5G devem chegar ao Brasil neste Natal, mas de maneira tímida, como propaganda.

Sobre quando podemos esperar uma cobertura consistent­e nacional de 5G no Brasil, os especialis­tas ouvidos pela Folha dizem que vai depender do mercado. “Já são mais de 4.000 municípios com 4G”, diz Pasquali, da Anatel, sobre uma expansão que demorou cerca de sete anos para acontecer. Ao todo há 5.571 municípios no país.

Por conta de particular­idades técnicas e necessidad­e de instalação de mais antenas, a difusão do 5G deve demorar tanto ou mais tempo para se espalhar pelo Brasil. Só então a internet das coisas, como uma casa cheia de eletrodomé­sticos conectados, poderá se tornar comum por aqui.

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 ?? Remko De Wall - 25.jan.20/ANP/AFP ?? Manifestan­te em Amsterdã no primeiro protesto global contra o 5G
Remko De Wall - 25.jan.20/ANP/AFP Manifestan­te em Amsterdã no primeiro protesto global contra o 5G
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Xiao Yijiu - 4.mar.20/Xinhua Técnico ajusta conversor de sinal 5G em hospital de Wuhan, na China

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